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Taekwondo amarga fim da fantasia
Um mês após os Jogos, confederação diz que resultado histórico no Pan só mudou a vida de Diogo Silva
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
No dia 17 de julho, o taekwondo brasileiro encerrava o
Pan com o melhor desempenho
da história da modalidade e
com esperança de um futuro
melhor. Exatamente um mês
após o resultado no Rio, o esporte lamenta o fato de as medalhas, na prática, terem mudado a vida de apenas um atleta, o
campeão Diogo Silva.
Nem o vice-presidente técnico da confederação brasileira,
mestre Marcelino Soares, esconde que já jogou a toalha na
luta por um patrocínio à entidade. "Se o investimento tivesse de vir, acho que ele já teria
dado o sinal. Não tenho muita
esperança de nada grande e hoje me pego triste em ver essa situação", conta o dirigente.
Ele aponta que o principal legado das quatro medalhas
(uma de ouro, duas de prata e
uma de bronze) obtidas pela
equipe nacional no Rio beneficia sobretudo o brasileiro que
conquistou a primeira medalha
de ouro nos Jogos. E mais pela
personalidade de Silva que por
qualquer outro motivo.
"Diogo teve muito acesso à
mídia, e o povo se identificou
com ele pela origem humilde,
pela maneira como se posicionou, pela liderança que ele demonstrou e pela trajetória de
dificuldades", diz Soares.
O atleta, que narra ter passado o mês cheio de compromissos e eventos, concorda. "Meu
jeito pesou", fala ele, sobre o
período pós-Pan, no qual experimentou uma mudança em
sua vida, inclusive realizando o
sonho de dar um carro de presente a sua mãe.
"Acredito que teve um componente pessoal mesmo, pela
minha história de vida, meu caráter. Falei o que tinha que ter
falado na hora certa. Foi diferente [do protesto contra os dirigentes] da Olimpíada de Atenas, quando só ganhei tapa nas
costas e dor de cabeça", diz o lutador, que, com o ouro no peito
reclamou na entrevista coletiva
que recebia R$ 600 mensais.
Soares aponta que essa verba
deve passar para R$ 3.000 a
partir do próximo mês e que a
confederação pode apenas oferecer um reajuste na bolsa que
os medalhistas do Pan recebem, já que o orçamento para
2008 continua idêntico ao que
a entidade teve para este ano.
"Vou pedir ajuda ao COB
[Comitê Olímpico Brasileiro],
que tem ligações fortes com
grandes empresas, para saber
como ele pode ajudar na busca
por um investidor privado, já
que o percentual repassado pela Lei Piva continua o mesmo",
destaca o dirigente, que até arrisca um diagnóstico para a dificuldade de sua confederação:
"Talvez ainda falte um pouco
de organização mesmo".
Se, ao tratar da elite, o tom do
dirigente é de lamento -"Se o
modelo do Pan, com concentração e treinos na minha academia, oferecida gratuitamente, não for mantido, é difícil cogitar medalha em Pequim"-, o
mesmo não acontece quando o
tema é a prática amadora.
"A procura pelas academias
aumentou. Ouço relatos de ex-atletas que voltaram a praticar
e de iniciantes, que buscaram o
taekwondo motivados pelo
Diogo", relata Soares. Ele agora
espera a Olimpíada de Pequim
para tentar transformar em patrocínio a crescente popularização do taekwondo no país.
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