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Circuito aposenta longevidade
Fim de carreira antes dos 30 anos é comum para tenistas top, como ocorreu com Justine Henin, 25
Mulheres estréiam antes e
sucesso costuma vir mais cedo, mas convivem em ambiente mais hostil,
afirmam especialistas
FERNANDO ITOKAZU
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao anunciar sua aposentadoria, a belga Justine Henin, 25,
surpreendeu o mundo do tênis.
Não pela sua pouca idade,
mas pelo fato de ocupar o topo
do ranking mundial -foi a primeira a sair de cena como número um, enquanto várias outras decidiram pendurar as raquetes com 20 e poucos anos.
São várias as teorias que tentam explicar por que as top costumam parar tão jovens.
Uma é que as mulheres iniciam a carreira e conseguem alcançar os holofotes mais cedo
do que os homens.
A mais precoce a alcançar o
topo do ranking foi a suíça Martina Hingis, que tinha apenas
16 anos, seis meses e um dia
quando foi içada ao posto.
Com essa idade, um exemplo
de precocidade entre os homens, o australiano Lleyton
Hewitt, havia disputado somente uma partida em um torneio de primeiro nível.
Temporadas mais tarde, ele
se tornou o mais jovem número
um, com 20 anos e oito meses.
Nessa mesma fase da vida,
Hingis já tinha mais de 35 títulos, várias contusões e uma cirurgia no tornozelo direito.
Novas lesões fizeram a suíça
encerrar a temporada de 2003
mais cedo e, aos 22 anos, afastar-se das quadras.
"Como o nível de exigência é
muito alto, as lesões também
são constantes para quem começa tão cedo", afirmou Carlos
Alberto Kirmayr, que trabalhou com Gabriela Sabatini,
Arantxa Sanchez-Vicário e
Conchita Martinez.
Kirmayr conta que, quando
começou a treinar Sabatini, ela
já cogitava a aposentadoria,
apesar de só ter 20 anos. "Mas
naquele ano ela ganhou o US
Open, o que acabou levantando
a auto-estima dela." A argentina parou aos 27 anos, após 13
temporadas no circuito.
O francês radicado no Brasil
Didier Rayon, técnico de Teliana Pereira, brasileira mais bem
colocada no ranking (212ª), diz
que o circuito é mesmo ingrato.
"É preciso pôr o pé na estrada
por um longo período", afirma
Didier. "E, para as meninas, é
pior ainda, pois elas não se misturam", completou o técnico.
Essa opinião é compartilhada pelo ex-tenista Fernando
Meligeni. "Existe muito pouca
amizade entre as jogadoras,
quase nunca elas treinam entre
elas, e a convivência no circuito, que já é difícil, entre elas é
ainda mais complicada", escreveu Meligeni em seu blog.
A brasileira Niége Dias, que
também teve uma aposentadoria precoce, porém, não concorda com essa análise.
"Mulher é mesmo um bicho
complicado", disse ela. "Talvez
entre os homens a convivência
seja mais fácil, mas não acho
que isso seja preponderante."
Didier, que trabalha exclusivamente com mulheres há oito
anos, diz que geralmente elas
são mais disciplinadas, mas
também mais ciumentas.
Nesse ambiente de rivalidade, segundo Kirmayr, o nível de
exigência pessoal é muito alto.
"Se a tenista não atinge sua expectativa individual, ela se sente frustrada", disse o técnico.
Didier aponta ainda uma
mudança na sociedade. "Elas
não têm a mesma paixão pelo
que fazem. Ganham muito dinheiro e não se envolvem mais
como antes", falou o francês.
Para Kirmayr, o aspecto financeiro tem grande peso nas
aposentadorias precoces.
"A Henin, por exemplo, é
multimilionária e agora vai
querer gastar o dinheiro."
Apenas em prêmios, a belga
acumulou cerca de US$ 19,5
milhões na carreira.
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