São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2001

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FUTEBOL

Problema e solução

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Muitos leitores opinam que o Romário está em final de carreira, joga muito parado e prejudica a seleção. Outros protestam quando a imprensa (incluindo-me) refere-se ao jogador como um dos gênios da história do futebol mundial.
Quando endeusamos o Romário, falamos principalmente do craque que ele foi, e não do que é. Hoje, Romário não joga 30% do que jogava.
Em outras épocas, o atacante estaria atuando na equipe de veteranos. Mesmo assim, aos 35 anos, ele ainda é melhor do que os outros.
A seleção brasileira conta com o Romário de hoje, e não com o do passado. Nesse ponto, eu entendo os leitores. O jogador adquiriu o status, o direito de brilhar somente em algumas partidas, o que não acontece com seus companheiros. Isso é muito perigoso.
Um time não pode depender dos gols de somente um atacante. Seja ele quem for. A seleção também não pode permitir que o Romário atue somente para fazer gols. Tem de participar do conjunto. Quando ele quer, além de gols, dá passes espetaculares.
Quando a seleção pressiona o outro time, o que hoje é raro, e a bola está sempre próxima ao outro gol, não há um finalizador melhor do que o Romário.
A seleção precisa, urgentemente, preparar um substituto para o Baixinho. Revezar com ele até a Copa. Não há, hoje, um único que entusiasme. A grande esperança é o Ronaldo, da Inter. Se os dois estiverem bem, será ainda melhor.
Romário pode ser o problema ou a solução para o time brasileiro. Leão terá de resolver esse dilema. O técnico não pode é se tornar refém do jogador. Dentro nem fora de campo.

Na semana passada, escrevi sobre a minha preferência de a seleção brasileira atuar no esquema com três zagueiros, quatro no meio-campo (dois alas) e três atacantes (dois pelos flancos e um central), como faz a Argentina.
Essa postura só é mais eficiente do que a tradicional brasileira quando se adota uma filosofia ofensiva, pressionando o outro time. Frequentemente, os técnicos fazem o contrário.
O leitor Emmanuel Nakamura faz, novamente, uma boa observação: "Se o adversário atua com três atacantes, não há um zagueiro na sobra. Nessa situação, é melhor atuar com uma linha de quatro zagueiros". Tem razão. Os laterais teriam de marcar os pontas adversários para sobrar um zagueiro.
Foi o que o Wanderley Luxemburgo fez na partida do Brasil contra a Argentina, nas eliminatórias.
No mesmo jogo, o treinador escalou dois jogadores avançados pelas pontas (Rivaldo e Ronaldinho), nas costas dos alas argentinos. Foi o único momento brilhante do Luxemburgo na seleção.
O fato mostra que não há um bom e único esquema tático para todas as partidas.
O ideal seria o treinador mudar a estratégia, sem trocar os jogadores.

No Campeonato Paulista, enquanto o São Paulo cai, o Corinthians não pára de subir. O time dirigido por Luxemburgo e a Ponte Preta são, hoje, os principais favoritos ao título.
Há vários anos, a equipe de Campinas destaca-se nos campeonatos Paulista e Brasileiro. Não é mais um time pequeno. Falta só um título.
Com o retorno de Arce na Libertadores, a presença de Lopes no time titular e de Felipe na armação pelo meio-campo ou como ala, o Palmeiras vai melhorar muito. O técnico Celso Roth precisa adaptar o esquema aos jogadores, e não o contrário.
Depois de vários meses sem atuar, Rincón já mostrou que é o melhor volante do Brasil. Ao contrário dos outros dessa posição, o colombiano passa muito bem a bola. O que seria obrigação e rotina, já que um bom ataque começa com um bom passe do volante, tornou-se novidade no futebol brasileiro.
Dodô não é um craque, tem vários defeitos, mas é um excelente atacante. É o artilheiro do Santos e, ao lado do Robert, um dos destaques da equipe neste ano. O jogador não pode recusar-se a ficar no banco (não recusou), mas tem o direito de reclamar. Eu faria o mesmo.

No Estadual do Rio está tudo embolado no segundo turno.
O Flamengo já está na final. Nos últimos anos, falávamos sempre que o Vasco era o favorito, porque tinha os melhores jogadores. Não é mais verdade.
O atual time do Flamengo, com Edílson, Petkovic e Gamarra -todos em forma-, iguala-se ao Vasco de Romário, Juninho e Euller. O outro Juninho faz muita falta. No túnel, o Mengo leva vantagem.
No Fluminense, Magno Alves não é um craque, mas, com sua velocidade, é o jogador mais importante do time. Sua ausência em várias partidas foi decisiva na queda de qualidade da equipe de Valdyr Espinosa.
Por que o Botafogo, campeão nas categorias de base, não revela jogadores como o Flamengo e outros clubes?
Será que não há jovens melhores do que os medianos que atuam no time principal?

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


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