São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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CORÉIA
A bola da vez

ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Aproximação, sim, mas com estocadas pontuais e uma política de autopromoção agressiva para posar ao lado dos japoneses.
Dessa forma é que a Coréia do Sul espera a Copa do Mundo. E a cerimônia de abertura, que será realizada em Seul no próximo dia 31, sintetiza bem sua postura.
Os sul-coreanos tentaram levar à festa o imperador japonês, Akihito, numa visita que entraria para a história. Não entrará.
Em vez do imperador, vai a Seul um casal de primos seus. Os sul-coreanos não deixaram barato. "A cerimônia é como a de um casamento. Se o imperador não aparece, é como se o noivo ou a noiva faltassem", disse Chung Mong-joon, que comanda a organização do lado sul-coreano.
Seu país negou um pedido do governo japonês para que a declaração oficial de abertura fosse feita de forma conjunta pelos líderes dos dois países. E só abriram espaço para o hino japonês e para um discurso do primeiro-ministro Junichiro Koizumi após um pedido formal do Japão.
O evento será uma ode à tecnologia sul-coreana, grande rival de mercado da indústria japonesa.
Governo e empresas despejarão quase US$ 8 milhões em 40 minutos dedicados a um sugestivo tema: "comunicação". Como apontou nesta semana Kim Chan-hyung, diretor da cerimônia, será uma chance única para o país mostrar sua força no setor de tecnologia da informação.
Diante de um Japão que tem uma economia três vezes maior, mas que não consegue arredar-se da recessão, a Coréia do Sul quer exibir ao mundo seu crescimento e mostrar que tem tudo para se firmar como potência da Ásia.
Outros campos, porém, revelam que o caminho da aproximação não tem só pedras. Às vésperas do torneio, pela primeira vez em mais de meia década, as rádios locais vão poder tocar, ainda que de forma temporária, música em japonês -a licença vale para três canções oficiais da Copa.
A aposta é que as novas gerações consigam aparar de forma mais consistente as arestas de um sentimento que toca os coreanos.
"Varia muito de pessoa para pessoa, mas sinto que entre os mais velhos há um ressentimento contra os japoneses. Para os mais jovens, o que há é rivalidade", diz Cho Keum-saeng, diretor do Escritório de Relações Internacionais da Universidade da Coréia.
Para isso, um fator pitoresco ajuda muito. Se há meio século os coreanos foram obrigados a aprender japonês por imposição do governo imperial, agora as gerações mais jovens estudam a língua nipônica para poder assistir aos famosos desenhos animados que saem da ilha asiática.
Os sul-coreanos espernearam para colocar seu nome à frente no nome oficial do Mundial, defenderam seu hábito de comer cachorros apontando o dedo para as baleias caçadas pelos japoneses, insistem em revisar os livros de história nipônicos e mantêm até hoje disputa territorial com o rival pelas ilhas Liancourt Rocks. Não é à toa, portanto, que há ceticismo em relação às possibilidades de a Copa ajudar na aproximação.
Essa é, porém, uma questão de detalhes e interesses diversos.
Nesta semana, por exemplo, japoneses e coreanos festejaram ao inaugurar um cabo submarino para transmissão de dados entre ambos. É comunicação, mas também dinheiro, um negócio de US$ 60 milhões que uniu quatro grandes empresas das duas nações.



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