São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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COPA 2002

JAPÃO
A vez da bola



Às vésperas do primeiro Mundial na Ásia, e do 1º a ser realizado em dois países, japoneses e sul-coreanos travam duelo econômico e procuram, sem unanimidade, deixar mágoas de lado e estreitar laços


JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA

Muito mais do que uma oportunidade para se mostrar ao mundo, o Japão quer usar a Copa para melhorar, o mínimo que seja, sua economia e estreitar, dentro do possível, seus laços com a Coréia.
Quando se fala em ""dentro do possível", é porque concessões aos co-anfitriões serão restritas.
O discurso é um, a prática, outra. À Folha, Chung Mong-joon, co-presidente do Kowoc, o Comitê Organizador da Coréia, e Yasuhiko Endoh, secretário-geral do Jawoc, o Comitê Organizador do Japão, usaram as mesmas palavras: "Devemos nos tornar próximos não apenas geograficamente mas também emocionalmente."
Não são poucos os pontos, no entanto, em que o primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, parece irredutível. É acusado pela oposição de ser um nacionalista exagerado. Entre os motivos, duas propostas de campanha: alterar a Constituição do Japão para regularizar a existência das Forças Armadas e manter o enfoque do país em relação à participação na Segunda Guerra Mundial.
A Sociedade Japonesa para a Criação de Novos Livros Escolares, formada por acadêmicos nacionalistas pró-Koizumi, elaborou material didático para os estudantes do país que não cita o projeto Unidade 731 ou o uso de escravas sexuais coreanas e chinesas nos fronts. Com sede na Manchúria, a Unidade 731, ainda pouco conhecida no mundo ocidental, fez uma série de experiências com armas químicas e biológicas em prisioneiros de guerra.
Apesar dos insistentes protestos de coreanos e chineses contra os livros escolares do Japão, o governo de Koizumi manteve-se firme. Fez somente algumas modificações no material que foram consideradas mínimas pelos vizinhos.
Por intermédio da assessoria de imprensa do Jawoc, o secretário-geral do comitê japonês, Jasuhiko Endoh, apesar de reconhecer que "não será um Mundial que vai solucionar divergências centenárias", vê avanços na relação com a Coréia. "O simples fato de os dois comitês terem trabalhado em conjunto é um sinal de que a situação não é incontornável."
Shunichiro Okano, presidente da Associação Japonesa de Futebol, citou como exemplo de aproximação o fato de o maior fluxo de turistas esperados no Japão por causa da Copa ser de coreanos. ""As barreiras se abriram um pouco, e são esperadas pelo menos 42 mil visitas de coreanos em junho por causa do Mundial [cálculo baseado no número de ingressos vendidos para os vizinhos de jogos no Japão", disse Okano.
Além de uma aproximação com os coreanos, o dirigente acha que receber o Mundial será a grande oportunidade para alavancar de vez o futebol japonês, além de minorar a crise econômica que atinge o país desde o final dos anos 80.
"O Jawoc analisou o impacto da Copa de 1986 na economia mexicana, da de 1990 na italiana, na de 1994 na norte-americana e na de 1998 na francesa. Exceto os EUA, todos os outros países tiveram um ligeiro crescimento no PIB [Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas no país" por causa da Copa e uma valorização na imagem das empresas nacionais no mercado interno."
O risco de o Japão repetir os EUA -país cujo esporte está longe de ser o número um- existe, reconhece Okano, mas a possibilidade é muito remota. "Futebol aqui pode não ser como beisebol ou sumô, mas que tem um público cativo é inegável."



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