São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2007

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Taekwondo amarga fim da fantasia

Um mês após os Jogos, confederação diz que resultado histórico no Pan só mudou a vida de Diogo Silva

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

No dia 17 de julho, o taekwondo brasileiro encerrava o Pan com o melhor desempenho da história da modalidade e com esperança de um futuro melhor. Exatamente um mês após o resultado no Rio, o esporte lamenta o fato de as medalhas, na prática, terem mudado a vida de apenas um atleta, o campeão Diogo Silva.
Nem o vice-presidente técnico da confederação brasileira, mestre Marcelino Soares, esconde que já jogou a toalha na luta por um patrocínio à entidade. "Se o investimento tivesse de vir, acho que ele já teria dado o sinal. Não tenho muita esperança de nada grande e hoje me pego triste em ver essa situação", conta o dirigente.
Ele aponta que o principal legado das quatro medalhas (uma de ouro, duas de prata e uma de bronze) obtidas pela equipe nacional no Rio beneficia sobretudo o brasileiro que conquistou a primeira medalha de ouro nos Jogos. E mais pela personalidade de Silva que por qualquer outro motivo.
"Diogo teve muito acesso à mídia, e o povo se identificou com ele pela origem humilde, pela maneira como se posicionou, pela liderança que ele demonstrou e pela trajetória de dificuldades", diz Soares.
O atleta, que narra ter passado o mês cheio de compromissos e eventos, concorda. "Meu jeito pesou", fala ele, sobre o período pós-Pan, no qual experimentou uma mudança em sua vida, inclusive realizando o sonho de dar um carro de presente a sua mãe.
"Acredito que teve um componente pessoal mesmo, pela minha história de vida, meu caráter. Falei o que tinha que ter falado na hora certa. Foi diferente [do protesto contra os dirigentes] da Olimpíada de Atenas, quando só ganhei tapa nas costas e dor de cabeça", diz o lutador, que, com o ouro no peito reclamou na entrevista coletiva que recebia R$ 600 mensais.
Soares aponta que essa verba deve passar para R$ 3.000 a partir do próximo mês e que a confederação pode apenas oferecer um reajuste na bolsa que os medalhistas do Pan recebem, já que o orçamento para 2008 continua idêntico ao que a entidade teve para este ano.
"Vou pedir ajuda ao COB [Comitê Olímpico Brasileiro], que tem ligações fortes com grandes empresas, para saber como ele pode ajudar na busca por um investidor privado, já que o percentual repassado pela Lei Piva continua o mesmo", destaca o dirigente, que até arrisca um diagnóstico para a dificuldade de sua confederação: "Talvez ainda falte um pouco de organização mesmo".
Se, ao tratar da elite, o tom do dirigente é de lamento -"Se o modelo do Pan, com concentração e treinos na minha academia, oferecida gratuitamente, não for mantido, é difícil cogitar medalha em Pequim"-, o mesmo não acontece quando o tema é a prática amadora.
"A procura pelas academias aumentou. Ouço relatos de ex-atletas que voltaram a praticar e de iniciantes, que buscaram o taekwondo motivados pelo Diogo", relata Soares. Ele agora espera a Olimpíada de Pequim para tentar transformar em patrocínio a crescente popularização do taekwondo no país.


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