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longe da bola
CBF abre caixa para rincões da política
Entidade doa R$ 345 mil para 12 candidatos nas eleições municipais, a maioria de cidades nanicas e pobres do interior
Políticos dizem que fizeram pedido de verba à entidade diretamente e foram logo atendidos; confederação não comenta o caso
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
GUSTAVO ALVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Além da pobreza e da pequena população (variam de 8.700
a 32,7 mil habitantes), a CBF, a
Confederação Brasileira de Futebol, une os municípios de Cocos, no oeste baiano, Comercinho, no Vale do Jequitinhonha
mineiro, e São José do Belmonte, no sertão pernambucano.
Todas essas cidades tiveram
nas eleições municipais de outubro passado candidatos a
prefeito que receberam doações, em dinheiro, da CBF.
Segundo dados do TSE, o Tribunal Superior Eleitoral, a confederação tirou R$ 345 mil de
seus cofres para financiar políticos no pleito municipal.
O que surpreende é o tamanho político dos candidatos, e
de suas cidades, agraciados
com as verbas da CBF.
A entidade que cuida do futebol nacional financiou candidatos em 11 cidades. Com exceção
de Teresina e Uberlândia (onde
só apoiou quem tentou uma vaga como vereador), nenhuma
tem mais de 77 mil habitantes.
Foram, por exemplo, R$ 10
mil repassados a Charles Ferraz, candidato do PT à Prefeitura de Itinga, cidade mineira
com 14,6 mil moradores.
A insignificância política dos
beneficiados pela CBF é tamanha que a entidade foi, na maioria dos casos, a principal financiadora desses candidatos.
Dos 12 que receberam dinheiro da confederação, 8 ficaram nessa situação. Em três casos, a CBF dividiu com alguém
o recorde de doação. Em São
José do Belmonte (PE), ficou
em segundo lugar nas doações a
Vital Maria dos Santos, do PTB.
O valor oferecido pela CBF
respondeu, no mínimo, por
22% do dinheiro arrecadado
por seus candidatos, caso de
José Barreira de Alencar Filho,
de Caetité, na Bahia.
Em alguns casos, a participação foi muito maior, como em
Lagoa Grande, Minas Gerais,
onde os R$ 10 mil recebidos por
Edson Sabino de Lima, do
PMDB, responderam por 77%
de todo o dinheiro arrecadado
por sua candidatura.
Procurada pela Folha desde
anteontem, a assessoria de imprensa da CBF informou que
Ricardo Teixeira, o presidente
da entidade, está no Japão em
eventos da Fifa e não conseguiu fazer contato com ele para
falar sobre a política de doações da confederação.
Já os candidatos que a reportagem conseguiu ouvir tiveram
respostas simplórias para explicar como receberam verbas
para a eleição da CBF.
"Nós pedimos dinheiro em
vários lugares. A federação mineira e a CBF, por exemplo. Só
a CBF nos atendeu, mas eu não
conheço ninguém lá dentro",
diz Rogério Rocha Rafael, candidato do PT em Comercinho
agraciado com R$ 30 mil.
"Teve um pessoal que tratou
da parte financeira na campanha. Eu não posso te dizer como veio porque eu não sei. Só
sei que recebemos o dinheiro",
falou José Barreira de Alencar
Filho, candidato do PSB à Prefeitura de Caetité, na Bahia. Ele
recebeu R$ 30 mil da CBF.
"O dinheiro chegou certinho
aqui pra mim. Eu recebi porque fui candidato a prefeito. Eu
mesmo fiz o pedido", explica
Vital Maria dos Santos, de São
José do Belmonte.
Explicação mais plausível
tem Junior Carlos Piaia, candidato do PC do B à Prefeitura de
Ijuí, no interior gaúcho.
Sobre a doação que recebeu
(R$ 50 mil), Piaia cita Emídio
Perondi como intermediário
da solicitação junto à CBF.
"Acredito que tenha sido ele,
que nos ajudou bastante na
campanha e tem relação com o
futebol", declarou. Perondi é
ex-presidente da federação
gaúcha e um dos maiores aliados de Ricardo Teixeira.
Bom relacionamento é mesmo um caminho para explicar
escolhas da CBF nas eleições
municipais de outubro.
Cocos, onde Alexnaldo Correia Moreira, do PR, recebeu
R$ 20 mil, faz parte da base política de José Rocha, deputado
federal do mesmo PR que é hoje o parlamentar mais atuante
pelos interesses dos cartolas.
O candidato recordista em
verbas recebidas pela CBF é o
peemedebista Arthur Henrique Gonçalves. Na sua candidatura à reeleição em Piraí, no
Estado do Rio, ele recebeu R$
100 mil da confederação.
Piraí é a cidade onde Ricardo
Teixeira tem uma fazenda, na
qual costuma passar férias.
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