São Paulo, sábado, 17 de outubro de 2009

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JOSÉ GERALDO COUTO

Que venham os melhores


Quem gosta de futebol quer ver Brasil, Argentina, Holanda, Itália e Alemanha com força máxima na Copa


MUITA GENTE torceu para a Argentina perder do Uruguai e ficar fora da próxima Copa do Mundo. Mas, entre os brasileiros que gostam de futebol, a maioria ficou contente com a classificação, aos trancos e barrancos, da seleção de Maradona. Afinal, como brincou um amigo flamenguista, Copa do Mundo sem Argentina é como Série B sem Fluminense.
Gostar de futebol é desejar sempre que os melhores estejam em campo: os times mais fortes, os craques mais reluzentes, os talentos mais promissores.
Não é o caso de Dunga, que lamentou a classificação argentina dizendo: "Querer que seu inimigo continue vivo, isso não existe". O carrancudo treinador ainda completou, citando frase do ex-zagueiro Ricardo Rocha: "Se o seu inimigo está com sede, dê-lhe sal".
Esse mesquinho pragmatismo talvez valha para a guerra (uma estupidez em si mesma), mas não faz sentido para o esporte. Uma Copa do Mundo que só tivesse seleções como Nova Zelândia e Andorra seria fácil de vencer. Mas qual a graça?
Não há nada mais desagradável do que ouvir um Galvão Bueno dizer frases como: "Ainda bem que o craque Fulano está machucado e não vai jogar contra o Brasil", ou "Que bom que o juiz expulsou Beltrano, agora temos um jogador a mais". Fica a impressão de que o ideal dessa gente (Dunga, Galvão) seria ganhar por W.O. Daria menos trabalho.
Claro que eu gosto da vitória, seja numa final de Copa do Mundo ou num jogo de palitinhos. Mas nada substitui o prazer de uma boa disputa, daquelas em que, para superar o adversário, temos que superar a nós mesmos, nossas fraquezas e limitações.
O prazer de um bom embate está no desafio que ele impõe a nossas aptidões físicas, inteligência e jogo de cintura. Sem isso, não há prazer.
Ganhar de um adversário em desvantagem numérica ou desfalcado de seus principais valores é como vencer na esgrima um oponente sem florete ou nocautear um boxeador maneta.
Meus companheiros de pelada sabem o quanto me empenho pela vitória, apesar de o campo parecer cada vez maior e a bola cada vez mais fugidia. Mas confesso que sempre fico triste ao ouvir o apito final, mesmo que meu time esteja vencendo e o meu fôlego já tenha acabado. O barato não é vencer, o barato é jogar.
Enquanto o juiz não apita, todos os futuros, todos os prodígios, ainda são possíveis.

Futebol nas telas
Começa na próxima semana a 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um dos grandes eventos culturais da cidade e do país.
E o que isso tem a ver com futebol? Muita coisa. É que o filme que abre a mostra na quinta-feira, numa sessão para convidados, é "À Procura de Eric", de Ken Loach, estrelado pelo aposentado craque temperamental Eric Cantona. No papel de si mesmo, ele atua como uma espécie de conselheiro prático de um carteiro fanático por futebol.
Além disso, a mostra trará o controvertido documentário "Maradona by Kusturica", ou seja, o filme que o sérvio Emir Kusturica fez sobre o astro argentino. Um maluco falando sobre outro maluco. A ver.

jgcouto@uol.com.br


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