São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2001

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Time deixa ostracismo, vira modelo administrativo e lidera o Paulista

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
A centenária Ponte Preta, cujo reformado estádio Moisés Lucarelli destaca hoje o site do clube na internet, deixou de ser amadora há cinco anos, quando foi desfiliada pela Fifa, para virar o melhor time de São Paulo e exemplo administrativo


Só falta o título

EDUARDO ARRUDA
RODRIGO BUENO
ENVIADOS ESPECIAIS A CAMPINAS

A Ponte Preta saneou suas dívidas, reformou seu estádio, reformulou seu elenco, ascendeu de divisão, manteve sua comissão técnica, classificou-se para as semifinais do Paulista com antecedência e praticamente assegurou vantagem do empate na fase decisiva do campeonato. Só falta o título.
Foram tantas as mudanças no tradicional clube campineiro em tão pouco tempo. Da segunda divisão do Campeonato Paulista e de uma situação financeira mais que precária em 1996 para a condição de melhor time do Estado mais rico do país em 2001.
"A Ponte Preta em 96 era um time que estava desfiliado da Fifa por problemas de disputa na Justiça comum envolvendo o jogador Ciro". Era um time amador, que não podia jogar competição profissional", diz Sérgio Carnielli, empresário do ramo de óculos que herdou o clube na crise.
""Fui eleito vice-presidente em 1996 em uma gestão desastrada do presidente [Nivaldo Baldo". Eu tive que assumir depois de oito, nove meses. Foi um desastre a gestão. Ele se demitiu, e eu assumi a Ponte Preta", disse Carnielli.
Após readquirir junto à Fifa o direito de disputar torneios, a Ponte Preta enfrentou dificuldades financeiras e técnicas. O time estava em 96 na terceira divisão do Brasileiro e só ascendeu à segunda com a desistência do América de São José do Rio Preto. E, ainda, estava na A-2 no Paulista.
""Tínhamos problemas trabalhistas, cerca de 150 processos. Tínhamos dívidas na padaria, no açougue, de hotel, de ônibus, devíamos para todos. Havia quatro meses que o grupo não recebia salários. Se nós montássemos um novo time, começássemos do zero, acho que gastaríamos menos. Por ser a Ponte Preta, fizemos um esforço", disse Carnielli, dirigente que evita aparecer na mídia.
Além da dura situação econômica, o time de Campinas era tecnicamente muito inferior ao das equipes ponte-pretanas que brilharam nos anos 70 e 80.
""Não tínhamos nenhum jogador de qualidade, nem no profissional, nem no amador. De todos os que nós tínhamos, só um foi aproveitado, o Dionísio", disse.
Durante a grave crise, o clube não tinha patrocinador. O tradicional estádio Moisés Lucarelli estava quase imprestável então.
""Resolvemos fazer um projeto para que pudéssemos administrar a Ponte. O primeiro passo foi negociar as dívidas. Chamamos todos para fazer acordos nos processos trabalhistas e conseguimos em boa parte deles", disse.
A Ponte ainda paga, por exemplo, R$ 5.000 por mês a um massagista que movia processo trabalhista contra o clube. Ele ganhou na Justiça o direito de receber R$ 500 mil do clube. Após acordo, o valor foi reduzido pela metade e pôde ser parcelado em 50 vezes.
""Ainda temos dívidas e alguns processos trabalhistas em andamento, mas tudo sob controle."
No segundo semestre de 97, o time conseguiu subir para a divisão de elite do futebol nacional. No ano seguinte, por pouco não ascendeu no Paulista (caiu na final).
A recuperação atraiu um patrocinador, a Center Líder, atacadista especializado em material de construção. Além de apoiar o time, a empresa ajudou a resgatar o estádio Moisés Lucarelli.
""O estádio foi reformado completamente, desde o gramado, alambrado e arquibancadas até a parte administrativa, vestiário, cozinha", disse Carnielli.
O ano de 99 alavancou de vez o clube. A equipe subiu para a primeira divisão do Paulista e, no Campeonato Brasileiro, surpreendeu muitos grandes ao ficar entre os oito melhores do torneio.
A Ponte Preta foi montando a base que hoje lidera o Paulista com folga -é o único time classificado para as semifinais, com 28 pontos, e tem a melhor defesa.
""Hoje, 90% do time da Ponte Preta é nosso mesmo. Ou os jogadores vieram da base ou já foram contratados, como o Washington e o Piá. Só o Ronaldão e o Elivélton, que eram donos de seus próprios passes, não são nossos."
A Center Líder paga todo mês cerca de R$ 70 mil ao clube. O acordo com a empresa, com duração de dois anos, rende ainda lucros no caso de classificação às semifinais (objetivo já alcançado) e às finais (novo objetivo).
Acordo parecido a Ponte Preta fez também com a Penalty, empresa que fornece material esportivo para o clube. ""Se formos campeões, receberemos um prêmio da Penalty", disse Carnielli.
O clube fez contrato com Nelsinho até o final do ano e prepara vôos mais altos. Seu CT está em fase de conclusão. A equipe também trabalha politicamente.
""Já falei com Fábio Koff em Porto Alegre e com Mustafá Contursi em São Paulo. Ambos garantiram que a Ponte é um clube que tem tudo para entrar no Clube dos 13. A hora está bem próxima", disse.
Da mesma forma, Carnielli acha que um título, algo que a Ponte Preta ainda não conseguiu em seus cem anos, está próximo.
""A Ponte Preta pode não ter estrelas como muitos clubes, mas tem estrutura melhor até do que alguns grandes. Só falta o título."


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