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CORÉIA
A bola da vez
ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL
Aproximação, sim, mas com estocadas pontuais e uma política
de autopromoção agressiva para
posar ao lado dos japoneses.
Dessa forma é que a Coréia do
Sul espera a Copa do Mundo. E a
cerimônia de abertura, que será
realizada em Seul no próximo dia
31, sintetiza bem sua postura.
Os sul-coreanos tentaram levar
à festa o imperador japonês, Akihito, numa visita que entraria para a história. Não entrará.
Em vez do imperador, vai a Seul
um casal de primos seus. Os sul-coreanos não deixaram barato.
"A cerimônia é como a de um casamento. Se o imperador não
aparece, é como se o noivo ou a
noiva faltassem", disse Chung
Mong-joon, que comanda a organização do lado sul-coreano.
Seu país negou um pedido do
governo japonês para que a declaração oficial de abertura fosse feita de forma conjunta pelos líderes
dos dois países. E só abriram espaço para o hino japonês e para
um discurso do primeiro-ministro Junichiro Koizumi após um
pedido formal do Japão.
O evento será uma ode à tecnologia sul-coreana, grande rival de
mercado da indústria japonesa.
Governo e empresas despejarão
quase US$ 8 milhões em 40 minutos dedicados a um sugestivo tema: "comunicação". Como apontou nesta semana Kim Chan-hyung, diretor da cerimônia, será
uma chance única para o país
mostrar sua força no setor de tecnologia da informação.
Diante de um Japão que tem
uma economia três vezes maior,
mas que não consegue arredar-se
da recessão, a Coréia do Sul quer
exibir ao mundo seu crescimento
e mostrar que tem tudo para se
firmar como potência da Ásia.
Outros campos, porém, revelam que o caminho da aproximação não tem só pedras. Às vésperas do torneio, pela primeira vez
em mais de meia década, as rádios
locais vão poder tocar, ainda que
de forma temporária, música em
japonês -a licença vale para três
canções oficiais da Copa.
A aposta é que as novas gerações consigam aparar de forma
mais consistente as arestas de um
sentimento que toca os coreanos.
"Varia muito de pessoa para
pessoa, mas sinto que entre os
mais velhos há um ressentimento
contra os japoneses. Para os mais
jovens, o que há é rivalidade", diz
Cho Keum-saeng, diretor do Escritório de Relações Internacionais da Universidade da Coréia.
Para isso, um fator pitoresco
ajuda muito. Se há meio século os
coreanos foram obrigados a
aprender japonês por imposição
do governo imperial, agora as gerações mais jovens estudam a língua nipônica para poder assistir
aos famosos desenhos animados
que saem da ilha asiática.
Os sul-coreanos espernearam
para colocar seu nome à frente no
nome oficial do Mundial, defenderam seu hábito de comer cachorros apontando o dedo para as
baleias caçadas pelos japoneses,
insistem em revisar os livros de
história nipônicos e mantêm até
hoje disputa territorial com o rival
pelas ilhas Liancourt Rocks. Não é
à toa, portanto, que há ceticismo
em relação às possibilidades de a
Copa ajudar na aproximação.
Essa é, porém, uma questão de
detalhes e interesses diversos.
Nesta semana, por exemplo, japoneses e coreanos festejaram ao
inaugurar um cabo submarino
para transmissão de dados entre
ambos. É comunicação, mas também dinheiro, um negócio de US$
60 milhões que uniu quatro grandes empresas das duas nações.
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