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Reality Maradona show
Na Copa, mística do ex-camisa 10 une argentinos, desconcerta a mídia e provoca temor de revés
JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A PRETÓRIA
Entre bufão e popstar, Diego Maradona é, até agora, o
grande personagem desta
Copa do Mundo. Tudo o que
ele faz ou diz vira manchete
de jornal e ganha destaque
na TV, na internet, no rádio.
Maradona, goste-se ou
não, está em toda parte.
A própria imprensa argentina, que o bombardeou de
críticas durante as eliminatórias sul-americanas, parece
ter-se rendido ao astro, adotando atitude quase unânime de apoio e otimismo.
Em retribuição, o treinador brinda os jornalistas
compatriotas com tiradas espirituosas, gestos histriônicos e tratamento afetuoso.
Na coletiva de ontem, por
exemplo, puxou um coro de
"Parabéns a Você" ao ser informado de que um veterano
cronista fazia aniversário.
No treinamento de anteontem, ao avistar um cinegrafista de TV seu conhecido,
ajoelhou-se no gramado e
gritou: "Tire essa jaqueta
horrorosa, filho da puta".
Nem parece que, há poucos meses, ao se classificar
de maneira dramática para a
Copa de 2010 na última hora,
diante do Uruguai, Maradona desabafou com gestos
obscenos e palavrões contra
a imprensa argentina.
Para todos os efeitos, instalou-se em Pretória, onde a
Albiceleste treina e se concentra, uma "família Maradona", que inclui jogadores,
comissão técnica, jornalistas
e até torcedores, entre os
quais muitos "barras bravas"
que voaram para a África
com a delegação.
Sempre muito político,
Maradona abraçou a causa
das Avós da Praça de Maio,
atacou Pelé por ter duvidado
da capacidade da África do
Sul de realizar a Copa do
Mundo e chegou ao ápice da
diplomacia (ou da demagogia) ao declarar que a insossa
Pretória "é uma das cidades
mais lindas do mundo".
Por ser supersticioso, um
dia antes de embarcar para o
Mundial na África do Sul,
Maradona tatuou no braço o
nome de seu neto, Benjamin,
filho de sua filha Giannina
com o atacante Agüero, reserva da seleção argentina.
O treinador considera o
neto (que chegou à África do
Sul na semana passada, trazido pela mãe e pela avó,
Claudia) um talismã para a
conquista da Copa.
Entre as exigências estranhas que fez em defesa de
seus pupilos está a troca das
tampas de privada do campo
de treinamento da equipe, na
Universidade de Pretória.
Perplexa, encantada, a mídia de todo o planeta procura
decifrar o enigma Maradona.
O britânico "Sunday Times",
ao estampar foto do Pibe contemplando a bola Jabulani
como Hamlet diante da caveira, pergunta: "Há um método nessa loucura?".
Boa pergunta. Para Daniel
Lagares, cronista do diário
portenho "Clarín", Maradona está "aprendendo" a ser
treinador. "O problema é que
esse aprendizado se dá em
pleno Mundial, sem possibilidades de erro", declarou.
Para se sentir seguro, o técnico se cercou de amigos e
ex-companheiros de seleção,
como seus auxiliares-técnicos Alejandro Mancuso (ex-Palmeiras e Flamengo) e
Héctor Enrique. Outros, como Ruggeri e Batistuta, vão
com frequência aos treinos.
"Ele quer ser motivador e
estrategista. Uma mescla, como ele diz, de Menotti com
Bilardo", falou Marcelo Sottile, repórter do diário "Olé",
referindo-se aos técnicos que
levaram a Argentina a dois títulos mundiais, em 78 e 86.
O fato de atrair para si toda
a atenção da mídia é visto como positivo pelo time. "Isso
reduz a pressão sobre nós",
disse o zagueiro Heinze.
Uma tática inteligente do
comandante? Não. "Isso é
mais espontâneo do que pensado", diz Lagares, do "Clarín". "O fato é que ele tem um
ego tremendo, que faz com
que atraia nosso interesse."
Para Sottile, do "Olé",
"Maradona é um reality
show em si mesmo. Desde os
15 anos, as câmeras o seguem, e ele sabe manobrá-
-las como ninguém."
O carisma de Maradona é
uma faca de dois gumes. "Na
Argentina, há uma ideia generalizada de que Maradona
torna tudo possível", pondera Lagares. "Há um imaginário popular no qual Maradona continua instalado como
jogador. Então aparecem essas fantasias, esses pensamentos mágicos de crer que
com Maradona tudo se resolve. Mas não é assim, claro."
O temor dos mais lúcidos é
que essa união em torno de
Maradona desmorone ao primeiro revés do time, dada a
personalidade vulcânica do
ex-atleta. Afinal, com don
Diego é tudo ou nada, céu ou
inferno, sem escalas.
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