São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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Governo ignora ativistas e descarta boicote à China

Para Itamaraty, Olimpíada deve ser vista como evento sem conotação política

República Tcheca, último país visitado pelo presidente Lula, aderiu ontem a boicote à festa de abertura proposto por ativistas humanitários

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O governo brasileiro descarta um boicote à abertura dos Jogos de Pequim. A idéia, lançada por ativistas de direitos humanos, tem conquistado cada vez mais adeptos, entre eles o Parlamento Europeu, que na semana passada aprovou resolução pedindo aos líderes do continente que se ausentem da cerimônia em protesto contra a repressão chinesa no Tibete.
Para o Itamaraty, no entanto, a Olimpíada deve ser vista como um evento sem conotação política. Consultado pela Folha, o chanceler Celso Amorim deixou claro que o boicote não faz parte dos planos do governo. "A Olimpíada é um assunto esportivo", justificou Amorim em Praga, durante a visita do presidente Lula à capital tcheca, no último fim de semana.
Ainda em Praga, o assessor internacional do presidente, Marco Aurélio Garcia, confirmou que Lula não estará na abertura dos Jogos, em 8 de agosto, mas disse que o motivo não é político. "A presença do presidente nunca chegou a ser cogitada", afirmou Garcia.
Segundo o Itamaraty, ainda não foi definido quem representará o Brasil na cerimônia.
Por coincidência, o país que recebeu Lula em sua última visita internacional tornou-se ontem o mais novo adepto do boicote. O premiê Mirek Topolanek disse que não verá à abertura porque não quer participar de um ato para celebrar "o poderio e a grandeza da China comunista". A Polônia é outro país que apóia o boicote.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o premiê britânico, Gordon Brown, também já disseram que não comparecerão. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, ameaça fazer o mesmo caso a China não tente acordo com o dalai-lama, líder espiritual do Tibete.
A maioria dos países, entretanto, prefere separar política de esporte para resguardar suas relações com a China. O chanceler francês, Bernard Kouchner, admitiu recentemente que a economia vem antes dos direitos humanos quando o tema é o gigante asiático.
Mas enxergar a Olimpíada só como evento esportivo, como faz o Brasil, é saída cômoda para uma questão política. Essa é a opinião do presidente na Suíça da Repórteres Sem Fronteira, ONG que lançou a campanha pelo boicote à abertura.
"Separar esporte e política em uma Olimpíada é um sonho impossível e um equívoco", afirmou Gerald Sapey à Folha.
"Não faltam exemplos disso, como os Jogos de 1936, em Berlim, patrocinados pelos nazistas, e a Olimpíada de Moscou, em 1980, boicotada por iniciativa dos americanos."
A posição nacional não chega a causar surpresa entre ativistas brasileiros. "Não esperava que o Brasil agisse diferente", disse Oscar Vilhena Vieira, diretor jurídico da Conectas Direitos Humanos. "No âmbito do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Brasil tem se esquivado de condenar as violações cometidas pela China."


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