|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pequim-2008 vai superar todos, crê cineasta de 7 Jogos
Bud Greenspan servirá de consultor do filme oficial, além de ser voluntário da Olimpíada que começa em 8 de agosto
Responsável pelo vídeo da candidatura chinesa defende o revezamento de sedes,
pois "há mais no mundo que América do Norte e Europa"
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A imagem não saía de sua cabeça. Voando rumo a Pequim,
Bud Greenspan só conseguia
imaginar centenas de milhares
de pessoas de olhos puxados
para lá e para cá com bicicletas.
O estereótipo, porém, foi
quebrado no primeiro contato.
O americano encontrou um
país em crescimento, ambicioso, mas ainda inseguro sobre a
capacidade de ganhar o direito
de sediar o maior evento multiesportivo do mundo. Dois votos decretaram que a China
ainda não estava pronta em 93.
Quase sete anos depois,
Greenspan voltou a Pequim, de
novo para auxiliar o país a vencer a disputa pela sede olímpica. Como antes, coube a ele ajudar a fazer o filme de propaganda exibido ao Comitê Olímpico
Internacional. Dessa vez, os
chineses estavam prontos.
Greenspan viu de perto a
preparação para o evento de 8
de agosto. Crê que a China irá
impressionar o mundo. Como
nenhum outro país o fez.
A avaliação é do documentarista responsável por sete filmes oficiais de Jogos Olímpicos, ganhador de sete prêmios
Emmy, que acompanha o olimpismo desde 1966, quando gravou seu primeiro filme.
"No começo, os chineses nos
perguntavam se podiam ganhar o direito de receber os Jogos. Depois, estavam inseguros
se conseguiriam organizá-los.
Agora, tenho certeza de que estão prontos. Eles vão engolir
todo mundo", disse Greenspan,
81, à Folha, por telefone.
Por ser sede da Olimpíada, a
China terá atletas em todas as
provas e se prepara com esmero para tentar superar os EUA
no quadro de medalhas -em
Atenas-2004, conquistou quatro ouros a menos.
"Eles só não vão matar por
isso. Nos EUA, há um ditado
que diz que ninguém se lembra
do segundo colocado. Acho que
eles o conhecem", brincou.
A voz trêmula e os efeitos do
Parkinson dificultam a conversa. Várias frases e idéias são
completadas por Nancy Beffa,
sua produtora há 33 anos.
Por causa da doença e de
uma pneumonia que o deixou
seis meses na cama, não comandará o filme oficial de Pequim. Mas será consultor dos
chineses e rodará um pequeno
documentário para os EUA. É
também voluntário dos Jogos.
Seu olhar sobre os chineses,
crê, ajudou na conquista da sede olímpica. Na película exibida ao COI, não falou de questões como direitos humanos,
calcanhar-de-aquiles do país.
"A chave foi apresentar o povo chinês aos EUA e ao mundo
de uma forma diferente da que
foi mostrada pela mídia durante a última década ou mais.
Eles são bons seres humanos,
grandes atletas, responsáveis,
cordiais e lutadores", disse ele.
"Não toquei em questões de
direitos humanos porque a mídia já o faz. Sabemos das falhas
deles, mas não creio que seja
justificativa para boicotes. Há
problemas, mas há uma frase
que guardei que diz: é melhor
construir pontes do que erguer
muros. Acho que é isso. A
Olimpíada pode ajudar a transformar algo na China. Boicote
não leva a lugar nenhum, como
vimos em Los Angeles [em
1984] e Moscou [em 1980]."
Greenspan avalia que o sucesso dos Jogos será usado pelo
governo comunista como propaganda de sua força. Diz, porém, não ter sido vítima de intervenção em seu trabalho.
Na última semana, artistas e
intelectuais se manifestaram
contra a posição na China em
relação aos conflitos no Sudão.
Steven Spielberg deixou o
evento. Ganhadores do Nobel
fizeram abaixo-assinado. O
país é alvo de críticas sobre
omissões em relação a liberdade de imprensa, direitos humanos e preservação do ambiente.
"Tem outra razão pela qual
apoiamos a Olimpíada na China. Achamos que os Jogos devem ocorrer no mundo inteiro,
não em revezamento entre
América do Norte e Europa. Há
mais no mundo. O Rio se preparou bem para o Pan e um dia
quer a Olimpíada. Por que
não?", questionou Nancy.
Uma das preocupações da
dupla é não fazer filmes só sobre os vencedores, as estrelas.
Dizem que, às vezes, o último
colocado é quem tem a melhor
história e que conhecê-la pode
ajudar as pessoas a serem
melhores do que são hoje.
"Na primeira vez que fui a
Pequim, achei que haveria
só bicicletas, mas eles têm
grandes hotéis, lindas arenas e vontade. Podem receber os Jogos. E muitos
querem isso para abrir o
país e deixar que as
pessoas cheguem para
ensiná-los também.
Querem que o mundo vá a Pequim", disse Greenspan.
Texto Anterior: Atletismo: Isinbayeva derruba recorde pela 21ª vez Próximo Texto: Adhemar e Pessoa devem estar em cena Índice
|