São Paulo, sábado, 17 de junho de 2006

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Por vaga, Scolari encara crise com seu Ronaldo

Técnico espera por Cristiano, que vive pressão semelhante à do xará brasileiro

Atacante do Manchester é dúvida para jogo de hoje contra o Irã, que pode dar aos europeus classificação às oitavas-de-final da Copa


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

Ronaldo foi substituído no jogo de estréia na Copa. Não gostou. Ronaldo talvez não jogue a segunda partida. Está machucado. No corpo e na alma. Ronaldo é o assunto favorito da mídia. Porém Ronaldo não está gordo, até porque não é brasileiro, não se chama Ronaldo Nazário de Lima, mas Cristiano Ronaldo, de sobrenome Santos Aveiro, tem apenas 21 anos e, mesmo assim, é a grande estrela de Portugal agora que Luís Figo está chegando ao ocaso.
Há mais semelhanças entre os dois Ronaldos: ambos precisam de "carinho", depõe Luiz Felipe Scolari, o técnico brasileiro que comandou Ronaldo, o Nazário de Lima, na Copa de 2002, até o título, e comanda agora Ronaldo, o Cristiano.
Até quando? Se depender de Scolari e seu estilo, sempre arrebatado, o time terá que jogar a vida hoje, contra o Irã. Uma vitória assegura a classificação de Portugal para a segunda fase e dará ao treinador o nono triunfo consecutivo em Copas do Mundo, um recorde.
"Quem puder jogar, mesmo que não jogue há 30 dias, vai jogar. Não posso arriscar mais nada", afirma Scolari, após o treino de reconhecimento do Estádio de Frankfurt, na manhã de ontem, surpreendentemente amena após o calor africano dos últimos dias (mas, à tarde, o sol inclemente voltou).
Cristiano Ronaldo, que não tem treinado regularmente por problemas musculares, está entre os que jogam, então?
"Depende da reação ao treinamento [de ontem]", afirma Scolari, frase que estende a Deco, brasileiro naturalizado português.
A reação ao treinamento, pelo menos do ponto de vista anímico, não foi exatamente de entusiasmo. Terminado o rachão, que ocupou só meio-campo, o jogador do Manchester United foi sozinho, sozinho, para uma das áreas, para bater pênaltis no gol vazio. Todos os outros 22 jogadores estavam concentrados em exercícios físicos longe da área.
A favor de Cristiano Ronaldo, diga-se que não perdeu um pênalti contra o gol vazio, mas nem por isso ganhou complacência dos jornalistas portugueses, que, atrás do repórter da Folha, não poupavam críticas. Sobrou até para a namorada do jogador, "uma ordinária", segundo a única mulher-repórter, de uma rádio portuguesa.
Dá para entender por que Scolari diz que "é uma questão de carinho, de mostrar determinadas situações que, com seus 21 anos, ele ainda não viveu". Ou "mostrar o outro lado da vida", qual seja: "Apontar as dificuldades de um jogador de apenas 21 anos de que todos esperam gato e sapato. Ele não precisa fazer nada disso", diz.
Scolari estende o comentário a Ronaldo Nazário de Lima, no que talvez soe como crítica ao atual comando do Brasil: "É preciso uma palavra mais amiga ou fazê-lo entender que tem alguém protegendo-o".
É bem o estilo "família Scolari" que funcionou na Copa de 2002 entre jogadores brasileiros e está funcionando agora em Portugal. Dois dos capitães do time, Costinha e Figo, comentaram a hipótese de o técnico deixar o posto após a Copa, usando um mesmo argumento. "Seria retroceder dez passos", afirmou Costinha. Figo dobrou a aposta: "Seria retroceder 20 passos".
Scolari conta que até brincou com os dois, dizendo que eram "grandes puxa-sacos". Mas o "puxa-saquismo", acredita, se dá "pelo ambiente, pela maneira como formamos o grupo".
É desse grupo que Scolari cobra uma vitória hoje, nem que seja "por meio a zero". O técnico diz que não espera uma vitória confortável "porque o Irã tem uma excelente equipe", evidente exagero.
Já as autoridades alemãs também esperam uma vitória portuguesa, não porque gostem de Scolari, mas porque ela evitaria que o Irã passasse à segunda fase, o que poderia fazer com que o polêmico presidente Mahmoud Ahmedinejad viesse à Alemanha. O líder iraniano nega, sistematicamente, que tenha ocorrido o Holocausto, a matança de judeus pelo regime nazista alemão, tema hipersensível no país da Copa.


NA TV - Portugal x Irã Globo, Bandsports, Directv, Sportv e ESPN Brasil, ao vivo, às 10h


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