São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Circuito aposenta longevidade

Fim de carreira antes dos 30 anos é comum para tenistas top, como ocorreu com Justine Henin, 25

Mulheres estréiam antes e sucesso costuma vir mais cedo, mas convivem em ambiente mais hostil, afirmam especialistas


FERNANDO ITOKAZU
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao anunciar sua aposentadoria, a belga Justine Henin, 25, surpreendeu o mundo do tênis.
Não pela sua pouca idade, mas pelo fato de ocupar o topo do ranking mundial -foi a primeira a sair de cena como número um, enquanto várias outras decidiram pendurar as raquetes com 20 e poucos anos.
São várias as teorias que tentam explicar por que as top costumam parar tão jovens.
Uma é que as mulheres iniciam a carreira e conseguem alcançar os holofotes mais cedo do que os homens.
A mais precoce a alcançar o topo do ranking foi a suíça Martina Hingis, que tinha apenas 16 anos, seis meses e um dia quando foi içada ao posto.
Com essa idade, um exemplo de precocidade entre os homens, o australiano Lleyton Hewitt, havia disputado somente uma partida em um torneio de primeiro nível.
Temporadas mais tarde, ele se tornou o mais jovem número um, com 20 anos e oito meses.
Nessa mesma fase da vida, Hingis já tinha mais de 35 títulos, várias contusões e uma cirurgia no tornozelo direito.
Novas lesões fizeram a suíça encerrar a temporada de 2003 mais cedo e, aos 22 anos, afastar-se das quadras.
"Como o nível de exigência é muito alto, as lesões também são constantes para quem começa tão cedo", afirmou Carlos Alberto Kirmayr, que trabalhou com Gabriela Sabatini, Arantxa Sanchez-Vicário e Conchita Martinez.
Kirmayr conta que, quando começou a treinar Sabatini, ela já cogitava a aposentadoria, apesar de só ter 20 anos. "Mas naquele ano ela ganhou o US Open, o que acabou levantando a auto-estima dela." A argentina parou aos 27 anos, após 13 temporadas no circuito.
O francês radicado no Brasil Didier Rayon, técnico de Teliana Pereira, brasileira mais bem colocada no ranking (212ª), diz que o circuito é mesmo ingrato.
"É preciso pôr o pé na estrada por um longo período", afirma Didier. "E, para as meninas, é pior ainda, pois elas não se misturam", completou o técnico.
Essa opinião é compartilhada pelo ex-tenista Fernando Meligeni. "Existe muito pouca amizade entre as jogadoras, quase nunca elas treinam entre elas, e a convivência no circuito, que já é difícil, entre elas é ainda mais complicada", escreveu Meligeni em seu blog.
A brasileira Niége Dias, que também teve uma aposentadoria precoce, porém, não concorda com essa análise.
"Mulher é mesmo um bicho complicado", disse ela. "Talvez entre os homens a convivência seja mais fácil, mas não acho que isso seja preponderante."
Didier, que trabalha exclusivamente com mulheres há oito anos, diz que geralmente elas são mais disciplinadas, mas também mais ciumentas.
Nesse ambiente de rivalidade, segundo Kirmayr, o nível de exigência pessoal é muito alto. "Se a tenista não atinge sua expectativa individual, ela se sente frustrada", disse o técnico.
Didier aponta ainda uma mudança na sociedade. "Elas não têm a mesma paixão pelo que fazem. Ganham muito dinheiro e não se envolvem mais como antes", falou o francês.
Para Kirmayr, o aspecto financeiro tem grande peso nas aposentadorias precoces.
"A Henin, por exemplo, é multimilionária e agora vai querer gastar o dinheiro."
Apenas em prêmios, a belga acumulou cerca de US$ 19,5 milhões na carreira.


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