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Time deixa ostracismo, vira modelo administrativo e lidera o Paulista
Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
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A centenária Ponte Preta, cujo reformado estádio Moisés Lucarelli destaca hoje o site do clube na internet, deixou de ser amadora há cinco anos, quando foi desfiliada pela Fifa, para virar o melhor time de São Paulo e exemplo administrativo |
Só falta o título
EDUARDO ARRUDA
RODRIGO BUENO
ENVIADOS ESPECIAIS A CAMPINAS
A Ponte Preta saneou suas dívidas, reformou seu estádio, reformulou seu elenco, ascendeu de divisão, manteve sua comissão técnica, classificou-se para as semifinais do Paulista com antecedência e praticamente assegurou vantagem do empate na fase decisiva
do campeonato. Só falta o título.
Foram tantas as mudanças no
tradicional clube campineiro em
tão pouco tempo. Da segunda divisão do Campeonato Paulista e
de uma situação financeira mais
que precária em 1996 para a condição de melhor time do Estado
mais rico do país em 2001.
"A Ponte Preta em 96 era um time que estava desfiliado da Fifa
por problemas de disputa na Justiça comum envolvendo o jogador Ciro". Era um time amador,
que não podia jogar competição
profissional", diz Sérgio Carnielli,
empresário do ramo de óculos
que herdou o clube na crise.
""Fui eleito vice-presidente em
1996 em uma gestão desastrada
do presidente [Nivaldo Baldo".
Eu tive que assumir depois de oito, nove meses. Foi um desastre a
gestão. Ele se demitiu, e eu assumi
a Ponte Preta", disse Carnielli.
Após readquirir junto à Fifa o
direito de disputar torneios, a
Ponte Preta enfrentou dificuldades financeiras e técnicas. O time
estava em 96 na terceira divisão
do Brasileiro e só ascendeu à segunda com a desistência do América de São José do Rio Preto. E,
ainda, estava na A-2 no Paulista.
""Tínhamos problemas trabalhistas, cerca de 150 processos. Tínhamos dívidas na padaria, no
açougue, de hotel, de ônibus, devíamos para todos. Havia quatro
meses que o grupo não recebia salários. Se nós montássemos um
novo time, começássemos do zero, acho que gastaríamos menos.
Por ser a Ponte Preta, fizemos um
esforço", disse Carnielli, dirigente
que evita aparecer na mídia.
Além da dura situação econômica, o time de Campinas era tecnicamente muito inferior ao das
equipes ponte-pretanas que brilharam nos anos 70 e 80.
""Não tínhamos nenhum jogador de qualidade, nem no profissional, nem no amador. De todos
os que nós tínhamos, só um foi
aproveitado, o Dionísio", disse.
Durante a grave crise, o clube
não tinha patrocinador. O tradicional estádio Moisés Lucarelli estava quase imprestável então.
""Resolvemos fazer um projeto
para que pudéssemos administrar a Ponte. O primeiro passo foi
negociar as dívidas. Chamamos
todos para fazer acordos nos processos trabalhistas e conseguimos
em boa parte deles", disse.
A Ponte ainda paga, por exemplo, R$ 5.000 por mês a um massagista que movia processo trabalhista contra o clube. Ele ganhou
na Justiça o direito de receber R$
500 mil do clube. Após acordo, o
valor foi reduzido pela metade e
pôde ser parcelado em 50 vezes.
""Ainda temos dívidas e alguns
processos trabalhistas em andamento, mas tudo sob controle."
No segundo semestre de 97, o time conseguiu subir para a divisão
de elite do futebol nacional. No
ano seguinte, por pouco não ascendeu no Paulista (caiu na final).
A recuperação atraiu um patrocinador, a Center Líder, atacadista
especializado em material de
construção. Além de apoiar o time, a empresa ajudou a resgatar o
estádio Moisés Lucarelli.
""O estádio foi reformado completamente, desde o gramado,
alambrado e arquibancadas até a
parte administrativa, vestiário,
cozinha", disse Carnielli.
O ano de 99 alavancou de vez o
clube. A equipe subiu para a primeira divisão do Paulista e, no
Campeonato Brasileiro, surpreendeu muitos grandes ao ficar
entre os oito melhores do torneio.
A Ponte Preta foi montando a
base que hoje lidera o Paulista
com folga -é o único time classificado para as semifinais, com 28
pontos, e tem a melhor defesa.
""Hoje, 90% do time da Ponte
Preta é nosso mesmo. Ou os jogadores vieram da base ou já foram
contratados, como o Washington
e o Piá. Só o Ronaldão e o Elivélton, que eram donos de seus próprios passes, não são nossos."
A Center Líder paga todo mês
cerca de R$ 70 mil ao clube. O
acordo com a empresa, com duração de dois anos, rende ainda
lucros no caso de classificação às
semifinais (objetivo já alcançado)
e às finais (novo objetivo).
Acordo parecido a Ponte Preta
fez também com a Penalty, empresa que fornece material esportivo para o clube. ""Se formos
campeões, receberemos um prêmio da Penalty", disse Carnielli.
O clube fez contrato com Nelsinho até o final do ano e prepara
vôos mais altos. Seu CT está em
fase de conclusão. A equipe também trabalha politicamente.
""Já falei com Fábio Koff em Porto Alegre e com Mustafá Contursi
em São Paulo. Ambos garantiram
que a Ponte é um clube que tem
tudo para entrar no Clube dos 13.
A hora está bem próxima", disse.
Da mesma forma, Carnielli acha
que um título, algo que a Ponte
Preta ainda não conseguiu em
seus cem anos, está próximo.
""A Ponte Preta pode não ter estrelas como muitos clubes, mas
tem estrutura melhor até do que
alguns grandes. Só falta o título."
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