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Por vaga, Scolari encara crise com seu Ronaldo
Técnico espera por Cristiano, que vive pressão semelhante à do xará brasileiro
Atacante do Manchester é dúvida para jogo de hoje contra o Irã, que pode dar aos europeus classificação às oitavas-de-final da Copa
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT
Ronaldo foi substituído no
jogo de estréia na Copa. Não
gostou. Ronaldo talvez não jogue a segunda partida. Está machucado. No corpo e na alma.
Ronaldo é o assunto favorito da
mídia. Porém Ronaldo não está
gordo, até porque não é brasileiro, não se chama Ronaldo
Nazário de Lima, mas Cristiano
Ronaldo, de sobrenome Santos
Aveiro, tem apenas 21 anos e,
mesmo assim, é a grande estrela de Portugal agora que Luís
Figo está chegando ao ocaso.
Há mais semelhanças entre
os dois Ronaldos: ambos precisam de "carinho", depõe Luiz
Felipe Scolari, o técnico brasileiro que comandou Ronaldo, o
Nazário de Lima, na Copa de
2002, até o título, e comanda
agora Ronaldo, o Cristiano.
Até quando? Se depender de
Scolari e seu estilo, sempre arrebatado, o time terá que jogar
a vida hoje, contra o Irã. Uma
vitória assegura a classificação
de Portugal para a segunda fase
e dará ao treinador o nono
triunfo consecutivo em Copas
do Mundo, um recorde.
"Quem puder jogar, mesmo
que não jogue há 30 dias, vai jogar. Não posso arriscar mais
nada", afirma Scolari, após o
treino de reconhecimento do
Estádio de Frankfurt, na manhã de ontem, surpreendentemente amena após o calor africano dos últimos dias (mas, à
tarde, o sol inclemente voltou).
Cristiano Ronaldo, que não
tem treinado regularmente por
problemas musculares, está
entre os que jogam, então?
"Depende da reação ao treinamento [de ontem]", afirma
Scolari, frase que estende a
Deco, brasileiro naturalizado
português.
A reação ao treinamento, pelo menos do ponto de vista anímico, não foi exatamente de
entusiasmo. Terminado o rachão, que ocupou só meio-campo, o jogador do Manchester
United foi sozinho, sozinho,
para uma das áreas, para bater
pênaltis no gol vazio. Todos os
outros 22 jogadores estavam
concentrados em exercícios físicos longe da área.
A favor de Cristiano Ronaldo,
diga-se que não perdeu um pênalti contra o gol vazio, mas
nem por isso ganhou complacência dos jornalistas portugueses, que, atrás do repórter
da Folha, não poupavam críticas. Sobrou até para a namorada do jogador, "uma ordinária",
segundo a única mulher-repórter, de uma rádio portuguesa.
Dá para entender por que
Scolari diz que "é uma questão
de carinho, de mostrar determinadas situações que, com
seus 21 anos, ele ainda não viveu". Ou "mostrar o outro lado
da vida", qual seja: "Apontar as
dificuldades de um jogador de
apenas 21 anos de que todos esperam gato e sapato. Ele não
precisa fazer nada disso", diz.
Scolari estende o comentário
a Ronaldo Nazário de Lima, no
que talvez soe como crítica ao
atual comando do Brasil: "É
preciso uma palavra mais amiga ou fazê-lo entender que tem
alguém protegendo-o".
É bem o estilo "família Scolari" que funcionou na Copa de
2002 entre jogadores brasileiros e está funcionando agora
em Portugal. Dois dos capitães
do time, Costinha e Figo, comentaram a hipótese de o técnico deixar o posto após a Copa, usando um mesmo argumento. "Seria retroceder dez
passos", afirmou Costinha. Figo dobrou a aposta: "Seria retroceder 20 passos".
Scolari conta que até brincou
com os dois, dizendo que eram
"grandes puxa-sacos". Mas o
"puxa-saquismo", acredita, se
dá "pelo ambiente, pela maneira como formamos o grupo".
É desse grupo que Scolari cobra uma vitória hoje, nem que
seja "por meio a zero". O técnico diz que não espera uma vitória confortável "porque o Irã
tem uma excelente equipe",
evidente exagero.
Já as autoridades alemãs
também esperam uma vitória
portuguesa, não porque gostem de Scolari, mas porque ela
evitaria que o Irã passasse à segunda fase, o que poderia fazer
com que o polêmico presidente
Mahmoud Ahmedinejad viesse
à Alemanha. O líder iraniano
nega, sistematicamente, que
tenha ocorrido o Holocausto, a
matança de judeus pelo regime
nazista alemão, tema hipersensível no país da Copa.
NA TV - Portugal x Irã
Globo, Bandsports, Directv, Sportv
e ESPN Brasil, ao vivo, às 10h
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