|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Paulista usa hipnose e foge do descenso
Neurolinguista põe jogadores para andar sobre cacos de vidro para resgatar autoconfiança e deixar rabeira do Estadual
Corinthians e Palmeiras caíram diante do time de Jundiaí após trabalho de Olimar Tesser; atletas dizem agora "crer no impossível"
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo abatidos pela lanterna no Estadual, ao serem questionados sobre o que fariam para fugir do rebaixamento, jogadores do Paulista de Jundiaí
responderam "qualquer coisa".
"Até mesmo andar sobre cacos de vidro?", perguntou Olimar Tesser, 42, especialista em
hipnose e neurolinguística.
"Claro que sim." "Lógico".
"Mas, quando o Olimar abriu
um tapete de cerca de dois metros e espalhou os cacos de vidro, pelo menos meia dúzia já
deu uma titubeada. Diziam "tô
fora". Inclusive eu", conta o volante Rai, que defendeu o time
de Jundiaí no Estadual.
No fim, seguindo, literalmente, os passos do treinador
Wagner Lopes, que foi o primeiro a passar, os jogadores,
um a um, percorreram o tapete.
"Quando vi os colegas, até fiquei mais animado, mas quando chegou a minha vez, deu certo medo", relembra Rai, 25.
As orientações, de maneira
geral, eram para que os jogadores visualizassem, em um ponto distante no horizonte, um
objetivo que quisessem muito
alcançar, se concentrassem totalmente nele, caminhassem
lentamente em sua direção,
não olhassem para baixo ou
pensassem nos cacos de vidro.
"Antes, para muitos jogadores, enfrentar Santos ou Corinthians era o mesmo que caminhar sobre os cacos de vidro, algo impossível", compara Rai.
Tesser iniciou seu trabalho
no Paulista em 3 de março, véspera do duelo com o Santos. A
equipe, então última colocada
no Estadual com oito pontos,
foi batida, o que se repetiu nas
duas partidas seguintes. Mas os
atletas, aos poucos, passaram a
demonstrar nova atitude.
O tapete de vidro foi apenas o
cartão de apresentação de Tesser, que jogou futebol: teve passagens por Corinthians e Palmeiras como juvenil e, no profissionalismo, por Comercial,
Botafogo-SP, Oeste, Grêmio, de
Bagé, e Fluminense, de Minas.
Houve também outros tipos
de trabalho, que envolveram a
hipnose, como uma dinâmica
de grupo em forma de karaokê.
Um sintoma da melhora do
grupo ocorreu no duelo com o
Grêmio Prudente, em 13 de
março, quando Baiano fez gol
do meio-campo ao perceber o
goleiro adiantado. O lance ganhou bom destaque na mídia.
"Fomos ganhando confiança,
nosso jogo ficou mais ofensivo.
Você viu que, contra o Corinthians, jogamos de igual para
igual, sem querer saber se tinham o Ronaldo, o Roberto
Carlos...", afirma Rai, ao se referir ao quinto jogo desde que
Tesser passou a trabalhar em
regime diário com o grupo.
A vitória sobre o Corinthians,
em 24 de março, é apontada como o jogo em que a equipe do
Parque São Jorge deixou escapar a chance de ir às semifinal e
aquele em que o Paulista afastou o risco de rebaixamento.
Para selar o bom momento,
em sua última partida no Paulista, a equipe fez 3 a 1 sobre um
outro grande, o Palmeiras.
Ao ser questionado sobre o fracasso do Brasil em Sydney-00, quando a delegação contou
com o neurolinguista Roberto
Shinyashiki, que orientou desportistas a caminhar sobre brasas, Tesser não comentou o episódio. Só fez comentário geral.
"O psicológico é uma perna
do tripé. Tem que haver equilíbrio com as partes técnica e física. Eu pude trabalhar de perto com o elenco, não tive de lidar com centenas de atletas."
FOLHA ONLINE
Confira galeria de fotos da
sessão de hipnose
www.folha.com.br/101064
Texto Anterior: São Paulo: Ricardo Gomes agora acena com Washington na reserva Próximo Texto: Depoimento: Repórter é hipnotizado e anda no vidro Índice
|