São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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TOSTÃO

Uns saem, outros chegam

Ronaldo, Roberto Carlos e Cafu farão falta à seleção, e acredito que será mais difícil achar um sucessor à altura do atacante

RONALDO , Roberto Carlos e Cafu vão fazer falta à seleção, não obviamente pelos desempenhos que tiveram na última Copa, mas pelo que jogaram na maior parte de suas carreiras. Ronaldo é o único dos três que tem pequena chance de atuar em 2010.
Alguns vão lembrar que os três, principalmente Roberto Carlos, tiveram vários outros momentos ruins na seleção. É verdade. Outros, como eu, não gostam do jeito prepotente de Roberto Carlos. Porém temos de ser justos e reconhecer que eles tiveram períodos brilhantes no time brasileiro e nos seus clubes. Todas as seleções que enfrentavam o Brasil temiam o avanço de Roberto Carlos e Cafu e as jogadas espetaculares de Ronaldo, um dos maiores atacantes do mundo de todos os tempos.
O tempo passou. Há muitos anos que Roberto Carlos joga parado, como um zagueiro-lateral. Cafu tenta atuar como antes, mas não consegue. Depois da Copa de 2002, Ronaldo teve só alguns instantes espetaculares, sem nenhuma regularidade. Mesmo nas suas melhores fases, quando concorreu ao título de melhor jogador do mundo, Roberto Carlos parecia se poupar em campo. Cafu, ao contrário, sempre tentou jogar o máximo que podia. E ainda foi exemplo de atleta profissional.
A maioria dos habilidosos laterais brasileiros que foi para a Europa passou a jogar de armador pelos lados, porque os técnicos europeus preferem laterais marcadores, já que os seus times não jogam há muito tempo com três zagueiros. Assim aconteceu com Fábio Aurélio, Gilberto, Cicinho, Daniel Alves, Mancini e tantos outros. Roberto Carlos e Cafu foram exceções na Europa. Por defender e atacar bem, os dois quase sempre atuaram de laterais, no esquema com dois zagueiros.
A principal razão da preferência dos técnicos brasileiros pelo esquema com três zagueiros é a presença de laterais que apóiem muito e defendam pouco. Para suprir a falta de jogadores que atacam pelos lados, os times europeus, cada vez mais, jogam com pontas, que também recuam para marcar. O inverso ocorreu décadas atrás no futebol brasileiro. Os pontas foram substituídos pelos laterais apoiadores. As coisas vão e voltam com nomes diferentes.
Por ser muito forte, veloz, marcar e apoiar bem, mesmo sem muito brilho, Maicon é considerado na Europa o sucessor de Cafu. Dunga parece não pensar assim, pois não o convocou para os dois próximos amistosos. Diferentemente de Ilsinho e Daniel Alves, que jogam a maior parte das vezes como alas em seus clubes, Maicon é lateral na Inter de Milão, no esquema com dois zagueiros, adotado também pela seleção brasileira. Seria uma incoerência de Dunga?
Será difícil para a seleção brasileira arrumar bons substitutos para Cafu e Roberto Carlos. Mais difícil ainda será substituir Ronaldo. Se ele não tivesse surgido, a seleção estaria até hoje lamentando a perda de Romário, outro fenômeno. Adriano, que parecia ser um craque-artilheiro, um ótimo substituto para Ronaldo, não é hoje nem artilheiro. Muito menos craque. Fred poderá ser útil à seleção, mas também não é craque. É um artilheiro.
Pato é uma esperança para substituir bem Ronaldo e se tornar um craque-artilheiro. Ainda não é. Para ser, entre tantas coisas, ele precisa jogar na posição correta, movimentando-se mais na frente, e não recuando para receber a bola no meio-campo e jogando ao lado de um típico centroavante (Christian), como o técnico Abel Braga o colocou no segundo tempo do jogo contra o Vélez. Uns saem, outros chegam. É a transitoriedade das coisas. O futebol e a vida continuam com novos personagens.

tostao.folha@uol.com.br


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