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FUTEBOL
Ô, raça (humana)
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
O assunto é velho, mas me
lembrei dele com o relançamento de "O Negro no Futebol",
de Mario Filho.
Anos atrás houve uma confusão
com Paulo Nunes, que teria chamado Rincón de macaco durante
um entrevero em campo. No final
do último Brasileiro, Deivid e Kléber disseram ter sido ofendidos de
maneira semelhante por Diego.
Paulo Nunes e Diego são racistas?
Os dois (e seus amigos negros) garantiram que não. Eu acredito.
Na hora da raiva, todo mundo
procura palavras sujas, ofensivas,
degradantes. Há nomes de animais de todos os tipos: baleia, vaca, cachorro, veado... Cada um
com seu alvo certo: "adianta"
chamar de vaca gorda a vizinha
magricela? Não, é preciso dizer
que ela é uma lombriga ou barata
amassada (não é uma sugestão!).
Eu confesso: às vezes xingo, a sério ou de brincadeira, alguém de
"veado". Não tenho nada contra
a homossexualidade (aliás, acho
que nem cabe ser "contra" ou "a
favor") e não uso a ofensa com a
intenção de depreciar homossexuais. Como um amigo meu que é
gay e reclama do excesso de frescuras dizendo: "Depois eu é que
sou veado!". (Mas outros amigos
gays e militantes antipreconceito,
não se conformam com o Jabor
dizendo "isso é veadagem" ou
"coisa de veado" em algumas críticas no Manhattan Connection.
Ou seja, me criticariam também.)
Prossigamos. Se um jogador
xinga o outro de filho-da-puta,
não quer dizer que tenha restrições à mãe dele. Ou às putas, para
falar a verdade. Mas cada povo
tem seu tabu, e essa é uma ofensa
consagrada por aqui ("Consagrada", que heresia!).
Chamar um negro de "macaco"
é usar uma linguagem podre
-tanto quanto chamar um gordo de "baleia", não? É associar a
imagem de uma pessoa a um animal com intenções depreciativas.
Mas, embora os gordos sofram
com preconceito (de preconceitos
a raça humana tem fartura indigesta), a história dos negros é
pior. O caso é mais grave porque,
em função de erros criminosos e
ignorâncias históricas, negros são
mesmo considerados "seres inferiores" por muitos, que os ofenderiam com frieza e convicção.
Assim, é claro que a ofensa é racista (embora nossa "raça" seja ,
na verdade, uma só). Mas talvez o
seu autor não seja racista. Mal-educado, grosseiro, estúpido, sim
-mas talvez não racista. Só que
não adianta tentar provar a falta
de preconceito dizendo "eu tenho
amigos negros". Porque nossos
preconceitos sempre têm exceções, parêntesis, preferências. Não
há um membro da Ku Klux Klan
que é fã de Tiger Woods? Claro
que essa primeira quebra no conceito de que "nenhum presta" deveria servir para derrubar toda a
barreira de ignorância, mas nem
sempre é assim que funciona.
Ainda temos que comer/repartir muito feijão-com-arroz para
sanar o problema. Enquanto negros forem metade da população
e minoria nas representações, enquanto forem os primeiros suspeitos e os últimos absolvidos, não
poderemos dizer que o Brasil não
tem racismo. Xingar no jogo é
menos do que a ponta do iceberg.
Preto no branco
Resumindo esse samba de
crioula doida: o sujeito pode até
ter amigos negros e ser racista.
Outro pode até xingar o adversário de macaco e não ser. Mas
se é uma filha minha que xinga
alguém desse jeito, eu acabo
com a raça dela.
Lesado
Que o Guarani foi beneficiado
com a inclusão na A-1 do Paulista, foi. Mas que foi lesado
com a desclassificação na Copa
do Brasil por um erro que não
era seu, ah isso foi também. E
muito. Como a CBF pode ser
tão incompetente? Por que há
tantas controvérsias sobre
quem tem condição de jogo?
Acabou
O site futbrasil.com fechou.
Que pena! Era bom e bonito.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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