São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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A dura vida amorosa dos colorados

MARCELO BACKES
ESPECIAL PARA A FOLHA

ANGELINA JOLIE à minha frente, enfim! Hoje é dia de conquistar o mundo!
Eu era jovem demais nos 70, quando Gabriela Cravo e Canela e Darlene Glória aboliram o sutiã dizendo sim aos outros; e nas grandes conquistas que levaram meu Colorado ao tri brasileiro ainda não me conhecia por gente; não pude gozar a mulher invicta de 79.
Em 80, perdemos a Libertadores; sofri, mas ainda era criança pra chorar o não de uma coleguinha uruguaia.
Depois disso sofri com o Grêmio multicampeão.
Vi o inimigo desfilando com modelos e atrizes nacionais e internacionais, enquanto tinha de me contentar com a mulherzinha de algum gauchão. Tri ser tetra, eu dizia, e estufava o peito pra gritar que o rival fazia a festa no mundo enquanto eu comia na casa dele.
Em 87, fui segundo no Brasileiro; aquele Flamengo era invencível.
Em 88, decidi de vez que bastava da comidinha caseira e resolvi ver o que a baiana tem; me dei mal; até me vinguei com a mesma baiana depois, mas resolvi dar um jeito numa paraguaia, que me domou. Duro perder o Brasileiro para o Bahia, batê-lo na Libertadores, ganhar do Olimpia fora pra ser eliminado em casa, e ver passar a chance.
Eu chorei como guri, apesar dos 15 anos, e me fiz adulto barbado de um dia pra outro, aprendendo que o destino é sofrer.
Quando ganhei a Copa do Brasil, em 92, foi com um pênalti inexistente; era como se depois de conquistar a fluminense mais bonita, o esposo da cuja nos surpreendesse, querendo participar...
Mais tarde ainda gozei com o Grêmio na Segundona. Espalhei ao mundo que pouco adiantam tantas beldades para ser violentado duas vezes. Depois de largar mares tropicais por terras européias sem deixar de sofrer no futebol, voltei ao Brasil em 2005 pra encarar mais um vice no Brasileiro. Tudo na mesma!
Sim, depois dessa confusão de mulheres, faturei a Shakira paulistana na Libertadores de 2006, por assim dizer. E agora la Jolie em traje catalão!
E com quatro pedras na mão, logo após ter massacrado um mexicano.
Acho que nem ficarei triste se levar umas pauladas. Mas vou tentar! E a esperança é a última que morde; se for num beijo, então, agüento com gosto. Moça difícil, sim, mas time imbatível não! Nós, colorados, não vamos só a pé, mas até de joelhos, para o que der e vier.


MARCELO BACKES, nascido em 1973, é escritor, tradutor e doutor em germanística e romanística pela Universidade de Freiburg (ALE) e autor de "Estilhaços" (Record, 2006), entre outras obras

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