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Governo ignora ativistas e descarta boicote à China
Para Itamaraty, Olimpíada deve ser vista como evento sem conotação política
República Tcheca, último país visitado pelo presidente
Lula, aderiu ontem a boicote à festa de abertura proposto
por ativistas humanitários
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O governo brasileiro descarta um boicote à abertura dos
Jogos de Pequim. A idéia, lançada por ativistas de direitos
humanos, tem conquistado cada vez mais adeptos, entre eles
o Parlamento Europeu, que na
semana passada aprovou resolução pedindo aos líderes do
continente que se ausentem da
cerimônia em protesto contra a
repressão chinesa no Tibete.
Para o Itamaraty, no entanto,
a Olimpíada deve ser vista como um evento sem conotação
política. Consultado pela Folha, o chanceler Celso Amorim
deixou claro que o boicote não
faz parte dos planos do governo. "A Olimpíada é um assunto
esportivo", justificou Amorim
em Praga, durante a visita do
presidente Lula à capital tcheca, no último fim de semana.
Ainda em Praga, o assessor
internacional do presidente,
Marco Aurélio Garcia, confirmou que Lula não estará na
abertura dos Jogos, em 8 de
agosto, mas disse que o motivo
não é político. "A presença do
presidente nunca chegou a ser
cogitada", afirmou Garcia.
Segundo o Itamaraty, ainda
não foi definido quem representará o Brasil na cerimônia.
Por coincidência, o país que
recebeu Lula em sua última visita internacional tornou-se
ontem o mais novo adepto do
boicote. O premiê Mirek Topolanek disse que não verá à abertura porque não quer participar de um ato para celebrar "o
poderio e a grandeza da China
comunista". A Polônia é outro
país que apóia o boicote.
A chanceler da Alemanha,
Angela Merkel, e o premiê britânico, Gordon Brown, também já disseram que não comparecerão. O presidente da
França, Nicolas Sarkozy, ameaça fazer o mesmo caso a China
não tente acordo com o dalai-lama, líder espiritual do Tibete.
A maioria dos países, entretanto, prefere separar política
de esporte para resguardar
suas relações com a China. O
chanceler francês, Bernard
Kouchner, admitiu recentemente que a economia vem antes dos direitos humanos quando o tema é o gigante asiático.
Mas enxergar a Olimpíada só
como evento esportivo, como
faz o Brasil, é saída cômoda para uma questão política. Essa é
a opinião do presidente na Suíça da Repórteres Sem Fronteira, ONG que lançou a campanha pelo boicote à abertura.
"Separar esporte e política
em uma Olimpíada é um sonho
impossível e um equívoco",
afirmou Gerald Sapey à Folha.
"Não faltam exemplos disso,
como os Jogos de 1936, em
Berlim, patrocinados pelos nazistas, e a Olimpíada de Moscou, em 1980, boicotada por
iniciativa dos americanos."
A posição nacional não chega
a causar surpresa entre ativistas brasileiros. "Não esperava
que o Brasil agisse diferente",
disse Oscar Vilhena Vieira, diretor jurídico da Conectas Direitos Humanos. "No âmbito
do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Brasil tem se
esquivado de condenar as violações cometidas pela China."
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