São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

XICO SÁ

Gol feio, zebra linda


O tento feito por um trombador, como o de Gelson Fernandes da Suíça, está em falta hoje em dia


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, se na terça-feira já tivemos um gostinho ao ver a melhor e mais bíblica retaguarda do mundo ser vazada pela 105º seleção do ranking da Fifa, ontem foi um dia de glória, com os favoritos espanhóis derrotados com um gol típico de várzea, uma pintura no melhor estilo do Botafogo de Guaianazes.
O gol da Suíça, do cabo-verdiano Gelson Fernandes, foi aquela obra-prima de um Geraldão do Corinthians, de um Beijoca no Bahia, de um Serginho Chulapa já na sua fase menos inspirada. Gol feio também é lindo, diria um Dadá Peito-de-Aço ou um Fio Maravilha.
Os frangos inglês e argelino não contam. Pertencem a um outro gênero: a tragicomédia. O gol de trombador, com os espanhóis toureados ao solo, foi épico. O rapaz naturalizado suíço nem pertence a tal escola dadaísta consolidada no Brasil pelo ex-centroavante do Galo e do Sport, mas fez o dublê perfeito na maior zebra até agora.
A antiarte do trombador está em falta atualmente em dia. Botava alguma fé nos jogadores sérvios e eslovenos, povos escaldados por conflitos recentes da história.
Na angústia e de bode copeiro, apelei, no último domingo, para a quarta divisão do Campeonato Paulista: Amparo, time do escritor Marçal Aquino, contra o Desportivo Brasil, clube-cativeiro, para formar jogadores, da Traffic.

MALDIÇÃO
Gasto minhas coronárias e nada: 1 a 1, pura arte, com uma bela transmissão da Rede Vida, a emissora que acredita na humildade cristã da bola.
Durante alguns momentos do Chile 1 x 0 Honduras também cheguei a crer em um desses gols medonhos e paradoxalmente lindos. Sem chance. A grossura é um recurso do camisa 8 para baixo. Estão em falta os trombadores.
Foi maldição do João Saldanha, que preferia um Coutinho -já com barriga de chope e encostado em boteco de Santos- às peripécias de Dadá Maravilha.
Confesso que um gol trombado e feio como o do triunfo suíço sobre os espanhóis me emociona. Principalmente quando acontece em Mundial, tido e havido como o salão mercenário do melhor futebol do mundo.

xico.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Reality Maradona show
Próximo Texto: José Simão: Uau! Dunga Faxion Week
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.