São Paulo, domingo, 18 de junho de 2006

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Longe do gol

"No Barcelona, jogo aberto para o gol. Fico bem pertinho, qualquer drible já estou bem posicionado. Aqui, por jogar mais longe, passo por um, passo por dois, passo por três e ainda estou longe do gol"

Melhor jogador do mundo diz que pode evoluir muito, que primeiro passo é fazer mais gols e aprimorar o cabeceio e que quer começar agora

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A KÖNIGSTEIN

Eleito pela Fifa melhor jogador do planeta, Ronaldinho, 26, quer ser goleador. Em entrevista à Folha na tarde de anteontem em Königstein, o atleta do Barcelona espera que a Copa marque o início de uma nova etapa em sua carreira. A partir de agora, ele quer aumentar o seu poder de fogo e ser implacável também nas jogadas aéreas, um de seus pontos fracos. Tarefa difícil dado seu posicionamento na seleção. "Aqui jogo longe do gol." O astro aposta hoje, contra a Austrália, na recuperação de Ronaldo. Em ano eleitoral no Brasil, não apoiará nenhum candidato e demonstra pouco interesse pela política.  

FOLHA - Jogar uma Copa como o melhor do mundo é diferente?
RONALDINHO
- Depois destes quatro anos, sei que existe aquela atenção redobrada. Tem sempre um me marcando, outro na sobra. Mas tudo bem. O bom é o carinho que recebo.

FOLHA - O que você achou da sua atuação na estréia? Foi a marcação mais dura que enfrentou em Copa?
RONALDINHO
- Na outra Copa, os adversários sempre tinham preocupação comigo também. Ninguém dava espaço. Tenho consciência de que preciso melhorar muito. Nós já conversávamos sobre isto. Na estréia, tínhamos como mais importante vencer. Depois, o peso sairá, e as coisas voltarão ao normal.

FOLHA - O que você achou da declaração do Pelé sobre o desempenho da seleção com a Croácia [disse que Ronaldinho teve atuação muito abaixo do nível no Barcelona]?
RONALDINHO
- Tem crítica que é para melhorar. Sobre a dele, como não li, não posso falar. Não tenho o que comentar [risos].

FOLHA - Muitos dizem que, se você se preocupasse em fazer mais gols, entrar mais na área, chutar mais e ser goleador, seria melhor do que é.
RONALDINHO
- Esta é a minha preocupação também.

FOLHA - O Rivaldo gostava de fazer gol. Dia em que ele não fazia gol...
RONALDINHO
- Ele ficava bravo.

FOLHA - Quando não fazia gol, dizia que jogava mal. Foi um dos poucos meias artilheiros do futebol...
RONALDINHO
- Isto é uma coisa que tenho na cabeça. Quero fazer mais gols, cabecear melhor. Tenho que começar agora.

FOLHA - Nos jogos dificílimos do Barcelona, você assumia a função não só de fazer o passe como também de fazer os gols. Você entrava como um típico centroavante...
RONALDINHO
- Posso melhorar muito e quero. Treino muito para ter uma chegada melhor à área, de ter um melhor cabeceio. No último jogo, acabou acontecendo [uma oportunidade de fazer um gol de cabeça], mas perdi o gol. Estamos treinando muito esta jogada vindo de trás .Vou me aprimorar.

FOLHA - Você está treinando para ser fominha?
RONALDINHO
- Não. Treino para fazer gol. Quero ter um percentual grande para fazer o gol e para dar o passe. Minha prioridade é fazer com que o atacante do meu time seja artilheiro. O cara que faz o passe é tão importante quanto o que faz o gol.

FOLHA - Você já falou com o Ronaldo sobre o que acontece com ele?
RONALDINHO
- Sempre conversamos. Temos uma amizade muito grande. Acho que vai jogar bem no próximo jogo.

FOLHA - Apareceram muitas teorias sobre o motivo da má atuação do Ronaldo em Berlim. A mãe dele declarou que o filho passou mal em campo. Depois, a CBF desmentiu...
RONALDINHO
- Dentro de campo, naquela dia, não chegamos a falar muito. Temos é que deixar isso para trás. Além disso, mãe sempre está certa [risos].

FOLHA - Você joga aqui numa posição diferente da no Barcelona...
RONALDINHO
- A diferença é que aqui pego a bola um pouco mais atrás, seguro mais, tenho que dar tempo de jogo. Lá, jogo aberto para o gol. Fico bem pertinho do gol, qualquer drible já estou bem posicionado. Aqui, por jogar mais longe, passo por um, passo por dois, passo por três e ainda estou longe do gol. FOLHA - Você acha que após a Copa, as pessoas vão mudar o conceito sobre você? A Copa é tão marcante para melhor ou para pior?
RONALDINHO - A Copa marca muito a carreira para melhor ou para pior. Sei disto. Na última, foi maravilhoso. Isto marcou. Mas também conheço o outro lado. Já tive a infelicidade de não vencer uma Olimpíada [2000]. A Copa é um torneio em que todos querem entrar para a história pelo lado bom....

FOLHA - Esta faixa que você usa no seu cabelo. É marketing?
RONALDINHO
- Não. Sempre gostei de usar bonés, estas coisas. Depois que deixei o cabelo grande, comecei a usá-las.

FOLHA - Neste ano, vai ter eleição para presidente. Você já se decidiu?
RONALDINHO
- Sempre justifico o meu voto.

FOLHA - Você gosta de participar...
RONALDINHO
- Não sou de apoiar ninguém. Vivemos na Europa... Ficamos quase sempre mais dentro de avião. Acabo não acompanhando 100%.

FOLHA - E o governo Lula?
RONALDINHO
- Sou um cara positivo. Sempre acho que tudo pode melhorar, que vamos fazer um país melhor.


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