São Paulo, domingo, 17 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TOSTÃO

"É dando que se recebe"

Dunga age como um técnico da CBF, e não da seleção. Por ser servil, recebeu o cargo de treinador da próxima Copa

O S CLUBES mais poderosos da Europa querem ceder, cada vez menos, seus jogadores para as seleções, pois são eles que pagam os altíssimos salários dos atletas.
Compreendo a desilusão dos torcedores brasileiros com o fracasso no Mundial de 2006 e com o pedido de dispensa de alguns jogadores para a Copa América, mas ainda acredito que quase todos têm mais prazer e orgulho de jogar na seleção do que nos seus clubes. Os poucos que não ficam arrepiados quando escutam o Hino Nacional antes de uma importante competição deveriam pedir para sair.
Os atletas querem atuar pela seleção, mas também desejam, com razão, desfrutar de férias e não serem prejudicados nos seus clubes por causa dos péssimos calendários nem pelas suas federações, como a CBF, que exploram ao máximo o prestígio dos jogadores e os colocam para atuar em todas as partes do mundo. A seleção é um circo.
Dunga e a CBF contribuem ainda mais para prolongar a decepção dos torcedores com a seleção. Ao criticar os jogadores e colocar Ronaldinho e Kaká na reserva, Dunga, com o apoio da CBF, quis mostrar a todos, num gesto simbólico, que o principal motivo pelo fracasso na Copa foi a apatia dos craques. Zé Roberto tinha poucas chances de ir ao Mundial, não estava nos planos de Dunga e só foi convocado pelas ausências de Kaká e Ronaldinho.
Por isso, foi compreensível a sua decisão de não jogar mais pela seleção. A CBF, pelas regras da Fifa, tinha o direito de exigir a presença de Robinho junto com os outros atletas, mas ela, que foi extremamente intransigente no início, teve de ceder e Robinho joga hoje pelo Real Madrid. O título espanhol e uma boa atuação vão dar a Robinho mais confiança para ser um jogador decisivo na seleção, o que ele ainda não é nem no Real.
Como alguém disse, Dunga comporta-se como um técnico da CBF, e não da seleção. Por essa postura servil, ele recebeu de retribuição, sem merecer, pois ninguém sabe se um técnico novato vai dar certo, o cargo de treinador do próximo Mundial, independentemente da qualidade do seu trabalho nesses três anos.
"É dando que se recebe." Essa é a lei da sociedade brasileira. As pessoas são valorizadas e escolhidas pelos seus interesses comuns, pela troca de favores e pelo corporativismo, e não pela competência.

Terminologia
O Botafogo é líder do Brasileiro, só perdeu três vezes neste ano em 33 partidas, há sete meses não é derrotado no Maracanã e é o time que mais encanta hoje no Brasil, pela maneira diferente, ousada e envolvente de jogar.
Como alguns jogadores ocupam várias funções durante a mesma partida, muitos comentaristas e narradores, acostumados com a mesmice dos times, não se entendem sobre a posição desses atletas em campo. Joílson é chamado de lateral, ala e volante. Luciano Almeida é zagueiro e lateral. Jorge Henrique é ala, ponta e atacante, e Zé Roberto é meia, ponta ou atacante.
Em qualquer atividade, o uso correto da terminologia é essencial para a transmissão de conhecimentos.

tostao.folha@uol.com.br


Texto Anterior: No hospital: Luxemburgo fica fora do jogo; Chulapa é o substituto
Próximo Texto: Passe errado mudou a vida de Afonso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.