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AÇÃO
No ápice para o cume
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
É provável que, enquanto
você lê estas linhas, o brasileiro Vitor Negrete esteja voltando
de um ataque ao cume do Everest, esperamos, com sucesso. Mas
a confirmação deve levar horas,
talvez dias, já que em seu último
contato, ontem, quando se encontrava no campo-base avançado, a
8.300 m, disse que a bateria do celular estava no fim e que partiria
para a etapa decisiva sem telefone, sem parceiro e sem guia. Sozinho, pela face norte (tibetana).
Vitor chegou ao teto do mundo
em 2005 com a ajuda de oxigênio
suplementar e neste ano tenta a
conquista sem, feito inédito entre
brasileiros. A decisão do ataque
hoje deve-se a uma janela de bom
tempo prevista para durar até
amanhã. Mas ocorre em momento crítico da expedição da qual
participa, organizada pela Asian
Trekking Logistics. Primeiro,
houve um descompasso na aclimatação entre ele e seu parceiro,
Rodrigo Raineri. A dupla da Try
On Go Outside se equilibra com a
força do primeiro e a técnica do
segundo, mas Rodrigo, com problemas na garganta, retornou ao
acampamento-base e pretende se
recuperar para voltar a subir no
dia 25, quando está prevista nova
janela. Depois, ao chegar ao
acampamento 2, Vitor encontrou
o malásio Ravi Chandran, que,
com os dedos das mãos congelados, desceu às pressas na tentativa de evitar amputá-los. Em seguida, chegou a confirmação da
morte do inglês David Sharp, 34,
que estava desaparecido e tentava o cume sem companhia. Ambos faziam parte da expedição de
13 pessoas organizada pela Asian.
E, para piorar, ao voltar ao
acampamento 2 para preparar o
ataque, constataram que os equipamentos e os mantimentos haviam sido roubados. "Não sei o
que mais de má notícia pode chegar, mas, mesmo assim, eu continuo", falou Vitor por telefone.
A tal janela de bom tempo deve
gerar um tráfego intenso rumo ao
cume. Parece absurdo, não mais
do que haver assaltantes a 8.000
m de altitude, mas é um fato já relatado no livro "Ar Rarefeito", de
John Krakauer, na fatídica temporada de 96. Pensando nisso, a
expedição da Adventure Consultants, empresa fundada pelo neozelandês Robb Hall, um dos protagonistas da história de Krakauer e morto naquele ano, preferiu adiar o ataque para amanhã.
Nesse grupo está Ana Elisa Boscarioli, 40, cirurgiã plástica paulista
que faz sua estréia no Everest.
Em 2005, Ana se tornou a primeira brasileira a fazer um cume
acima dos 8.000 m, conquistando
o Cho Oyu, 8.201 m, lá na cordilheira do Himalaia. Com essa credencial, ela contratou os serviços
da empresa neozelandesa para
concluir o projeto de ser a primeira brasileira no topo do mundo.
Ela é a única mulher no grupo,
iniciado com nove integrantes,
dos quais cinco seguem na tentativa feita pela face sul, a do Nepal.
Já o casal Helena e Paulo Coelho segue na linha purista, sem
patrocínio, guias ou oxigênio, e
tenta pela 8ª vez alcançar o ponto
mais alto do planeta, uma aventura que, apesar das preces à
Deusa da Montanha, feitas na
Pudja, a cerimônia budista para
pedir licença e proteção aos alpinistas, continua fazendo vítimas.
Mundial de surfe - WCT - Taiti
No menor mar da história do WCT em Teahupoo, Kelly Slater, líder
do ranking, machucou-se na semifinal e só deve voltar na etapa do
México. Andy Irons parou nas oitavas. O estreante americano Bob
Martinez venceu e assumiu o segundo lugar entre os tops. Os brasileiros continuam devendo, Paulo Moura (17º) é o mais bem classificado. No feminino, Melanie Redman-Carr se mantém 100%.
ISA World Junior Championship
Na 4ª edição, os australianos chegaram ao bi, com Owen Whright levando o ouro na sub-16, e Julian Wilson, na sub-18. A francesa Pauline Ado venceu no feminino. Alejo Muniz, prata, e Diana Cristina,
bronze, foram os melhores do Brasil, que ficou em terceiro, atrás da
França. Disputada em Maresias, SP, a prova teve boas ondas.
E-mail sarli@trip.com.br
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