São Paulo, sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

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BOXE

Subestimado, mas só em parte

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ei, tu hijo tiene huevos" ("Ei, seu filho tem colhões"). Foi o comentário dirigido a Daniel Saucedo, pai e treinador de Fernando, enquanto ele deixava o ringue no sábado à noite.
O argentino parou, deu uma olhada para trás e sorriu, como se quisesse dizer: "Não disse?".
Reconheço que fui um dos que acharam que Saucedo perderia rápido, cheguei a pensar até que se atiraria na lona (repararam no tique nervoso -a mão que sempre mantinha na orelha direita- durante eventos promocionais?).
Mas, por que não pensar isso?
Afinal, Saucedo foi chamado à última hora para enfrentar Popó, tinha zero nocaute, chegou a lutar como supergalo (até 55,3 kg) e seu peso ideal é o dos superpenas (até 58,9 kg) -o combate de sábado aconteceu pouco acima da categoria dos leves (até 61,2 kg).
Mas Saucedo agüentou o bombardeio que tomou como homem. No penúltimo e no último e décimo assalto passei a torcer para que não caísse. Afinal, sua valentia merecia ser recompensada.
Depois do combate, Popó fez questão de dar uma "dura" na imprensa brasileira. Afirmou que a mídia subestimara Saucedo.
Popó acertou em parte. Talvez o "coração" do argentino tenha sido subestimado, nada mais. De resto, foi o que todos esperavam.
Como todos viram e o próprio baiano admitiu, Saucedo não veio para vencer, mas para terminar em pé e manter a escrita de jamais ter perdido por nocaute.
Não levou perigo. Pouco ofereceu ofensivamente. Nas (raríssimas) vezes em que pôs golpes justos, pouco afetou o brasileiro, que em nenhum momento bambeou.
Ou seja, Saucedo surpreendeu só na durabilidade (embora tecnicamente também tenha se mostrado superior do que grande parte dos pugilistas da Argentina).
Foi interessante notar que Popó deixou de lado o estilo "dançarino" de suas últimas lutas. Ele descobriu que essa não é sua praia.
Mais interessante foi ouvir de sua boca que colocará mais pressão em seu próximo rival, Julio Diaz, campeão dos leves da FIB.
Mas, contra Diaz, certamente vai precisar de mais inspiração do que demonstrou contra Saucedo.
O brasileiro reclamou que a imprensa subestimara o argentino, porém ele próprio não pareceu tão concentrado contra Saucedo.
Acho que Popó não estava tão focado como estaria caso fosse uma disputa de cinturão. Por outro lado, Saucedo deveria estar considerando o "amistoso" com o brasileiro como disputa de título.
Contra Diaz, Popó não apenas terá de manter o (velho) estilo agressivo que reencontrou, mas também deixá-lo mais eficiente e subir ao ringue com mais fome.
Sim, pois apesar de Popó dizer que Diaz será mais fácil, porque virá para a luta, o forte do mexicano baseado nos EUA não é a briga franca, mas o jogo de boxe, assim como os contra-golpes.
Na minha opinião, o brasileiro deve fazer contra Diaz o que ele faz de melhor: atacar, soltar os braços, ir para a frente, pressionar e partir para a briga franca.
É bom ter mais recursos do que a briga. Mas a decisão mais certa no caso é não substituí-la totalmente por sapatilhas de dança.

No ginásio
O Brasileiro amador feminino tem suas finais hoje e amanhã no ginásio do Ibirapuera (SP), a partir das 18h, com entrada franca.

No sofá 1
Os dois carrascos do norte-americano Roy Jones Jr., os meio-pesados Antonio Tarver e Glen Johnson, enfrentam-se na madrugada de domingo, no Staples Center, em Los Angeles. A programação terá transmissão ao vivo para o Brasil a partir da 0h, pelo canal HBO Plus. Tarver é favorito na proporção de 3,5 por 1 nas bolsas de apostas.

No sofá 2
A ESPN reprisa o combate Bronco McKart x Alex Bunema no ""Melhor do Friday Night Fights", na madrugada da próxima quinta.

E-mail eohata@folhasp.com.br


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