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POLIFONIA
Melhor, mas sem foto, astro de 2000 fica fora
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
Dias inteiros de espera ao
lado do telefone. Nada da
ligação aguardada. Quando
finalmente tocou, Eric Moussambani tinha convicção de
que receberia dos dirigentes o
aval para competir em Atenas.
Tarde demais. O comitê
olímpico de seu país, a Guiné
Equatorial, não conseguiu
providenciar uma vil foto, necessária para que ele competisse hoje nos 100 m livre.
Sua odisséia começou há
quatro anos, quando roubou a
cena na natação justamente
por não saber nadar. Agora,
queria provar que virou atleta
de verdade, mas pensou muito
no esporte e esqueceu a burocracia. Justamente o oposto do
ritual de 2000.
Naquele ano, seu país ganhara um convite do Comitê
Olímpico Internacional para
participar dos Jogos. Empolgado, decidiu fundar uma federação local para atender aos
protocolos. Deu certo.
Chegou a Austrália oito meses depois e, em 18 de setembro, pulou na água sozinho.
Quase 17 mil o empurraram
nas arquibancadas, mesmo
após a adoção do estilo "cachorrinho". Final: 1min52s72,
30 segundos mais lento do que
o vencedor dos primeiros Jogos, em 1896, que competiu em
uma baía de Atenas.
O espetáculo insólito lhe rendeu fama e dinheiro. Entre outubro de 2000 e junho de 2003,
participou de 12 comerciais.
Em um leilão, vendeu os óculos e a sunga de Sydney por
US$ 800 e US$ 3.250.
Com essa estrutura, se tornou um nadador de verdade.
Chegou a fazer 100 m em menos de 59s. Já não era mais a
"enguia", apelido que recebeu
pelo estilo (ou falta de) com
que executava as braçadas.
Na Grécia, só queria exibir
toda essa evolução. O problema é que não tomou as rédeas
de seu credenciamento e deixou os dirigentes incumbidos
de fazer o trâmite. Resultado:
a foto de seu passaporte, essencial para a participação olímpica, não foi encontrada.
Moussambani, que fazia pré-temporada na Espanha, enviou ao seu país a segunda via
da imagem. Não deu tempo.
"Ele não está na lista dos inscritos. Nem adianta aparecer
aqui", disse Pedro Adrega, representante da Federação Internacional de Natação.
Pode ser o fim de um dos personagens mais inusitados da
história. Aos 26 anos, ele diz
que o contrato de patrocínio
acaba nessa temporada. As
duas piscinas que existem em
Malabo, capital da Guiné
Equatorial, estão vazias. "Não
dá nem para sonhar com uma
volta em 2008", diz.
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