São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tetras trocam burocracia do campo pela do gabinete

Dez anos após título, campeões seguem no futebol, mas deixam gramados para empresariar atletas, comandar clubes, montar CT e ajudar governo

EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles ganharam uma Copa e tiraram o Brasil de uma fila de 24 anos com o rótulo de burocratas, mas foi quando a bola parou de rolar para eles que essa fama passou a se justificar de verdade.
Os tetracampeões, que hoje completam dez anos da conquista do Mundial dos EUA, preferiram, na maior parte dos casos, seguir no futebol como cartolas, empresários, donos de centro de treinamento, comentaristas e membros de órgãos governamentais.
Dos 14 oficialmente aposentados, dez se enquadram em uma dessas categorias, e só quatro optaram por funções de campo, como, por exemplo, treinador.
Entre os oito na ativa, alguns já ensaiam seguir o mesmo caminho, como Zinho, que chegou a controlar clube no Rio, e Romário, que queria ser o "dono" das categorias de base do Vasco.
Nenhuma outra seleção brasileira campeã mundial viu um número tão grande de jogadores seguirem no futebol, mas de terno e gravata. Nem 40% dos 22 atletas do tri voltaram ao esporte como "burocratas" -e sem a variedade de funções da turma de 1994.
O ex-lateral Branco e o ex-zagueiro Ronaldão quebraram uma barreira ao virarem cartolas, posto raro para ex-jogadores no país.
O primeiro é coordenador das categorias de base da CBF, e o segundo, gerente da Ponte Preta, seu último clube como jogador.
"Eu conversava muito com os dirigentes da Ponte. Me falavam sobre cotas, orçamentos, transferências, e descobri que gostava disso", disse Ronaldão, que pretende fazer estágios no Japão e no Milan, onde um outro tetra foi ainda mais longe na cartolagem.
Leonardo, que ficou marcado na Copa-94 pela cotovelada que deu em um jogador americano, é um dos principais dirigentes do clube italiano. Com Raí, comentarista de TV, Leonardo tem uma ONG de apoio a crianças carentes.
Mas é a função de empresário que tomou conta do posto de treinador ou comentarista, o antigo caminho dos ex-campeões.
Nada menos do que quatro tetras seguem essa trilha -o lateral Jorginho, o atacante Bebeto, o volante Mazinho e o goleiro Gilmar.
"A maioria dos jogadores de 1994 terminou a carreira em uma situação muito boa. Se assumisse como treinador, ganharia dinheiro mais rápido, mas não teria tempo para a minha família. Hoje, como empresário, faço minha própria agenda", justifica Jorginho, que tem uma empresa em parceria com Bebeto que cuida dos interesses de 12 atletas.
"Eu gosto de trabalhar como empresário. Parei de jogar só dentro de campo. Eu continuo com uma rotina parecida hoje. Me encontro com dirigentes, atletas, visito clubes o tempo todo", afirma Gilmar, que atualmente cuida da carreira de 13 jogadores.
Nos casos de Dunga e de Paulo Sérgio, uma só função fora dos gramados é pouco.
O capitão divide seu tempo como comentarista, consultor de um clube japonês e membro da Comissão Nacional de Atletas, órgão do Ministério do Esporte.
Paulo Sérgio também é versátil. Ele é o homem do poderoso Bayern de Munique na América do Sul -qualquer negócio do clube na região passa por ele.
O ex-atacante acumula a função de representante do Bayern com a de assessor de futebol da marca Wilson no Brasil. Foi ele quem intermediou o contrato da empresa de material esportivo com o São Caetano. O ex-jogador ainda tem um moderno hotel-fazenda no interior de São Paulo, no qual costuma hospedar clubes de futebol.
"Nós vemos hoje que muitos ex-jogadores têm capacidade para dirigir, administrar, mas isso ainda não é bem visto no Brasil."
Entre os tetras que preferiram seguir no futebol em funções de campo, só Zetti, que treina o Guarani, já está em um patamar avançado. Ricardo Rocha espera proposta para treinar um time. Müller teve uma experiência no Ipatinga, e Taffarel trocou o plano de abrir um restaurante para ser preparador de goleiros na Turquia.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Estatística: Entre campeões, time teve jogos com menos gols
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.