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Amistoso da seleção alimenta desejo de autonomia em região espanhola
Cachê dobra, e Brasil volta a fazer jogo diplomático
FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A BARCELONA
Espécie de embaixadora do futebol, a seleção usa hoje mais uma
vez o seu poder diplomático. Só
que, ao contrário de unir povos, o
time brasileiro joga para alimentar o desejo de autonomia de uma
região -a Catalunha em relação
à Espanha, no caso.
Por US$ 700 mil, a CBF aceitou
o convite para enfrentar hoje, às
16h (Brasília), em Barcelona, o selecionado catalão, que não é reconhecido pela Fifa nem pode fazer
jogos oficiais. É quase duas vezes
o que o Brasil levou para enfrentar
a Arábia Saudita, em fevereiro. É,
também, o cachê mais alto já pago
pelos catalães a um rival, mas a
entidade acredita que compensa.
E não são apenas eles que pensam assim. Nos últimos anos,
principalmente depois que a CBF
passou a ser presidida por Ricardo Teixeira, em 1989, a seleção
serviu involuntariamente a causas nacionalistas pelo planeta.
A Espanha é o exemplo mais
emblemático. Se o penúltimo jogo antes da Copa de 2002 será
contra a Catalunha, antes do
Mundial de 98 o adversário foi o
Athletic Bilbao, maior equipe do
País Basco, região espanhola que
também busca autonomia.
Logo depois de empatar com o
time basco, o Brasil enfrentou Andorra, principado encravado entre Espanha e França e controlado
por esses dois países até 93, quando obteve sua independência.
Ainda em terras espanholas, o
Brasil reforçou sentimentos contrários a Madri num amistoso
contra o Valencia em 1995. Embora não com a mesma força de Catalunha, País Basco e Galícia, a região tem dialeto próprio e pleiteia
sua autonomia. Os galegos também viram o Brasil, em 99, mas o
amistoso foi contra o "poder central", a seleção da Espanha.
A seleção já protagonizou amistosos contra regiões do Leste Europeu, como Eslováquia e Bósnia,
e contra as repúblicas bálticas da
antiga União Soviética -todos
adversários que estavam em processo de emancipação.
No caso da Catalunha, a possibilidade de separação da Espanha
é quase nula, mas as conquistas
cresceram gradativamente nos últimos 24 anos -quando a região
ganhou o reconhecimento de autonomia especial, com identidade
nacional própria, algo que só outras duas da Espanha possuem
(País Basco e Galícia), apesar de
outras também reivindicarem.
"Não pedimos para sair da Espanha. Desejamos competência
própria em matérias como justiça
e representação na União Européia e mais poderes políticos. No
terreno simbólico, as nossas seleções esportivas têm uma importância fundamental. Jogar com o
Brasil, uma potência do futebol,
só fortalece os nossos símbolos",
disse à Folha o primeiro conselheiro (espécie de primeiro-ministro) da Catalunha, Artur Mas.
Ontem, o político recepcionou,
e até bateu bola, com uma pequena delegação brasileira -da qual
faziam parte Ricardo Teixeira,
Luiz Felipe Scolari e os jogadores
Ronaldo e Emerson- no Palau
de la Generalitat, sede da administração da Catalunha e voltou a
ouvir a promessa de que a seleção
fará sua primeira escala em Barcelona caso ganhe o pentacampeonato no Mundial Coréia/Japão.
Teixeira prometera só uma visita, mas ontem Scolari falou até
num novo amistoso. Seria mais
um agrado para uma região que
se orgulha de falar uma língua diferente dos espanhóis de Madri.
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