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Sempre é tempo de mudar o dono do banco
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Engana-se quem julga que a
conquista do México, em 70,
não teve o dedo de Zagallo,
simples herdeiro do time de
Saldanha. Teve, sim, e decisivo. Até mesmo a contragosto
de Zagallo, forçado pela imprensa a escalar determinados
jogadores que não eram de seu
apreço. Este foi o caso de Tostão como centroavante. Assim
como o de Rivellino (Zagallo
preferia Paulo César para fazer a função de terceiro -ou
já seria quarto?- homem de
meio-campo). Isso para não
falarmos em Clodoaldo (pasmem!), já que a preferência do
técnico, ao assumir na bucha
da Copa, chegou a chamar
Carlos Roberto, um cabeça-de-área botafoguense da
sua mais estreita confiança.
Mas Zagallo, como bem lembrou o Juca Kfouri ontem, improvisou Piazza de quarto-zagueiro e efetivou Everaldo na
lateral-esquerda, no lugar de
Marco Antônio.
O fato é que o time do tri não
era o time das eliminatórias.
Muito menos o da fase de preparação de Saldanha, que se
embaralhou todo, tentando
encaixar Dirceu Lopes e Zé
Carlos, numa estrutura inconcebível à época.
Mas o mais significativo foi a
alteração de ordem tática.
Com Saldanha, jogávamos
num já clássico 4-2-4. Com Zagallo, recaímos no 4-3-3 do bi.
Isso se aceitarmos essa numerologia consagrada pelos experts, que se esquecem do recuo permanente de Pelé, o que
resultaria em 4-3-3 de Saldanha e 4-4-2 de Feola a Zagallo.
Vou por aí, meio nas águas
do Juca, para chegar onde quero: minha perplexidade diante
perplexidade de Zagallo.
Quando assumiu a seleção
do tri, o jovem treinador chegou com a receita pronta, as
idéias definidas e os nomes escolhidos. Por força das circunstâncias, trocou os nomes
para manter as idéias. Hoje, o
veterano treinador vive trocando de idéias para manter
os mesmos nomes.
Teve quatro anos para embicar esse time em direção ao tetra, dispondo de um elenco fulgurante à disposição. E, quando chega a hora de deslanchar,
empaca na encruzilhada.
Por exemplo: nunca na história do nosso futebol tivemos
tantos zagueiros de área de
bom nível técnico e com tamanha experiência internacional
como agora. Pois é ali, no miolo da zaga, que fazemos água
por todos os lados. Raras foram as épocas em que pipocaram tantos talentos do
meio-campo pra frente, e até
agora Zagallo não resolveu um
singular mas decisivo problema -o da meia-direita.
Abre o olho, velho Lobo, porque tem fera mais faminta
rondando seu pedaço. Afinal,
se não há mais tempo para fazer experiências no campo,
sempre é tempo de mudar o
dono do banco.
Como em 70.
Claro, Trajaninho, meu chapa, que o atleta do século tem
todo o direito de emitir suas
opiniões sobre a seleção. Pois
se nós todos, eméritos cabeças-de-bagre, o temos, por que
não o Rei?
Acontece que, como ministro
da República, pode mas não
deve. Sobretudo, menosprezar
o futebol de outros países.
Disse aqui e repito: como comentarista de TV, licenciado
do cargo de ministro, Pelé pode e deve dizer tudo o que quiser. Aí, resta-nos o inalienável
direito de mudar de canal.
Alberto Helena Jr. escreve às quartas, domingos e segundas
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