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Copa firma futebol australiano
Zebra hoje pode consolidar no país esporte que perde em popularidade para o rúgbi e o críquete
Após a vaga no Mundial, direitos de TV do Nacional da Austrália saltaram de
R$ 4,1 milhões por ano para R$ 200 milhões por 7 anos
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A MUNIQUE
Nada que aconteça hoje em
Munique apagará da memória
a euforia que tomou conta da
Austrália após a histórica vitória sobre o Japão na estréia, sua
primeira em Copas do Mundo.
Um beliscão na seleção brasileira, porém, pode ser o empurrão definitivo para que o futebol consiga se tornar de fato um
esporte de prestígio no país.
Embora seja a modalidade
mais praticada entre crianças, o
futebol tal qual foi regulamentado pelos ingleses é, lá, um esporte quase de segundo escalão
em popularidade e dinheiro.
Ainda está a léguas do futebol
australiano, ou "aussie rules",
mistura de rúgbi com futebol
americano, que lidera na preferência nacional, do críquete e
das duas categorias de rúgbi (o
"league", com 13 jogadores, e o
"union", com 15). É batido ainda pelo tênis, que tem no país
um dos quatro Grand Slams.
A média de público da liga de
"aussie rules" na última temporada foi de 47 mil pessoas por
partida. A de futebol registrou
11 mil torcedores por jogo.
Os direitos de TV da primeira
foram vendidos por 780 milhões de dólares australianos
por cinco anos (cerca de R$ 1,3
bilhão). Até a Austrália bater o
Uruguai e se classificar para um
Mundial após 32 anos, a TV pagava apenas 1,5% disso pelo futebol, R$ 4,1 milhões por ano.
A vaga na Alemanha começou a mudar o quadro. O novo
contrato da chamada A-League, assinado após a classificação, é de R$ 200 milhões por
sete anos. É um salto absurdo,
mas ainda é pouco mais de 10%
do valor pago ao "aussie rules".
"O que o time fez na estréia
teve um impacto tremendo na
Austrália. Espero que sirva para encorajar torcida, atletas e
todos os envolvidos neste universo a desenvolver o futebol e
transformá-lo em algo estável
no país", disse o técnico holandês Guus Hiddink, que vai treinar a Rússia após a Copa.
Os cartolas estão exultantes
com a chance. "O futebol era
mesmo nosso quarto ou quinto
esporte. Era há quatro dias, antes da vitória sobre o Japão. Já
não sei mais se é", diz o diretor
de alto rendimento da federação australiana, John Boultbee.
Além de mais investimentos
(fora o crescimento da renda
dos direitos de TV, estima-se
que a federação tenha, por causa da Copa, incremento de R$
33 milhões com patrocínios), a
esperança dos dirigentes é que
o Mundial produza ídolos.
Aqui reside talvez a chave para entender por que, mesmo
com tantos praticantes (1,08
milhão, segundo pesquisa do
instituto Roy Morgan), o futebol não engrena no país.
"Aos 14 ou 15 anos, idade de
fazer escolhas, os teens escolhem heróis de outros esportes.
Precisamos ter nossos heróis,
mas hoje eles estão jogando na
Europa", explica Boultbee.
Dos 23 convocados, só 2
atuam na Austrália. A maioria
joga em times medianos do futebol inglês, como o meia Tim
Cahill, autor de dois gols na estréia, que defende o Everton.
"Durante o Mundial da Alemanha, o país está vendo que
pode ter ídolos também no futebol", comenta o dirigente.
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