São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006

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AÇÃO

No ápice para o cume

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

É provável que, enquanto você lê estas linhas, o brasileiro Vitor Negrete esteja voltando de um ataque ao cume do Everest, esperamos, com sucesso. Mas a confirmação deve levar horas, talvez dias, já que em seu último contato, ontem, quando se encontrava no campo-base avançado, a 8.300 m, disse que a bateria do celular estava no fim e que partiria para a etapa decisiva sem telefone, sem parceiro e sem guia. Sozinho, pela face norte (tibetana).
Vitor chegou ao teto do mundo em 2005 com a ajuda de oxigênio suplementar e neste ano tenta a conquista sem, feito inédito entre brasileiros. A decisão do ataque hoje deve-se a uma janela de bom tempo prevista para durar até amanhã. Mas ocorre em momento crítico da expedição da qual participa, organizada pela Asian Trekking Logistics. Primeiro, houve um descompasso na aclimatação entre ele e seu parceiro, Rodrigo Raineri. A dupla da Try On Go Outside se equilibra com a força do primeiro e a técnica do segundo, mas Rodrigo, com problemas na garganta, retornou ao acampamento-base e pretende se recuperar para voltar a subir no dia 25, quando está prevista nova janela. Depois, ao chegar ao acampamento 2, Vitor encontrou o malásio Ravi Chandran, que, com os dedos das mãos congelados, desceu às pressas na tentativa de evitar amputá-los. Em seguida, chegou a confirmação da morte do inglês David Sharp, 34, que estava desaparecido e tentava o cume sem companhia. Ambos faziam parte da expedição de 13 pessoas organizada pela Asian.
E, para piorar, ao voltar ao acampamento 2 para preparar o ataque, constataram que os equipamentos e os mantimentos haviam sido roubados. "Não sei o que mais de má notícia pode chegar, mas, mesmo assim, eu continuo", falou Vitor por telefone.
A tal janela de bom tempo deve gerar um tráfego intenso rumo ao cume. Parece absurdo, não mais do que haver assaltantes a 8.000 m de altitude, mas é um fato já relatado no livro "Ar Rarefeito", de John Krakauer, na fatídica temporada de 96. Pensando nisso, a expedição da Adventure Consultants, empresa fundada pelo neozelandês Robb Hall, um dos protagonistas da história de Krakauer e morto naquele ano, preferiu adiar o ataque para amanhã. Nesse grupo está Ana Elisa Boscarioli, 40, cirurgiã plástica paulista que faz sua estréia no Everest.
Em 2005, Ana se tornou a primeira brasileira a fazer um cume acima dos 8.000 m, conquistando o Cho Oyu, 8.201 m, lá na cordilheira do Himalaia. Com essa credencial, ela contratou os serviços da empresa neozelandesa para concluir o projeto de ser a primeira brasileira no topo do mundo. Ela é a única mulher no grupo, iniciado com nove integrantes, dos quais cinco seguem na tentativa feita pela face sul, a do Nepal.
Já o casal Helena e Paulo Coelho segue na linha purista, sem patrocínio, guias ou oxigênio, e tenta pela 8ª vez alcançar o ponto mais alto do planeta, uma aventura que, apesar das preces à Deusa da Montanha, feitas na Pudja, a cerimônia budista para pedir licença e proteção aos alpinistas, continua fazendo vítimas.

Mundial de surfe - WCT - Taiti
No menor mar da história do WCT em Teahupoo, Kelly Slater, líder do ranking, machucou-se na semifinal e só deve voltar na etapa do México. Andy Irons parou nas oitavas. O estreante americano Bob Martinez venceu e assumiu o segundo lugar entre os tops. Os brasileiros continuam devendo, Paulo Moura (17º) é o mais bem classificado. No feminino, Melanie Redman-Carr se mantém 100%.

ISA World Junior Championship
Na 4ª edição, os australianos chegaram ao bi, com Owen Whright levando o ouro na sub-16, e Julian Wilson, na sub-18. A francesa Pauline Ado venceu no feminino. Alejo Muniz, prata, e Diana Cristina, bronze, foram os melhores do Brasil, que ficou em terceiro, atrás da França. Disputada em Maresias, SP, a prova teve boas ondas.

E-mail sarli@trip.com.br


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