São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2010

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Meu polegar mágico

Viajando de carona, dupla de ingleses passa por Gana no trajeto para assistir à Copa na África do Sul

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ACCRA

Peter, "apenas Peter", é inglês e dono do bar Champs, na Ring Road, uma das principais avenidas de Accra, em Gana. É um típico "sports bar": repleto de bandeiras, camisetas de times, telões, pratos temáticos... Na terça, dia da estreia do Brasil na Copa, a pedida era feijoada.
A ideia era entrevistá-lo. Mas ele não deixou. Deu um grito ao ser abordado pela reportagem da Folha. Chamou dois compatriotas que estavam na mesa ao lado.
"Ei, venham ouvir este cara. Ele tem uma história tão louca quanto a de vocês!"
Accra é a sexta parada da série "Um Mundo que Torce", que pretende visitar todos os países da Copa do Mundo durante o torneio.
Mas os dois ingleses, amigos de Peter, estão embrenhados em uma aventura ainda mais ousada.
Os músicos Andrew Grady, 33, e Merrich Adams, 29, deixaram Londres há 50 dias, em 28 de abril. O destino, Johannesburgo. A motivação, a Copa do Mundo. A distância, 9.100 km. O meio de transporte, o polegar.
Eles viajam de carona.
"Era setembro do ano passado, e eu estava bebendo com uns amigos num bar em Camden [bairro descolado na região norte de Londres]. Daí, tive essa ideia: pegar carona e filmar tudo, indo até a Copa", afirma Grady.
"O futebol é um meio espetacular de interagir, de se conectar, de fazer amizades. E imaginei que seria uma linda maneira de mostrar a África. Então, aqui estamos."
Ele convidou Adams, que topou. A dupla juntou as economias, criou um site, "My Magic Thumb" (em inglês, "Meu Polegar Mágico"), www.mymagicthumb.com, e se jogou na estrada.
De Londres, ele e Adams, mais calado e responsável pelas filmagens, conseguiram carona até Callais, onde fizeram a travessia até a França. Passaram por Paris e, de lá, seguiram num pinga-pinga até a Espanha.
No porto de Algeciras, pegaram uma balsa até Marrocos. E, desde 12 de maio, descem a África. Até Gana.
"É o primeiro país da África pelo qual passamos que está na Copa do Mundo. E é impressionante o quanto eles são loucos por futebol, o quanto os ganeses vivem por este esporte", conta Grady.
Fato. Accra é repleta de referências ao futebol. As ruas estão cheias de bandeirinhas, num cenário muito parecido com o do Brasil. No rádio, os temas do Mundial tocam sem parar. Auto-intitulado "portão da África", o aeroporto está mais decorado para a Copa do Mundo do que o de Johannesburgo.
Em campo, vem correspondendo. É o melhor time africano na Copa até agora, o único a vencer na rodada de abertura. No domingo, bateu a Sérvia por 1 a 0.
O objetivo de Grady e Addams é chegar a Johannesburgo -por alguma estrada, claro, não pelo aeroporto-, para as quartas de final. No Champs, eles ganharam um par de ingressos de um casal de alemães que decidiu não viajar para a África do Sul.
"Esse tipo de coisa maluca acontece o tempo todo numa viagem como esta", conclui Grady, enquanto o colega desmonta a câmera que filmava esta entrevista. "Vai pro nosso documentário."


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