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AUTOMOBILISMO
Último remanescente do início dos GPs no Brasil, ex-mecânico afirma que correr atualmente é mais fácil
F-1 de hoje entedia Valério Bacellar, 100
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Único sobrevivente dos primórdios do automobilismo brasileiro,
o mecânico e piloto reserva Valério Bacellar faz hoje cem anos.
Saudoso dos dias em que participou do Grande Prêmio Cidade do
Rio de Janeiro, no circuito da Gávea, desde sua primeira edição,
em 1933, diz que as corridas de
hoje em dia são mais entediantes.
"As provas naquela época eram
mais interessantes, pois dependiam muito da perícia dos pilotos", disse à Folha, por telefone.
"Hoje em dia é tudo uma questão
de velocidade, não é como antes,
quando havia obstáculos e os lugares eram bem acidentados."
Apaixonado por carros desde
pequeno, Bacellar abandonou as
pistas depois de 1936 e passou a se
dedicar à sua oficina, em São Cristóvão, de onde se aposentou há
dez anos. Mas até hoje assiste às
corridas na TV. "Gosto de tudo.
F-1, Indy, o que for", afirmou.
"Correr com carro fabricado especialmente para isso é fácil. Difícil era correr naquela época, com
carros adaptados", disse.
Mas é difícil fazer uma comparação entre as provas de automobilismo dos anos 30 e as de hoje.
"Lembro que a gente tinha que
colocar sacos de areia no percurso
para os carros não derraparem."
Bacellar trabalhou com pilotos
como Irineu Corrêa, Manuel de
Teffé e Cícero Marques Porto.
"O ano de 36 foi de glória para
mim", afirmou. "O carro que eu
preparei ficou em quarto lugar
entre os pilotos internacionais e
em primeiro entre os nacionais."
Pai de Eneida, Enio e Vera Lúcia, avô de duas médicas e bisavô
há dois anos, Bacellar diz que
aqueles foram os dias mais felizes
de sua vida. "A gente começava a
treinar para as corridas com dois
meses de antecedência. Nas horas
vagas, na oficina, aproveitava para fazer os acertos nos carros."
Os treinos, porém, aconteciam
durante a noite, já que as provas
eram realizadas na rua e seria praticamente impossível treinar de
dia. Pelo trabalho, não recebia salário. "Não me incomodava. Passava as noites em claro, comendo
sanduíche e bebendo guaraná."
Hoje, ele leva uma vida bem
mais tranquila. "Eu só faço três
coisas na vida: dormir, comer e
ler", disse o aposentado, que parou de dirigir aos 85 anos.
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