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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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AUTOMOBILISMO

Último remanescente do início dos GPs no Brasil, ex-mecânico afirma que correr atualmente é mais fácil

F-1 de hoje entedia Valério Bacellar, 100

TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Único sobrevivente dos primórdios do automobilismo brasileiro, o mecânico e piloto reserva Valério Bacellar faz hoje cem anos. Saudoso dos dias em que participou do Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, no circuito da Gávea, desde sua primeira edição, em 1933, diz que as corridas de hoje em dia são mais entediantes.
"As provas naquela época eram mais interessantes, pois dependiam muito da perícia dos pilotos", disse à Folha, por telefone. "Hoje em dia é tudo uma questão de velocidade, não é como antes, quando havia obstáculos e os lugares eram bem acidentados."
Apaixonado por carros desde pequeno, Bacellar abandonou as pistas depois de 1936 e passou a se dedicar à sua oficina, em São Cristóvão, de onde se aposentou há dez anos. Mas até hoje assiste às corridas na TV. "Gosto de tudo. F-1, Indy, o que for", afirmou.
"Correr com carro fabricado especialmente para isso é fácil. Difícil era correr naquela época, com carros adaptados", disse.
Mas é difícil fazer uma comparação entre as provas de automobilismo dos anos 30 e as de hoje. "Lembro que a gente tinha que colocar sacos de areia no percurso para os carros não derraparem."
Bacellar trabalhou com pilotos como Irineu Corrêa, Manuel de Teffé e Cícero Marques Porto.
"O ano de 36 foi de glória para mim", afirmou. "O carro que eu preparei ficou em quarto lugar entre os pilotos internacionais e em primeiro entre os nacionais."
Pai de Eneida, Enio e Vera Lúcia, avô de duas médicas e bisavô há dois anos, Bacellar diz que aqueles foram os dias mais felizes de sua vida. "A gente começava a treinar para as corridas com dois meses de antecedência. Nas horas vagas, na oficina, aproveitava para fazer os acertos nos carros."
Os treinos, porém, aconteciam durante a noite, já que as provas eram realizadas na rua e seria praticamente impossível treinar de dia. Pelo trabalho, não recebia salário. "Não me incomodava. Passava as noites em claro, comendo sanduíche e bebendo guaraná."
Hoje, ele leva uma vida bem mais tranquila. "Eu só faço três coisas na vida: dormir, comer e ler", disse o aposentado, que parou de dirigir aos 85 anos.


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