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FUTEBOL
De Robinho ao Haiti
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Leve , liso e driblador, Robinho, quando despontou no
Santos campeão brasileiro, foi assimilado na categoria dos pontas
ligeiros e habilidosos. Mas aos
elogios ao seu futebol ""moleque'"
logo se seguiram as desconfianças. Foi comparado a Denílson,
naquilo que o ex-craque do São
Paulo tem de mais dispersivo, observou-se que chutava muito mal
e até rogaram-lhe a praga de que
não passaria de foca amestrada.
Robinho, no entanto, desde o
início mostrava outras qualidades, como o sentido coletivo, a recuperação de bola e o passe em
profundidade. Hoje, Robinho já
provou que de foca amestrada
tem a habilidade, mas é muito
mais do que isso. Não apenas tem
melhorado o chute e aperfeiçoado
suas outras virtudes, como mostra personalidade na ausência de
Diego, a quem sempre teve seu
nome associado. Robinho cada
vez mais é ele mesmo, um belíssimo jogador em plena evolução.
Que o Santos fosse dar um baile
no Paraná já se sabia, mas foi em
São Januário, na casa do Vasco,
que Robinho deixou bem claro
como o talento faz a diferença:
uma enfiada de bola precisa para
Deivid e um incrível sem-pulo resolveram um jogo duríssimo, dos
melhores do campeonato.
Creio que há também o dedo de
Vanderlei Luxemburgo nessa fase
de Robinho. É um treinador que
favorece os bons jogadores. Sabe
retirar deles o que têm de melhor.
Torçamos para que tudo dê certo no amistoso do Brasil contra o
Haiti. Fanáticos pelo futebol brasileiro, os haitianos vivem num
país miserável e instável, que jamais teria como organizar uma
festa para receber a seleção brasileira. A coisa só foi possível porque o governo Lula quis. O Brasil
tem tropas no Haiti, onde comanda uma força de paz da ONU.
A partida, portanto, é um evento político que, por mais simpático que possa parecer, coloca o futebol a serviço de interesses do governo. É uma maneira de a política externa de Lula se aproveitar
da imagem do futebol brasileiro
para dar um colorido alegre e
amigável a suas pretensões de liderança terceiro-mundista.
Além disso, o que preocupa nessa história é saber se a aproximação entre o Planalto e a CBF, que
se aprofundou com essa partida,
não vai descambar para a promiscuidade. O governo petista era
uma esperança de que as coisas
mudariam no esporte brasileiro.
Mas a única coisa que realmente
se mexe nessa área é o ministro
Agnelo ("Medalhão") Queiroz:
vive para cima e para baixo, da
Copa América à Olimpíada, numa frenética e patética gincana
de autopromoção.
Depois de conseguir esse favor
da CBF e de chegar a pedir para o
Brasil não marcar muitos gols
contra o Haiti, o governo parece
cada vez mais enturmado com a
cartolagem.
É uma pena, porque a situação
nunca foi tão propícia para uma
mudança de fundo na organização do futebol brasileiro. O governo Lula, no entanto, não parece
ter apetite para fazer o que dele se
esperava.
Risco político
O Flamengo mostrou que tem
todas as condições de sair do
sufoco em que se meteu no primeiro turno. Já coloca o nariz
fora d'água, mas a politicagem
do clube só atrapalha. É muita
briguinha, fofoca, gente atropelando e reclamando. Fica claro
que os problemas do Flamengo
começam fora do campo. Já vai
para o terceiro técnico.
Na área
Ouço de Nuno Ramos, craque
das artes plásticas e santista,
observação sobre "Pelé Eterno": os maravilhosos lances do
Rei no filme se concentram na
área, em situações de gol. De fato, Pelé jogava muito também
fora da área. E ver seus gols nos
faz relembrar a beleza de alguns
passes, lançamentos, deslocamentos e limpadas de bola.
E-mail
mag@folhasp.com.br
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