São Paulo, domingo, 18 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice JOSÉ GERALDO COUTO Futebol, enfim A Argentina parecia ter 11 Kakás em campo, pela técnica e consciência tática LI ANOS ATRÁS na revista "Paris Match" uma frase da qual nunca me esqueci: "Todo mundo sabe que a Copa do Mundo só começa de verdade quando o Brasil entra em campo". Ao ler isso, fui invadido pelo bobo orgulho nacionalista que sentimos quando estamos fora de casa. Mas, anteontem, assistindo à fantástica exibição da Argentina contra Sérvia e Montenegro, pensei: "Agora, sim, começou a Copa". Como escreveu ontem Clóvis Rossi, a Argentina fez o que se esperava do Brasil. Comparar Argentina 6 x 0 Sérvia e Montenegro com Brasil 1 x 0 Croácia chega a ser covardia. Os argentinos mostraram ser um grande time. Os brasileiros dão a impressão de ainda não serem sequer um time, de não passar de um amontoado de estrelas, cada uma girando numa órbita separada. Na Argentina, ao menos na Argentina que se exibiu anteontem, todos -de Riquelme a Sorín, de Saviola a Messi, de Ayala a Crespo- parecem falar a mesma língua. Não há espaço para ciúmes e faniquitos. Do ponto de vista tático, talvez seja possível dizer que a movimentação do meio-campo e do ataque seja o que diferencia a Argentina de Pekerman do Brasil de Parreira. Os meias Mascherano, González (ou seu substituto Cambiasso), Rodríguez e Riquelme trocam de lugar e de função o tempo todo. Não por acaso, os três primeiros gols foram feitos por volantes (Rodríguez e Cambiasso), aproveitando a movimentação, os passes e a abertura de espaços dos atacantes. Mas o que mais chamou a atenção no show argentino foi tudo aquilo que faltou ao Brasil na estréia: coesão, homogeneidade, empenho coletivo, objetividade. No jogo da seleção nacional, Kaká se destacou pela técnica e consciência tática. A Argentina, nesse sentido, parecia ter 11 Kakás em campo. Cada jogo é um jogo, e o futebol se reinventa a cada dia. Pode ser que hoje a camisa amarela volte a despertar o mesmo entusiasmo que arrebatou aquele velho redator da "Paris Match". Vamos ver. @ - jgcouto uol.com.br Texto Anterior: Paraguai: Gamarra se despede do time após mundial Próximo Texto: Símbolos do Mundial são nojentos, diz especialista Índice

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