São Paulo, sábado, 17 de abril de 2010

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depoimento

Repórter é hipnotizado e anda no vidro

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao encontrar o neurolinguista Olimar Tesser, 42, perguntei a ele se era verdade que os jogadores caminharam sobre cacos de vidro.
"Ah, eles caminharam, sim. E você também vai", foi a surpreendente resposta.
"Não, não vou", respondi.
"Mas você não acredita que seja possível caminhar?", questionou Tesser.
"Sei que é possível. Conheço gente que andou sobre brasas. Mas não quero fazer isso. Não vim aqui para isso. Vim para fazer perguntas e escrever sobre isso", falei.
Tesser se recusou a me explicar o que pretendia transmitir aos atletas com essa experiência. Retrucou que o melhor mesmo era "você tirar sua própria conclusão".
Seguiram-se 15 minutos de discussão, até que concluí que ele não colaboraria se eu não atendesse a seu pedido. O fato de que logo deveria estar de volta à Redação da Folha e que até aquele momento não havia conseguido apurar nada ajudou na decisão.
Apesar de um intenso suor nas mãos, igualado somente por meu nervosismo, segui todas as suas instruções, as mesmas que havia passado para os jogadores do Paulista: focar um objetivo ao longe, andar lentamente e não pensar nos cacos de vidro.
Primeiro, pediu para acomodar com cuidado meu pé esquerdo sobre o vidro. E pediu para colocar o outro.
""Só que aí todo o peso do meu corpo vai ficar sobre um dos pés", argumentei a ele.
""Fique calmo, concentração no objetivo, caminhe lentamente. E pare de olhar para baixo", disse Fesser.
O momento mais dramático foi quando, bem no meio do percurso de dois metros, me senti ""acordando". Em vez de focar no objetivo, eu me imaginei sendo levado dali direto para um hospital.
Dessa vez, nem foi preciso o neurolinguista pedir concentração. Eu mesmo, rapidamente, voltei a pensar só no meu objetivo à frente.
Foi uma das sensações mais intensas que já senti. Foi um alívio muito grande chegar ao fim do tapete.
Cheguei à conclusão de que ele queria passar duas lições aos jogadores: não se deixar intimidar, por mais que algo pareça impossível, e a importância do foco.
Em outro exercício, pediu para fazer uma ""ponte": ficar apoiado em dois banquinhos só pela cabeça e pelos pés.
Mandou que sua filha subissse na minha barriga. ""Tá me machucando. Tira ela daí, tira ela daí", protestei.
Ele atendeu e disse: ""Você não aguentou o peso de minha filha, mas veja o que seu fotógrafo registrou". Vi, atônito, a foto em que ele ficou de pé sobre minha barriga.
""E olha que eu peso 108 quilos, hein? Só não publica isso", brincou Tesser. Já sem hipnose, desobedeço aqui a recomendação. (EO)

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