São Paulo, sábado, 17 de junho de 2006

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Clóvis Rossi

A mágica é azul

UÉ, NÃO era verde-e-amarela a mágica? Quem mandou vesti-la de celeste-e-branco? Pelo menos ontem, a Argentina estabeleceu um paradigma. Nem tanto pela goleada, por mais que fazer 6 a 0 em Copa do Mundo, contra qualquer adversário, seja uma baita façanha. A propósito, o Brasil só a perpetrou em casa, em 1950, ao fazer 7 a 1 na Suécia e 6 a 1 na Espanha. E ninguém falava em mágica. Voltemos à Argentina. O que encantou até o comedido locutor da TV alemã foi um punhado de jogadas que os brasileiros costumamos imaginar que só os patrícios são capazes de cometer. Jogadas coletivas, como a do segundo gol, que começou lá na lateral esquerda, com Sorín, daí a Saviola, Saviola-Riquelme-Saviola, Saviola-Cambiasso, deste a Crespo, "taquito" e gol de Cambiasso. O perfeito e velho "toco y me voy" dos melhores tempos do futebol argentino. Ou jogadas puramente individuais, como os dois dribles com que Tevez se livrou de dois zagueiros para fazer o quinto. Em outras palavras: tudo o que o mundo esperava dos brasileiros viu dos argentinos, sem esperar. Afinal, a partida da estréia, contra a Costa do Marfim, havia sido bem mediocrezinha, a ponto de a Argentina ter chutado na direção do gol apenas quatro vezes -ou duas menos do que os seis gols de ontem, noves fora as chances perdidas, o impedimento de Crespo que não houve e seria àquela altura o quarto gol, e o pênalti no mesmo Crespo que o juiz não deu, após passe de calcanhar de Ronaldinho, ops, Riquelme. Mas convém colocar a coisa em perspectiva. Os 6 a 0 não significam que a Argentina seja melhor que o Brasil. Basta prestar atenção em um detalhe: o maestro do time, o seu condutor e organizador, Juan Román Riquelme, fracassou no Barcelona, exatamente onde se consagraram tanto Ronaldinho, hoje o melhor jogador do mundo, como Ronaldo Nazário de Lima, que já foi melhor do mundo. Depois do Barça, brilha num time médio, o Villareal, mas em geral fica ofuscado na hora decisiva. Não se trata de picuinha com os argentinos, até porque sou "argentinófilo" assumido. Trata-se de fatos. No retrospecto individual, o Brasil é mais mágico. O problema é que retrospecto não ganha jogo.

crossi@uol.com.br


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