São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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longe da bola

CBF abre caixa para rincões da política

Entidade doa R$ 345 mil para 12 candidatos nas eleições municipais, a maioria de cidades nanicas e pobres do interior

Políticos dizem que fizeram pedido de verba à entidade diretamente e foram logo atendidos; confederação não comenta o caso


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
GUSTAVO ALVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Além da pobreza e da pequena população (variam de 8.700 a 32,7 mil habitantes), a CBF, a Confederação Brasileira de Futebol, une os municípios de Cocos, no oeste baiano, Comercinho, no Vale do Jequitinhonha mineiro, e São José do Belmonte, no sertão pernambucano.
Todas essas cidades tiveram nas eleições municipais de outubro passado candidatos a prefeito que receberam doações, em dinheiro, da CBF.
Segundo dados do TSE, o Tribunal Superior Eleitoral, a confederação tirou R$ 345 mil de seus cofres para financiar políticos no pleito municipal.
O que surpreende é o tamanho político dos candidatos, e de suas cidades, agraciados com as verbas da CBF.
A entidade que cuida do futebol nacional financiou candidatos em 11 cidades. Com exceção de Teresina e Uberlândia (onde só apoiou quem tentou uma vaga como vereador), nenhuma tem mais de 77 mil habitantes.
Foram, por exemplo, R$ 10 mil repassados a Charles Ferraz, candidato do PT à Prefeitura de Itinga, cidade mineira com 14,6 mil moradores.
A insignificância política dos beneficiados pela CBF é tamanha que a entidade foi, na maioria dos casos, a principal financiadora desses candidatos.
Dos 12 que receberam dinheiro da confederação, 8 ficaram nessa situação. Em três casos, a CBF dividiu com alguém o recorde de doação. Em São José do Belmonte (PE), ficou em segundo lugar nas doações a Vital Maria dos Santos, do PTB.
O valor oferecido pela CBF respondeu, no mínimo, por 22% do dinheiro arrecadado por seus candidatos, caso de José Barreira de Alencar Filho, de Caetité, na Bahia.
Em alguns casos, a participação foi muito maior, como em Lagoa Grande, Minas Gerais, onde os R$ 10 mil recebidos por Edson Sabino de Lima, do PMDB, responderam por 77% de todo o dinheiro arrecadado por sua candidatura.
Procurada pela Folha desde anteontem, a assessoria de imprensa da CBF informou que Ricardo Teixeira, o presidente da entidade, está no Japão em eventos da Fifa e não conseguiu fazer contato com ele para falar sobre a política de doações da confederação.
Já os candidatos que a reportagem conseguiu ouvir tiveram respostas simplórias para explicar como receberam verbas para a eleição da CBF.
"Nós pedimos dinheiro em vários lugares. A federação mineira e a CBF, por exemplo. Só a CBF nos atendeu, mas eu não conheço ninguém lá dentro", diz Rogério Rocha Rafael, candidato do PT em Comercinho agraciado com R$ 30 mil.
"Teve um pessoal que tratou da parte financeira na campanha. Eu não posso te dizer como veio porque eu não sei. Só sei que recebemos o dinheiro", falou José Barreira de Alencar Filho, candidato do PSB à Prefeitura de Caetité, na Bahia. Ele recebeu R$ 30 mil da CBF.
"O dinheiro chegou certinho aqui pra mim. Eu recebi porque fui candidato a prefeito. Eu mesmo fiz o pedido", explica Vital Maria dos Santos, de São José do Belmonte.
Explicação mais plausível tem Junior Carlos Piaia, candidato do PC do B à Prefeitura de Ijuí, no interior gaúcho.
Sobre a doação que recebeu (R$ 50 mil), Piaia cita Emídio Perondi como intermediário da solicitação junto à CBF. "Acredito que tenha sido ele, que nos ajudou bastante na campanha e tem relação com o futebol", declarou. Perondi é ex-presidente da federação gaúcha e um dos maiores aliados de Ricardo Teixeira.
Bom relacionamento é mesmo um caminho para explicar escolhas da CBF nas eleições municipais de outubro.
Cocos, onde Alexnaldo Correia Moreira, do PR, recebeu R$ 20 mil, faz parte da base política de José Rocha, deputado federal do mesmo PR que é hoje o parlamentar mais atuante pelos interesses dos cartolas.
O candidato recordista em verbas recebidas pela CBF é o peemedebista Arthur Henrique Gonçalves. Na sua candidatura à reeleição em Piraí, no Estado do Rio, ele recebeu R$ 100 mil da confederação.
Piraí é a cidade onde Ricardo Teixeira tem uma fazenda, na qual costuma passar férias.


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