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A dura vida amorosa dos colorados
MARCELO BACKES
ESPECIAL PARA A FOLHA
ANGELINA JOLIE à
minha frente, enfim! Hoje é dia de
conquistar o mundo!
Eu era jovem demais
nos 70, quando Gabriela
Cravo e Canela e Darlene
Glória aboliram o sutiã
dizendo sim aos outros; e
nas grandes conquistas
que levaram meu Colorado ao tri brasileiro ainda não me conhecia por
gente; não pude gozar a
mulher invicta de 79.
Em 80, perdemos a Libertadores; sofri, mas
ainda era criança pra
chorar o não de uma coleguinha uruguaia.
Depois disso sofri com
o Grêmio multicampeão.
Vi o inimigo desfilando
com modelos e atrizes
nacionais e internacionais, enquanto tinha de
me contentar com a mulherzinha de algum gauchão. Tri ser tetra, eu dizia, e estufava o peito pra
gritar que o rival fazia a
festa no mundo enquanto eu comia na casa dele.
Em 87, fui segundo no
Brasileiro; aquele Flamengo era invencível.
Em 88, decidi de vez
que bastava da comidinha caseira e resolvi ver o
que a baiana tem; me dei
mal; até me vinguei com
a mesma baiana depois,
mas resolvi dar um jeito
numa paraguaia, que me
domou. Duro perder o
Brasileiro para o Bahia,
batê-lo na Libertadores,
ganhar do Olimpia fora
pra ser eliminado em casa, e ver passar a chance.
Eu chorei como guri,
apesar dos 15 anos, e me
fiz adulto barbado de um
dia pra outro, aprendendo que o destino é sofrer.
Quando ganhei a Copa
do Brasil, em 92, foi com
um pênalti inexistente;
era como se depois de
conquistar a fluminense
mais bonita, o esposo da
cuja nos surpreendesse,
querendo participar...
Mais tarde ainda gozei
com o Grêmio na Segundona. Espalhei ao mundo
que pouco adiantam tantas beldades para ser violentado duas vezes.
Depois de largar mares
tropicais por terras européias sem deixar de sofrer no futebol, voltei ao
Brasil em 2005 pra encarar mais um vice no Brasileiro. Tudo na mesma!
Sim, depois dessa confusão de mulheres, faturei a Shakira paulistana
na Libertadores de 2006,
por assim dizer. E agora
la Jolie em traje catalão!
E com quatro pedras na
mão, logo após ter massacrado um mexicano.
Acho que nem ficarei
triste se levar umas pauladas. Mas vou tentar! E a
esperança é a última que
morde; se for num beijo,
então, agüento com gosto. Moça difícil, sim, mas
time imbatível não! Nós,
colorados, não vamos só
a pé, mas até de joelhos,
para o que der e vier.
MARCELO BACKES, nascido em 1973, é
escritor, tradutor e doutor em germanística e romanística pela Universidade de
Freiburg (ALE) e autor de "Estilhaços"
(Record, 2006), entre outras obras
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