São Paulo, domingo, 18 de junho de 2006

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Copa firma futebol australiano

Zebra hoje pode consolidar no país esporte que perde em popularidade para o rúgbi e o críquete

Após a vaga no Mundial, direitos de TV do Nacional da Austrália saltaram de R$ 4,1 milhões por ano para R$ 200 milhões por 7 anos

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A MUNIQUE

Nada que aconteça hoje em Munique apagará da memória a euforia que tomou conta da Austrália após a histórica vitória sobre o Japão na estréia, sua primeira em Copas do Mundo.
Um beliscão na seleção brasileira, porém, pode ser o empurrão definitivo para que o futebol consiga se tornar de fato um esporte de prestígio no país.
Embora seja a modalidade mais praticada entre crianças, o futebol tal qual foi regulamentado pelos ingleses é, lá, um esporte quase de segundo escalão em popularidade e dinheiro.
Ainda está a léguas do futebol australiano, ou "aussie rules", mistura de rúgbi com futebol americano, que lidera na preferência nacional, do críquete e das duas categorias de rúgbi (o "league", com 13 jogadores, e o "union", com 15). É batido ainda pelo tênis, que tem no país um dos quatro Grand Slams.
A média de público da liga de "aussie rules" na última temporada foi de 47 mil pessoas por partida. A de futebol registrou 11 mil torcedores por jogo.
Os direitos de TV da primeira foram vendidos por 780 milhões de dólares australianos por cinco anos (cerca de R$ 1,3 bilhão). Até a Austrália bater o Uruguai e se classificar para um Mundial após 32 anos, a TV pagava apenas 1,5% disso pelo futebol, R$ 4,1 milhões por ano.
A vaga na Alemanha começou a mudar o quadro. O novo contrato da chamada A-League, assinado após a classificação, é de R$ 200 milhões por sete anos. É um salto absurdo, mas ainda é pouco mais de 10% do valor pago ao "aussie rules".
"O que o time fez na estréia teve um impacto tremendo na Austrália. Espero que sirva para encorajar torcida, atletas e todos os envolvidos neste universo a desenvolver o futebol e transformá-lo em algo estável no país", disse o técnico holandês Guus Hiddink, que vai treinar a Rússia após a Copa.
Os cartolas estão exultantes com a chance. "O futebol era mesmo nosso quarto ou quinto esporte. Era há quatro dias, antes da vitória sobre o Japão. Já não sei mais se é", diz o diretor de alto rendimento da federação australiana, John Boultbee.
Além de mais investimentos (fora o crescimento da renda dos direitos de TV, estima-se que a federação tenha, por causa da Copa, incremento de R$ 33 milhões com patrocínios), a esperança dos dirigentes é que o Mundial produza ídolos.
Aqui reside talvez a chave para entender por que, mesmo com tantos praticantes (1,08 milhão, segundo pesquisa do instituto Roy Morgan), o futebol não engrena no país.
"Aos 14 ou 15 anos, idade de fazer escolhas, os teens escolhem heróis de outros esportes. Precisamos ter nossos heróis, mas hoje eles estão jogando na Europa", explica Boultbee.
Dos 23 convocados, só 2 atuam na Austrália. A maioria joga em times medianos do futebol inglês, como o meia Tim Cahill, autor de dois gols na estréia, que defende o Everton.
"Durante o Mundial da Alemanha, o país está vendo que pode ter ídolos também no futebol", comenta o dirigente.


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