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FUTEBOL
Não arriscar é um risco
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Na final do Mundial interclubes, o Boca Juniors jogou
o que sabe, e o Milan, como é frequente, atuou aquém do que poderia, pela qualidade de seus jogadores. O time italiano nunca
arrisca. Enfrentou o Boca como se
a equipe argentina fosse o Real
Madrid. Não arriscar é também
um risco.
Há muitos atletas na Europa
que são muito mais valorizados
do que merecem. Parte da imprensa brasileira repete o que eles
dizem. Temos a mania de achar
que tudo lá é melhor. Assistimos a
poucos jogos e a muitos melhores
momentos. São tantas partidas
que não dá tempo. Por isso, já
existem comentaristas especializados em melhores momentos.
No início de sua carreira, Seedorf impressionou e foi merecidamente elogiado. Depois, se tornou
apenas um bom jogador. Contra
o Boca, ele repetiu o seu confuso
futebol. Às vezes, faz uma boa jogada e é chamado de craque. Deve ser por causa do seu estilo diferente, do seu nome bonito e de
suas trancinhas.
Ao ver o Seedorf jogar, me lembrei do Djorkaeff. Logo após a Copa de 94, passei a acompanhar de
perto o futebol e assisti a muitas
partidas da seleção francesa. Na
Europa e no Brasil, só se falava no
Djorkaeff. Era o craque da seleção. Não entendia a razão. Era
um jogador mediano. Deveria ser
também por causa de seu bonito
nome.
Enquanto isso, ao lado do Djorkaeff, havia um jogador alto, elegante, cabeludo, que tinha um
perfeito domínio da bola com os
dois pés e uma excepcional técnica. Quando a bola chegava a seus
pés, o futebol se tornava simples,
claro, belo e eficiente. Ele a tratava com tanto carinho que a bola,
grata, corada e feliz, beijava os
seus pés. Mas pouco se falava dele.
O craque era o Djorkaeff.
Esse supercraque só poderia ser
o Zidane, o melhor e mais fascinante jogador do mundo.
Melhores do Brasileiro
A pequena queda de qualidade
e de público do primeiro Campeonato Brasileiro por pontos corridos, em relação ao anterior, não
foi por causa da fórmula de disputa, mas sim pela falta de planejamento dos clubes e pela saída de
muitos jogadores.
Quando os clubes se prepararem melhor, o campeonato tiver
20 times e jogos somente no final
de semana, a competição será
mais atraente. O meio de semana
ficaria reservado para a Libertadores, a Copa do Brasil, a Sul-Americana e as partidas da seleção, em datas diferentes. Não se
justifica os cinco classificados para a Libertadores não participarem da Copa do Brasil.
É difícil formar uma seleção do
torneio. Há vários atletas do mesmo nível. Vou citar alguns e deixar outros de fora. Podem reclamar.
Velloso foi o goleiro mais decisivo para a campanha de sua equipe. Fez defesas sensacionais. Citaria ainda Rogério Ceni, Julio César, Gomes, Silvio Luiz e Fábio.
Na lateral direita, Maurinho e
Cicinho foram os destaques. Cicinho deixa muitos espaços nas
suas costas. O mesmo acontece
com o excelente Léo na esquerda.
No Cruzeiro, Maurinho e Leandro defendem e atacam com
enorme eficiência.
Na zaga, Alex e Edu Dracena
foram os melhores. Os dois devem
ser titulares da seleção pré-olímpica. Além deles, Cris, Rodolfo e
Dininho jogaram muito bem. Dos
volantes, Maldonado e Renato foram os mais brilhantes, seguidos
do Dudu e do Fábio Simplício.
Maldonado jogou no meio-campo, e não como um terceiro zagueiro, como fazia no São Paulo.
Ele mostrou que tem muito mais
talento do que parecia.
Dos armadores mais ofensivos,
Alex foi espetacular, o craque do
campeonato. Diego, Daniel Carvalho, Tcheco e Elano também se
destacaram. No ataque, escolho
Robinho, Luis Fabiano e Araújo,
além de Nilmar, Marcel, os artilheiros Dimba e Renaldo e Dagoberto, a revelação do torneio.
Formaria o time com Velloso,
Maurinho, Alex, Edu Dracena e
Leandro; Maldonado, Renato,
Alex e Diego; Robinho e Luis Fabiano. Léo e Araújo entrariam
em todos os jogos no segundo
tempo. Robinho jogaria pela esquerda, de armador e atacante,
fazendo dupla função e com liberdade de se movimentar por todo o
campo. É assim que quero vê-lo
na seleção principal, no lugar do
Zé Roberto, que é um bom atleta.
Luxemburgo foi o melhor treinador. Leão e Tite confirmaram
as suas qualidades. Dos novos,
aponto Bonamigo, Rojas e, principalmente, Cuca. É preciso renovar dentro e fora de campo.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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