São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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POLIFONIA

Melhor, mas sem foto, astro de 2000 fica fora

GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

Dias inteiros de espera ao lado do telefone. Nada da ligação aguardada. Quando finalmente tocou, Eric Moussambani tinha convicção de que receberia dos dirigentes o aval para competir em Atenas.
Tarde demais. O comitê olímpico de seu país, a Guiné Equatorial, não conseguiu providenciar uma vil foto, necessária para que ele competisse hoje nos 100 m livre.
Sua odisséia começou há quatro anos, quando roubou a cena na natação justamente por não saber nadar. Agora, queria provar que virou atleta de verdade, mas pensou muito no esporte e esqueceu a burocracia. Justamente o oposto do ritual de 2000.
Naquele ano, seu país ganhara um convite do Comitê Olímpico Internacional para participar dos Jogos. Empolgado, decidiu fundar uma federação local para atender aos protocolos. Deu certo.
Chegou a Austrália oito meses depois e, em 18 de setembro, pulou na água sozinho. Quase 17 mil o empurraram nas arquibancadas, mesmo após a adoção do estilo "cachorrinho". Final: 1min52s72, 30 segundos mais lento do que o vencedor dos primeiros Jogos, em 1896, que competiu em uma baía de Atenas.
O espetáculo insólito lhe rendeu fama e dinheiro. Entre outubro de 2000 e junho de 2003, participou de 12 comerciais. Em um leilão, vendeu os óculos e a sunga de Sydney por US$ 800 e US$ 3.250.
Com essa estrutura, se tornou um nadador de verdade. Chegou a fazer 100 m em menos de 59s. Já não era mais a "enguia", apelido que recebeu pelo estilo (ou falta de) com que executava as braçadas.
Na Grécia, só queria exibir toda essa evolução. O problema é que não tomou as rédeas de seu credenciamento e deixou os dirigentes incumbidos de fazer o trâmite. Resultado: a foto de seu passaporte, essencial para a participação olímpica, não foi encontrada. Moussambani, que fazia pré-temporada na Espanha, enviou ao seu país a segunda via da imagem. Não deu tempo.
"Ele não está na lista dos inscritos. Nem adianta aparecer aqui", disse Pedro Adrega, representante da Federação Internacional de Natação.
Pode ser o fim de um dos personagens mais inusitados da história. Aos 26 anos, ele diz que o contrato de patrocínio acaba nessa temporada. As duas piscinas que existem em Malabo, capital da Guiné Equatorial, estão vazias. "Não dá nem para sonhar com uma volta em 2008", diz.


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