São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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TÊNIS DE MESA

Confederação faz parceria com igreja e lança centro de treinamento para formar atletas sino-brasileiros

São Paulo terá chineses "made in Brazil"

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma parceria inédita entre a CBTM (Confederação Brasileira de Tênis de Mesa) e a igreja católica Sagrada Família de São Paulo pretende atrair para a modalidade jovens de ascendência chinesa. A entidade alugou um salão anexo ao templo, onde inaugura hoje um novo centro de treinamento.
O objetivo é tentar revelar jogadores, oriundos de um universo de cerca de 250 mil chineses e descendentes, que vivem na capital paulista. O tênis de mesa é o esporte mais popular da China.
A iniciativa vai na contramão da estratégia adotada por outros países e muito criticada pelos dirigentes e mesa-tenistas brasileiros -naturalizar chineses já consagrados na modalidade.
"Somos contra [a importação de jogadores], ainda que seja o caminho mais cômodo, que permitiria ao Brasil ter um Guga do tênis de mesa num piscar de olhos", disse o presidente da CBTM, Alaor Gaspar Pinto Azevedo.
Ele contou que o centro de treinamento -localizado no bairro de Vila Olímpia e estruturado com a verba da Lei Piva- receberá treinos da seleção durante o período da manhã. "Às noites, o local se transformará num clube chinês", explicou o dirigente, que pretende atrair o investimento de empresas do país asiático.
Wei Jian Ren, técnico da seleção feminina, será o encarregado do projeto, que visa incrementar o intercâmbio entre os países.
A meta de Azevedo é enviar duplas compostas por um jogador brasileiro e outro sino-brasileiro para estágios na China. "Assim o nativo não sentiria tanto a barreira cultural de viver do outro lado do mundo", justificou o presidente, que, pensando na Olimpíada de 2008, em Pequim, se matriculou em um curso de chinês.
Hugo Hoyama, 34, atualmente o melhor mesa-tenista brasileiro -que tem ascendência japonesa-, louvou a iniciativa. "Uma viagem para a China com alguém que consegue se comunicar lá seria ótima. A maior dificuldade que eu senti nas vezes em que estive naquele país foi transpor a barreira do idioma", disse o atleta.
O vínculo com a igreja foi estabelecido por Wei, que procurou o padre Thomas Xiao Shihuj, 28, para viabilizar o projeto.
"A idéia é muito boa. A igreja é mais freqüentada por pessoas mais velhas e o esporte ajuda a atrair os jovens", falou o sacerdote, que vive no Brasil há sete anos.
Azevedo revelou também outro interesse de Shihuj: converter para o catolicismo a população egressa da China continental, onde a liberdade de culto religioso sofreu restrições a partir da revolução comunista de 1949.
Questionado sobre essa estratégia, Shihuj se esquivou de abordar o assunto. "Nosso público-alvo é qualquer um que tenha sangue chinês. Não fazemos restrição ou esforço especial para converter fiéis e não nos importamos com o local onde nasceram. A palavra católico significa universal", declarou o sacerdote, avesso a falar sobre a política da China e a relação entre o país e Taiwan.


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