São Paulo, domingo, 17 de abril de 2005

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FUTEBOL

Presidente do Quilmes diz que jornalista e comerciante trocaram abraços com policiais e comeram pizza na delegacia

Amigos de Grafite foram testemunhas

KLEBER TOMAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Duas pessoas ligadas ao atacante Grafite, 26, do São Paulo, foram suas testemunhas no boletim de ocorrência feito no 34º Distrito Policial que resultou no indiciamento do zagueiro argentino Leandro Desábato, 26, do Quilmes, sob acusação de crime de injúria qualificada.
Especialistas ouvidos pela Folha dizem que a lei não veta amigos de serem testemunhas de acusação, mas, conforme o caso, a defesa pode usar isso para questionar a idoneidade dos testemunhos.
Coincidentemente, ontem o presidente do Quilmes, Daniel Razetto, declarou ao diário argentino "Clarín" que as testemunhas de Grafite -o jornalista Fábio de Freitas, o Bolla (assessor de imprensa do atacante), e o comerciante Eduardo Sorrentino (amigo do são-paulino) -comiam pizza e trocavam abraços com policiais que estavam na delegacia, na madrugada da última quinta-feira, dia da ocorrência.
"Vieram aos abraços e comeram pizza com os policiais. Tiramos as fotos disso com nossos celulares", disse Razetto, que, como outros cartolas da equipe e também os jogadores, considera uma armação a prisão de Desábato.
"Cada vez fica mais claro que essa história estava orquestrada e que se aproveitaram do Quilmes porque é uma equipe jovem", declarou o volante Almeyda, após chegar na Argentina.
"Quando chegamos ao estádio havia bandeiras contra o racismo. E alguns jogadores usavam pulseirinhas contra o racismo", acrescentou o goleiro Pontirolli.
Razetto fez ainda outra acusação. "As testemunhas admitiram não ter ido ao campo. Disseram que estavam vendo a partida pela televisão e que haviam decifrado os insultos racistas através do movimento de lábios de Desábato." Essa versão consta no inquérito.
Cristiano Maronna, advogado do argentino, disse desconhecer a declaração de Razetto, mas adiantou que "a análise da legalidade da ação policial cabe aos órgãos competentes, como Corregedoria da Polícia e Ministério Público".
As testemunhas negaram a versão da pizza. "O único que comeu na delegacia foi o Desábato: esfihas. Ainda tomou uma garrafa de soda", disse Bolla, que admitiu ter cumprimentado os policiais.
"Como comer pizza numa situação daquelas? Também não abracei homem. Eu gosto é de mulher", declarou Sorrentino.
Guaracy Moreira Filho, delegado titular do 34º DP, recebeu com tranqüilidade a acusação de Razetto. "Isso é besteira. Agora vem esse presidente e fala isso", defende Guaracy, que não estava na delegacia na ocorrência, feita pelo plantonista Roberto Moraes.
Desábato chegou anteontem a Buenos Aires, depois de ficar pouco mais de 36 horas preso. Ele foi enquadrado no artigo 140 parágrafo 3º, do Código Penal, que prevê pena de reclusão de um a três anos e multa. Segundo depoimento de Grafite à polícia, Desábato o chamou de "negro de merda, filho-da-puta, negrinho".
Desábato negou, mas admitiu ter sugerido que o atacante pegasse "a banana e enfiasse no c..." -teriam lhe dito que o são-paulino celebraria com gesto de "banana" caso fizesse gol no Quilmes.

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