São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2008

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Pequim-2008 vai superar todos, crê cineasta de 7 Jogos

Bud Greenspan servirá de consultor do filme oficial, além de ser voluntário da Olimpíada que começa em 8 de agosto

Responsável pelo vídeo da candidatura chinesa defende o revezamento de sedes, pois "há mais no mundo que América do Norte e Europa"


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A imagem não saía de sua cabeça. Voando rumo a Pequim, Bud Greenspan só conseguia imaginar centenas de milhares de pessoas de olhos puxados para lá e para cá com bicicletas.
O estereótipo, porém, foi quebrado no primeiro contato. O americano encontrou um país em crescimento, ambicioso, mas ainda inseguro sobre a capacidade de ganhar o direito de sediar o maior evento multiesportivo do mundo. Dois votos decretaram que a China ainda não estava pronta em 93.
Quase sete anos depois, Greenspan voltou a Pequim, de novo para auxiliar o país a vencer a disputa pela sede olímpica. Como antes, coube a ele ajudar a fazer o filme de propaganda exibido ao Comitê Olímpico Internacional. Dessa vez, os chineses estavam prontos.
Greenspan viu de perto a preparação para o evento de 8 de agosto. Crê que a China irá impressionar o mundo. Como nenhum outro país o fez.
A avaliação é do documentarista responsável por sete filmes oficiais de Jogos Olímpicos, ganhador de sete prêmios Emmy, que acompanha o olimpismo desde 1966, quando gravou seu primeiro filme.
"No começo, os chineses nos perguntavam se podiam ganhar o direito de receber os Jogos. Depois, estavam inseguros se conseguiriam organizá-los. Agora, tenho certeza de que estão prontos. Eles vão engolir todo mundo", disse Greenspan, 81, à Folha, por telefone.
Por ser sede da Olimpíada, a China terá atletas em todas as provas e se prepara com esmero para tentar superar os EUA no quadro de medalhas -em Atenas-2004, conquistou quatro ouros a menos.
"Eles só não vão matar por isso. Nos EUA, há um ditado que diz que ninguém se lembra do segundo colocado. Acho que eles o conhecem", brincou.
A voz trêmula e os efeitos do Parkinson dificultam a conversa. Várias frases e idéias são completadas por Nancy Beffa, sua produtora há 33 anos.
Por causa da doença e de uma pneumonia que o deixou seis meses na cama, não comandará o filme oficial de Pequim. Mas será consultor dos chineses e rodará um pequeno documentário para os EUA. É também voluntário dos Jogos.
Seu olhar sobre os chineses, crê, ajudou na conquista da sede olímpica. Na película exibida ao COI, não falou de questões como direitos humanos, calcanhar-de-aquiles do país.
"A chave foi apresentar o povo chinês aos EUA e ao mundo de uma forma diferente da que foi mostrada pela mídia durante a última década ou mais. Eles são bons seres humanos, grandes atletas, responsáveis, cordiais e lutadores", disse ele.
"Não toquei em questões de direitos humanos porque a mídia já o faz. Sabemos das falhas deles, mas não creio que seja justificativa para boicotes. Há problemas, mas há uma frase que guardei que diz: é melhor construir pontes do que erguer muros. Acho que é isso. A Olimpíada pode ajudar a transformar algo na China. Boicote não leva a lugar nenhum, como vimos em Los Angeles [em 1984] e Moscou [em 1980]."
Greenspan avalia que o sucesso dos Jogos será usado pelo governo comunista como propaganda de sua força. Diz, porém, não ter sido vítima de intervenção em seu trabalho.
Na última semana, artistas e intelectuais se manifestaram contra a posição na China em relação aos conflitos no Sudão. Steven Spielberg deixou o evento. Ganhadores do Nobel fizeram abaixo-assinado. O país é alvo de críticas sobre omissões em relação a liberdade de imprensa, direitos humanos e preservação do ambiente.
"Tem outra razão pela qual apoiamos a Olimpíada na China. Achamos que os Jogos devem ocorrer no mundo inteiro, não em revezamento entre América do Norte e Europa. Há mais no mundo. O Rio se preparou bem para o Pan e um dia quer a Olimpíada. Por que não?", questionou Nancy.
Uma das preocupações da dupla é não fazer filmes só sobre os vencedores, as estrelas. Dizem que, às vezes, o último colocado é quem tem a melhor história e que conhecê-la pode ajudar as pessoas a serem melhores do que são hoje.
"Na primeira vez que fui a Pequim, achei que haveria só bicicletas, mas eles têm grandes hotéis, lindas arenas e vontade. Podem receber os Jogos. E muitos querem isso para abrir o país e deixar que as pessoas cheguem para ensiná-los também. Querem que o mundo vá a Pequim", disse Greenspan.


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