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Símbolos do Mundial são nojentos, diz especialista
Para o designer Erik Spiekermann, logo e mascote não remetem à cultura local
Escolhas da Fifa e do comitê organizador atendem só a patrocinadores e público de fora, diz fundador de uma conceituada agência alemã
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A MUNIQUE
Tudo não passa de desenhos
ou criações sem importância a
um olhar desapercebido. Mas,
sempre que encara o logotipo
oficial ou a mascote da Copa,
Erik Spiekermann diz entender o repúdio que alguns conterrâneos sentem pela competição mais nobre do futebol.
Na sua visão, estão equivocadas a escolha de cores, os traços
do design e até o leão eleito para representar o país. "É muito
ruim, é nojento. Coisas assim
fazem os alemães não se sentirem em casa num evento tão
importante, que lutaram tanto
para receber", disse à Folha.
O desabafo não vem de um
leigo. Spiekermann é hoje um
dos programadores visuais
mais respeitados da Alemanha.
Co-fundador da agência MetaDesign, tem clientes como
Audi, Volkswagen, IBM e Nike.
Seu principal ataque está direcionado ao logo preparado
por duas empresas (uma alemã
e outra inglesa) para o torneio.
Segundo ele, três rostos sorridentes, cores da bandeira alemã, a taça da Copa e mais o nome da Fifa são elementos demais em um mesmo desenho.
"É a típica coisa para atender
aos patrocinadores. Vira um
amontoado. Além disso, aquilo
não tem nada a ver com o povo.
Não usamos essas cores, não
temos esses sorrisos. São outras as nossas tradições."
Ele crê que o emblema de um
torneio como a Copa influencia
muito as pessoas, pois ganha
dimensão nacional. "Ele indica
caminhos em metrôs, estradas,
estádios. Tem uma função psicológica forte. Imagine um alemão olhando aquilo e pensando: "Onde é que essas carinhas
sorridentes vão me levar?"."
Ele culpa a Fifa e o comitê
organizador por terem feito
uma "escolha direcionada" das
agências que criaram o símbolo
-seu grupo não participou da
disputa. E lembra outro evento
esportivo no país, a Olimpíada
de 1972, para dar um exemplo
de design com qualidade.
"O logo é todo feito em preto-e-branco, com extrema precisão. Não temos que misturar
cores nem buscar ser engraçados para conquistar quem vem
de fora", disse Spiekermann.
O fracasso de vendas da mascote da Copa, um leão batizado
de Goleo -a empresa que adquiriu os direitos entrou em
bancarrota-, também não o
surpreende. Para o designer, é
uma peça criada apenas para o
público de outros países.
"Trata-se de um leão, animal
não-tradicional na Alemanha.
E "Gol" é algo usado por espanhóis e brasileiros. "Leo" é
uma abreviação latina, italiana
talvez, para leão. Da nossa cultura, não há nada", explicou.
O bicho também é usado nos
estádios. A cada gol, Goleo aparece na tela e dá um rugido.
"É mais um desastre", ataca
o designer. "Querem empurrar
a mascote de qualquer jeito ao
público, criar jogadas de marketing. Isso não funciona."
Novamente, 1972 vem à tona. "Na época da Olimpíada,
usaram um cão da raça dachshund como mascote, uma espécie muito popular em toda a
Bavária. Foi um sucesso."
É essa valorização da Alemanha que Spiekermann queria
encontrar, já que tais símbolos
poderiam ajudar a resgatar o
nacionalismo alemão.
"Parece que, por termos uma
história recente tão ruim, por
termos sido o berço de Hitler,
não podemos sentir orgulho.
Quem cuidou do design se
preocupou em fugir de tudo o
que é mais comum no país. Pode agradar a quem vem de fora,
mas não faz o menor sentido
para quem vive aqui", afirma.
Do outro lado, há quem discorde. Alexander Koch foi escolhido pela Fifa para cuidar de
toda a programação visual da
Copa. Ele diz respeitar as críticas de Spiekermann e outros
designers. Mas se defende.
"Em 2004, quando o logo foi
lançado, ao menos 50% das críticas que recebemos foram positivas. Como não encontram
nada para falar mal no Mundial, resolveram atacar o nosso
emblema", disse à Folha.
Sobre Goleo, Koch reconhece que um leão não tem identificação imediata com a Alemanha. Mesmo assim, considera a
escolha acertada.
"É um animal que agrada às
crianças, passa uma mensagem
de carinho e força ao mesmo
tempo. Foi ótimo colocar um
clipe com ele nos estádios. A
cada gol, o público vai vibrar e
aprender a gostar da mascote."
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