São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Promotoria vê indícios de lavagem de dinheiro na transferência de Alex

Itália investiga negócios da Parmalat no esporte

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

A promotoria italiana quer abrir a caixa-preta do futebol. A suspeita é que a Parmalat tenha usado o esporte para desviar recursos para empresas em paraísos fiscais e também para lavar dinheiro.
A movimentação financeira e os balanços do Parma servirão como ponto de partida das investigações, já que, desde que Enrico Bondi foi nomeado interventor da multinacional, foi descoberta uma série de irregularidades na administração do time de futebol.
Balanços do clube italiano teriam sido manipulados e os valores declarados pela compra e venda de jogadores nos últimos quatro anos não bateriam com a entrada e saída de recursos do caixa.
Uma das irregularidades apontadas deu-se na contratação de Alex, hoje no Cruzeiro. Segundo a contabilidade do Parma, o meia transferiu-se para a Itália por US$ 15 milhões. O valor, no entanto, não teria saído dos cofres do clube, o que levou a promotoria a suspeitar de lavagem de dinheiro.
O Parma, que tem 98,7% de suas ações em mãos da Parmalat, era presidido por Stefano Tanzi, filho de Calisto Tanzi, fundador e ex-controlador da multinacional.
Nesta semana, promotores de Milão devem pedir às autoridades italianas que contatem os governos estrangeiros a fim de fazer o cruzamento de dados das operações financeiras do clube de Parma com o exterior.
Segundo a promotoria, há indícios de que a manipulação de balanços começou no final dos anos 80. Como a aquisição do Parma deu-se em 1990 e a partir daí a empresa passou a atuar forte no futebol, especialmente na América do Sul, onde manteve contrato de co-gestão com o Palmeiras de 1992 a 2000, ela acha natural que o esporte se torne um dos focos das investigações.
Giovanni Bonici, presidente do Deportivo Italchacao, clube venezuelano administrado pela multinacional, foi preso. Principal executivo da Parmalat Venezuela e da Bonlat, subsidiária da empresa nas Ilhas Cayman, ele é acusado de desvio e lavagem de dinheiro por intermédio, inclusive, da compra e venda de jogadores.
Recursos que supostamente seriam investidos no clube teriam sido enviados para empresas em paraísos fiscais.
Além das ações no futebol venezuelano, a Parmalat atuou no Brasil, onde tinha contrato também com Juventude e Etti-Jundiaí e patrocínio do Santa Cruz, na Argentina, Uruguai e Chile. Fez ações também no Equador, Paraguai e Colômbia.
Mas seu principal investimento foi mesmo no Parma, onde chegou a aplicar mais de US$ 1,5 bilhão. Tendo subido para a primeira divisão do Italiano em 1990, mesmo ano em que passou para a administração da Parmalat, o time tornou-se um dos principais do país nos últimos anos.
Ganhou três vezes a Copa da Itália (1991/92, 1998/99 e 2001/02), uma a Supercopa da Europa (1993), duas a Copa da Uefa (1994/95 e 1998/99) e uma a Supercopa da Itália (1999).
Agora, porém, não sabe como será o futuro. Com o pedido de concordata da Parmalat, a prisão de Calisto Tanzi, acusado, entre outras coisas, de fraude contábil, e o afastamento de seus familiares do Parma, o clube procura novos parceiros para poder se manter.
Antonio Marzano, ministro da Indústria italiano, já sugeriu a Enrico Bondi, especialista em sanear as finanças de empresas em crise, que procure se desfazer do time, tentando negociá-lo com outros grupos da região.
Marzano alega que o futebol não deve ser prioridade para uma empresa que atua, primordialmente, no setor alimentício.
Bondi, no entanto, não concorda com ele e, apesar de o clube ter fechado 2003 com prejuízo superior a US$ 90 milhões, acha que o Parma, se bem administrado, tem condições de gerar lucro.


Colaborou Luís Ferrari, da Reportagem Local

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