São Paulo, sábado, 17 de abril de 2010

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Paulista usa hipnose e foge do descenso

Neurolinguista põe jogadores para andar sobre cacos de vidro para resgatar autoconfiança e deixar rabeira do Estadual

Corinthians e Palmeiras caíram diante do time de Jundiaí após trabalho de Olimar Tesser; atletas dizem agora "crer no impossível"

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo abatidos pela lanterna no Estadual, ao serem questionados sobre o que fariam para fugir do rebaixamento, jogadores do Paulista de Jundiaí responderam "qualquer coisa".
"Até mesmo andar sobre cacos de vidro?", perguntou Olimar Tesser, 42, especialista em hipnose e neurolinguística.
"Claro que sim." "Lógico".
"Mas, quando o Olimar abriu um tapete de cerca de dois metros e espalhou os cacos de vidro, pelo menos meia dúzia já deu uma titubeada. Diziam "tô fora". Inclusive eu", conta o volante Rai, que defendeu o time de Jundiaí no Estadual.
No fim, seguindo, literalmente, os passos do treinador Wagner Lopes, que foi o primeiro a passar, os jogadores, um a um, percorreram o tapete.
"Quando vi os colegas, até fiquei mais animado, mas quando chegou a minha vez, deu certo medo", relembra Rai, 25.
As orientações, de maneira geral, eram para que os jogadores visualizassem, em um ponto distante no horizonte, um objetivo que quisessem muito alcançar, se concentrassem totalmente nele, caminhassem lentamente em sua direção, não olhassem para baixo ou pensassem nos cacos de vidro.
"Antes, para muitos jogadores, enfrentar Santos ou Corinthians era o mesmo que caminhar sobre os cacos de vidro, algo impossível", compara Rai.
Tesser iniciou seu trabalho no Paulista em 3 de março, véspera do duelo com o Santos. A equipe, então última colocada no Estadual com oito pontos, foi batida, o que se repetiu nas duas partidas seguintes. Mas os atletas, aos poucos, passaram a demonstrar nova atitude.
O tapete de vidro foi apenas o cartão de apresentação de Tesser, que jogou futebol: teve passagens por Corinthians e Palmeiras como juvenil e, no profissionalismo, por Comercial, Botafogo-SP, Oeste, Grêmio, de Bagé, e Fluminense, de Minas.
Houve também outros tipos de trabalho, que envolveram a hipnose, como uma dinâmica de grupo em forma de karaokê.
Um sintoma da melhora do grupo ocorreu no duelo com o Grêmio Prudente, em 13 de março, quando Baiano fez gol do meio-campo ao perceber o goleiro adiantado. O lance ganhou bom destaque na mídia.
"Fomos ganhando confiança, nosso jogo ficou mais ofensivo.
Você viu que, contra o Corinthians, jogamos de igual para igual, sem querer saber se tinham o Ronaldo, o Roberto Carlos...", afirma Rai, ao se referir ao quinto jogo desde que Tesser passou a trabalhar em regime diário com o grupo.
A vitória sobre o Corinthians, em 24 de março, é apontada como o jogo em que a equipe do Parque São Jorge deixou escapar a chance de ir às semifinal e aquele em que o Paulista afastou o risco de rebaixamento.
Para selar o bom momento, em sua última partida no Paulista, a equipe fez 3 a 1 sobre um outro grande, o Palmeiras.
Ao ser questionado sobre o fracasso do Brasil em Sydney-00, quando a delegação contou com o neurolinguista Roberto Shinyashiki, que orientou desportistas a caminhar sobre brasas, Tesser não comentou o episódio. Só fez comentário geral.
"O psicológico é uma perna do tripé. Tem que haver equilíbrio com as partes técnica e física. Eu pude trabalhar de perto com o elenco, não tive de lidar com centenas de atletas."


FOLHA ONLINE
Confira galeria de fotos da sessão de hipnose
www.folha.com.br/101064




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