São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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Daiane combate racismo e batalha lugar na história

DA REPORTAGEM LOCAL

Única ginasta negra na finalíssima da Copa do Mundo em São Paulo, Daiane dos Santos entrará hoje no tablado do ginásio do Ibirapuera em busca de algo que vai além de um pódio histórico. Tentará, com uma vitória, amenizar o preconceito que ronda à sua volta.
"Dizem que no nosso país não existe preconceito, não tem racismo. Tem, sim, e é um preconceito camuflado."
Inscrita com o número 1 no maior torneio da história da ginástica brasileira, Daiane afirma que mostrará a verdadeira cara do Brasil na final do solo.
"Não temos muitos atletas negros na ginástica. Mas sei que posso ajudar a mudar isso com cada resultado que obtenho", diz Daiane, que pode se tornar hoje a principal atleta negra da história da ginástica.
Segundo a Federação Internacional de Ginástica, nenhuma negra conseguiu um bicampeonato em torneios de expressão da modalidade.
Até hoje as principais conquistas foram obtidas pela norte-americana Dominique Dawes, que obteve um ouro (equipe) e dois bronzes olímpicos.
Daiane diz que firmar seu nome na história não será tão importante quanto ajudar a reduzir o preconceito no país.
"Talvez por ser famosa e as pessoas me reconhecerem, eu não sofro discriminação hoje, mas fico triste e revoltada porque na minha família isso tem acontecido", afirma a gaúcha.
Ela cita casos como a da sobrinha de quatro anos, que, brincando dentro de uma loja em Porto Alegre, esbarrou em uma moça que acreditou que estivesse sendo roubada. "A mulher fez um escândalo. Ela surtou. Minha sobrinha é uma criança. Isso é revoltante, pois a cor de pele é insignificante."
"É nítida a diferença de tratamento que dão, por exemplo, ao meu primo quando estou com ele e quando ele está sozinho. É ridículo", acrescenta.
Apesar de a questão do racismo não preocupar tanto a ginástica como ocorre no futebol, a FIG torce pelo sucesso da gaúcha e mira o desenvolvimento da modalidade na África. "A Daiane é uma atleta brilhante. Que ela indique o futuro [para a entrada de negros na ginástica]", declara o presidente Bruno Grandi, que comemora o surgimento de bons atletas no continente africano.
Descoberta em 95, quando brincava numa praça no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, Daiane, 23, diz que fora do país também há preconceito contra brasileiros. "Acham que só fazemos festa. Não é assim. E eventos como esse servem para que a gente mostre a nossa cara, a cara do Brasil, que trabalha muito", diz ela, que é líder do ranking mundial de solo e tem seu nome (Dos Santos) inscrito no código de pontuação da FIG.
Primeira negra a ser campeã mundial de solo, em Anaheim-03, e da finalíssima da Copa, em Birmingham-04, Daiane busca hoje o bi e seu terceiro pódio em casa -já venceu no Rio-04 e em São Paulo-05. E tem como trunfo um novo elemento.
"É um tsukahara estendido [uma pirueta com mortal de costas, com as pernas esticadas]. Sou a terceira atleta do mundo a apresentá-lo e espero que me ele dê sorte." Segundo ela, até a música, "Isto aqui, o que é?", pode faltar. "Se for como em 2005 [a música falhou, e ela completou a série embalada por palmas] e eu ganhar, pode acontecer de novo."0 (CCP)

Finalíssima da Copa
Band, ao vivo, às 14h


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