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Meu polegar mágico
Viajando de carona, dupla de ingleses passa por Gana no trajeto para assistir à Copa na África do Sul
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ACCRA
Peter, "apenas Peter", é inglês e dono do bar Champs,
na Ring Road, uma das principais avenidas de Accra, em
Gana. É um típico "sports
bar": repleto de bandeiras,
camisetas de times, telões,
pratos temáticos... Na terça,
dia da estreia do Brasil na Copa, a pedida era feijoada.
A ideia era entrevistá-lo.
Mas ele não deixou. Deu um
grito ao ser abordado pela reportagem da Folha. Chamou
dois compatriotas que estavam na mesa ao lado.
"Ei, venham ouvir este cara. Ele tem uma história tão
louca quanto a de vocês!"
Accra é a sexta parada da
série "Um Mundo que Torce", que pretende visitar todos os países da Copa do
Mundo durante o torneio.
Mas os dois ingleses, amigos de Peter, estão embrenhados em uma aventura
ainda mais ousada.
Os músicos Andrew
Grady, 33, e Merrich Adams,
29, deixaram Londres há 50
dias, em 28 de abril. O destino, Johannesburgo. A motivação, a Copa do Mundo. A
distância, 9.100 km. O meio
de transporte, o polegar.
Eles viajam de carona.
"Era setembro do ano passado, e eu estava bebendo
com uns amigos num bar em
Camden [bairro descolado na
região norte de Londres].
Daí, tive essa ideia: pegar carona e filmar tudo, indo até a
Copa", afirma Grady.
"O futebol é um meio espetacular de interagir, de se conectar, de fazer amizades. E
imaginei que seria uma linda
maneira de mostrar a África.
Então, aqui estamos."
Ele convidou Adams, que
topou. A dupla juntou as economias, criou um site, "My
Magic Thumb" (em inglês,
"Meu Polegar Mágico"),
www.mymagicthumb.com, e se jogou na estrada.
De Londres, ele e Adams,
mais calado e responsável
pelas filmagens, conseguiram carona até Callais, onde
fizeram a travessia até a
França. Passaram por Paris
e, de lá, seguiram num pinga-pinga até a Espanha.
No porto de Algeciras, pegaram uma balsa até Marrocos. E, desde 12 de maio, descem a África. Até Gana.
"É o primeiro país da África pelo qual passamos que
está na Copa do Mundo. E é
impressionante o quanto
eles são loucos por futebol, o
quanto os ganeses vivem por
este esporte", conta Grady.
Fato. Accra é repleta de referências ao futebol. As ruas
estão cheias de bandeirinhas, num cenário muito parecido com o do Brasil. No rádio, os temas do Mundial tocam sem parar. Auto-intitulado "portão da África", o aeroporto está mais decorado
para a Copa do Mundo do
que o de Johannesburgo.
Em campo, vem correspondendo. É o melhor time
africano na Copa até agora, o
único a vencer na rodada de
abertura. No domingo, bateu
a Sérvia por 1 a 0.
O objetivo de Grady e Addams é chegar a Johannesburgo -por alguma estrada,
claro, não pelo aeroporto-,
para as quartas de final. No
Champs, eles ganharam um
par de ingressos de um casal
de alemães que decidiu não
viajar para a África do Sul.
"Esse tipo de coisa maluca
acontece o tempo todo numa
viagem como esta", conclui
Grady, enquanto o colega
desmonta a câmera que filmava esta entrevista. "Vai
pro nosso documentário."
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