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FUTEBOL
Por que chora Pelé
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Acordei meio de bode e busquei o controle remoto. Queria ver a corrida do Canadá. O
que a TV mostrou foi o Pelé saindo com a tocha do Maracanã. Esquecera: a F-1 seria à tarde. Antes
que eu terminasse de coçar os
olhos, o gênio do futebol desabou
em choro. Buscou um ombro amigo e anônimo. Recém-operado de
um descolamento de retina, chorou de soluçar.
Como soluçou, molecote, na Copa de 58, quando pela primeira
vez derramou diante do planeta
as lágrimas que o marcariam como atleta emotivo. Raiava ali, na
emoção de Pelé, o luminoso domingo do Rio como anfitrião do
fogo olímpico. Festa junina na cidade, dor-de-cotovelo em arraiais
nem tão distantes.
A última vez que assistira ao
seu pranto convulsivo fora no
Faustão. Revelara-se que uma
empresa com seu nome se apropriara de US$ 700 mil movimentados em torno de um evento beneficente para o Unicef da Argentina que nunca aconteceu.
A firma que ficou com a grana
era homônima à que Pelé controlava no Brasil. Sediada em paraíso fiscal, fora omitida ao fisco por
ele e seu então sócio Hélio Viana.
Ministro dos Esportes, o ex-jogador assinara um contrato com o
Unicef como avalista da offshore.
Firmara outro como presidente
da tal companhia. Seu advogado
o informara dos US$ 700 mil em
caixa. Sugeria que a Pelé Sports &
Marketing Inc. embolsasse tudo e
nada repassasse ao fundo da
ONU para o qual arrecadaram-se
os dólares. Assim foi feito.
Tudo isso, jurou Pelé, sem ele
saber. Empresa no exterior? Estava por fora. Pôs o rolo na conta do
sócio com que rompera. Prometeu que escolheria a dedo os parceiros dali em diante. E chorou no
Faustão. Apresentou as novas
credenciais: associou-se ao reverendo Moon na promoção de um
torneio "pela paz". O projeto mexia com milhões. Prepostos de Pelé contaram que ele foi ludibriado
e não recebeu o devido.
Na jogada na Coréia estava
também um colaborador do ex-ministro que saiu em sua defesa
no caso Unicef. Por uma coincidência danada, o amigo anda sumido do Brasil desde a publicação de algumas sentenças nas
mais de mil ações contra ele e um
negócio seu do ramo de saúde.
Há um ano, noticiou-se que Pelé reconheceu num processo ser
dono de outra offshore jamais declarada. Um porta-voz esclareceu: o Rei não sabia. Logo montou uma lista de feras de todos os
tempos em que Romerito barrou
Gérson. Na festa da Fifa em Londres, apareceu com o colaborador
que anda sem dar as caras por
aqui, agora anunciado como funcionário da empresa Pelé Pro.
Pelé encarna a nossa tragédia.
De um lado, o talento inigualável,
o melhor do mundo. O país que
deu certo, o sucesso. A generosidade de oferecer o milésimo gol às
crianças. O amigo que todo mundo quer.
De outro, o antípoda. Ouvi ontem: como se ao vestir o terno virasse o contrário do cara bacana
de uniforme e agasalho esportivos. É a sina brasileira. Talvez
não faltem motivos para chorar.
Zidane e Petkovic
Nos gols de falta de Zidane e
Petkovic no domingo, viu-se a
diferença do cracaço para o jogadoraço. A cobrança do francês contra a Inglaterra saiu como um canhão. Na do sérvio
diante do Palmeiras, menos eficiente, a bola foi mais lenta. Como diria o idiota da objetividade, o gol vale igual.
Árbitro de peso
Impressionante o perfil rechonchudo do árbitro Héber
Lopes, que apitou Flamengo x
Vitória. Parece cada vez mais
gordo. Qual o limite de peso estabelecido pela CBF?
A saída de Kajuru
Se a crítica a Aécio Neves dá demissão quando o neto de Tancredo é governador, imagine se
ele um dia chegar à Presidência.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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