São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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a copa da áfrica

África aposta em bolhas de segurança

Contra alta criminalidade do país, organizadores planejam reforço policial só nas áreas onde os torcedores vão circular

Sul-africanos acham que fãs estrangeiros se manterão longe de bairros violentos, como o que fica perto de estádio em Johannesburgo

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL

Em pouco mais de 15 minutos de caminhada, o torcedor desavisado que deixar o estádio de Ellis Park em busca de um táxi pode inadvertidamente entrar num lugar de casas decrépitas, jovens desocupados de braços cruzados nas esquinas e clima pesado no ar.
É o bairro de Hillbrow, o nome mais associado à violência barra pesada na África do Sul, que fica encravado no centro de Johannesburgo, e aonde só vai aquele que realmente precisa -isso, mesmo à luz do dia.
O estádio de Ellis Park, com capacidade para receber 60 mil pessoas e famoso por ser palco da seleção sul-africana de rúgbi, abrigará sete partidas da Copa do Mundo de 2010.
No ano passado, houve 84 assassinatos em Hillbrow, uma área de poucos quarteirões. A taxa de homicídios é de cem por grupo de 100 mil habitantes (dez vezes maior do que em São Paulo), mas já foi bem pior.
A violência é a principal preocupação dos organizadores da Copa, embora a zona central de Johannesburgo seja um caso extremo. Subúrbios afastados do centro, áreas que abrigarão a maioria dos turistas, são bem mais seguros.
Durban, a terceira cidade do país, também é considerada uma região com zonas perigosas. Cidade do Cabo e Pretória são avaliadas como seguras.
Os índices de homicídios no país caíram 13% desde o pico, em 2001, mas ainda são extremamente altos. No ano passado, houve 36 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes (são 25 por 100 mil no Brasil).
O governo aposta no reforço do policiamento nas áreas que os turistas frequentarão, criando uma espécie de "bolha" de proteção aos turistas, com o objetivo declarado de oferecer um simulacro de segurança nas áreas em que eles estiverem.
Argumenta que ninguém vai passear num lugar como Hillbrow. Mas o isolamento não tem como ser completo.
Os organizadores prometem 40 mil policiais extras trabalhando durante o evento, além do efetivo normal. Serão gastos cerca de R$ 169 milhões na compra de equipamentos.
Danny Jordaan, chefe do comitê organizador, diz que o país já sediou 146 grandes eventos esportivos desde o fim do apartheid, em 1994, e que nenhum deles teve problemas sérios.
Mas o argumento não convence ainda a todos. "O governo promete usar polícia e Exército, mas falta apenas um ano para a Copa do Mundo [vai de 11 de junho a 11 de julho de 2010] e nada parece estar mudando. Eles têm que agir mais rápido", diz Paul Singh, especialista em Esportes da Universidade de Johannesburgo.


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