São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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FUTEBOL

De Robinho ao Haiti

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Leve , liso e driblador, Robinho, quando despontou no Santos campeão brasileiro, foi assimilado na categoria dos pontas ligeiros e habilidosos. Mas aos elogios ao seu futebol ""moleque'" logo se seguiram as desconfianças. Foi comparado a Denílson, naquilo que o ex-craque do São Paulo tem de mais dispersivo, observou-se que chutava muito mal e até rogaram-lhe a praga de que não passaria de foca amestrada.
Robinho, no entanto, desde o início mostrava outras qualidades, como o sentido coletivo, a recuperação de bola e o passe em profundidade. Hoje, Robinho já provou que de foca amestrada tem a habilidade, mas é muito mais do que isso. Não apenas tem melhorado o chute e aperfeiçoado suas outras virtudes, como mostra personalidade na ausência de Diego, a quem sempre teve seu nome associado. Robinho cada vez mais é ele mesmo, um belíssimo jogador em plena evolução.
Que o Santos fosse dar um baile no Paraná já se sabia, mas foi em São Januário, na casa do Vasco, que Robinho deixou bem claro como o talento faz a diferença: uma enfiada de bola precisa para Deivid e um incrível sem-pulo resolveram um jogo duríssimo, dos melhores do campeonato.
Creio que há também o dedo de Vanderlei Luxemburgo nessa fase de Robinho. É um treinador que favorece os bons jogadores. Sabe retirar deles o que têm de melhor.
 
Torçamos para que tudo dê certo no amistoso do Brasil contra o Haiti. Fanáticos pelo futebol brasileiro, os haitianos vivem num país miserável e instável, que jamais teria como organizar uma festa para receber a seleção brasileira. A coisa só foi possível porque o governo Lula quis. O Brasil tem tropas no Haiti, onde comanda uma força de paz da ONU.
A partida, portanto, é um evento político que, por mais simpático que possa parecer, coloca o futebol a serviço de interesses do governo. É uma maneira de a política externa de Lula se aproveitar da imagem do futebol brasileiro para dar um colorido alegre e amigável a suas pretensões de liderança terceiro-mundista.
Além disso, o que preocupa nessa história é saber se a aproximação entre o Planalto e a CBF, que se aprofundou com essa partida, não vai descambar para a promiscuidade. O governo petista era uma esperança de que as coisas mudariam no esporte brasileiro. Mas a única coisa que realmente se mexe nessa área é o ministro Agnelo ("Medalhão") Queiroz: vive para cima e para baixo, da Copa América à Olimpíada, numa frenética e patética gincana de autopromoção.
Depois de conseguir esse favor da CBF e de chegar a pedir para o Brasil não marcar muitos gols contra o Haiti, o governo parece cada vez mais enturmado com a cartolagem.
É uma pena, porque a situação nunca foi tão propícia para uma mudança de fundo na organização do futebol brasileiro. O governo Lula, no entanto, não parece ter apetite para fazer o que dele se esperava.

Risco político
O Flamengo mostrou que tem todas as condições de sair do sufoco em que se meteu no primeiro turno. Já coloca o nariz fora d'água, mas a politicagem do clube só atrapalha. É muita briguinha, fofoca, gente atropelando e reclamando. Fica claro que os problemas do Flamengo começam fora do campo. Já vai para o terceiro técnico.

Na área
Ouço de Nuno Ramos, craque das artes plásticas e santista, observação sobre "Pelé Eterno": os maravilhosos lances do Rei no filme se concentram na área, em situações de gol. De fato, Pelé jogava muito também fora da área. E ver seus gols nos faz relembrar a beleza de alguns passes, lançamentos, deslocamentos e limpadas de bola.

E-mail mag@folhasp.com.br


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