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Daiane combate racismo e batalha lugar na história
DA REPORTAGEM LOCAL
Única ginasta negra na finalíssima da Copa do Mundo em
São Paulo, Daiane dos Santos
entrará hoje no tablado do ginásio do Ibirapuera em busca
de algo que vai além de um pódio histórico. Tentará, com
uma vitória, amenizar o preconceito que ronda à sua volta.
"Dizem que no nosso país
não existe preconceito, não
tem racismo. Tem, sim, e é um
preconceito camuflado."
Inscrita com o número 1 no
maior torneio da história da ginástica brasileira, Daiane afirma que mostrará a verdadeira
cara do Brasil na final do solo.
"Não temos muitos atletas
negros na ginástica. Mas sei
que posso ajudar a mudar isso
com cada resultado que obtenho", diz Daiane, que pode se
tornar hoje a principal atleta
negra da história da ginástica.
Segundo a Federação Internacional de Ginástica, nenhuma negra conseguiu um bicampeonato em torneios de expressão da modalidade.
Até hoje as principais conquistas foram obtidas pela norte-americana Dominique Dawes, que obteve um ouro (equipe) e dois bronzes olímpicos.
Daiane diz que firmar seu nome na história não será tão importante quanto ajudar a reduzir o preconceito no país.
"Talvez por ser famosa e as
pessoas me reconhecerem, eu
não sofro discriminação hoje,
mas fico triste e revoltada porque na minha família isso tem
acontecido", afirma a gaúcha.
Ela cita casos como a da sobrinha de quatro anos, que,
brincando dentro de uma loja
em Porto Alegre, esbarrou em
uma moça que acreditou que
estivesse sendo roubada. "A
mulher fez um escândalo. Ela
surtou. Minha sobrinha é uma
criança. Isso é revoltante, pois a
cor de pele é insignificante."
"É nítida a diferença de tratamento que dão, por exemplo,
ao meu primo quando estou
com ele e quando ele está sozinho. É ridículo", acrescenta.
Apesar de a questão do racismo não preocupar tanto a ginástica como ocorre no futebol,
a FIG torce pelo sucesso da
gaúcha e mira o desenvolvimento da modalidade na África. "A Daiane é uma atleta brilhante. Que ela indique o futuro
[para a entrada de negros na ginástica]", declara o presidente
Bruno Grandi, que comemora o
surgimento de bons atletas no
continente africano.
Descoberta em 95, quando
brincava numa praça no bairro
Menino Deus, em Porto Alegre,
Daiane, 23, diz que fora do país
também há preconceito contra
brasileiros. "Acham que só fazemos festa. Não é assim. E
eventos como esse servem para
que a gente mostre a nossa cara, a cara do Brasil, que trabalha
muito", diz ela, que é líder do
ranking mundial de solo e tem
seu nome (Dos Santos) inscrito
no código de pontuação da FIG.
Primeira negra a ser campeã
mundial de solo, em Anaheim-03, e da finalíssima da Copa, em
Birmingham-04, Daiane busca
hoje o bi e seu terceiro pódio
em casa -já venceu no Rio-04 e
em São Paulo-05. E tem como
trunfo um novo elemento.
"É um tsukahara estendido
[uma pirueta com mortal de
costas, com as pernas esticadas]. Sou a terceira atleta do
mundo a apresentá-lo e espero
que me ele dê sorte." Segundo
ela, até a música, "Isto aqui, o
que é?", pode faltar. "Se for como em 2005 [a música falhou, e
ela completou a série embalada
por palmas] e eu ganhar, pode
acontecer de novo."0
(CCP)
Finalíssima da Copa
Band, ao vivo, às 14h
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