São Paulo, domingo, 18 de junho de 2006

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Clóvis Rossi

Gente séria

TOPO, NO centro de imprensa do Estádio de Frankfurt, com um fantasma (um bom fantasma) de um passado em que o Palmeiras era grande. A credencial diz que ele se chama Giuseppe Altafini, mas nasceu José João Altafini, ganhou no futebol o apelido de Mazzola, foi campeão do mundo com o Brasil em 1958. Mais: era o titular inicial, no lugar de um certo Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Agora comentarista da Sky Itália, está, como é natural, incumbido de comentar, entre outros, os jogos do Brasil. Mazzola conta que, aos cinco minutos do jogo contra a Croácia, disse a José Trajano, o notável jornalista esportivo hoje chefe da ESPN Brasil: "O Ronaldo não está bem". Acertou em cheio. Pergunto o que ele acha da comparação que se fazia no Brasil (antes do jogo contra a Croácia) entre a seleção de 1970 e a atual. "Para começar, os cinco atacantes de 1970 eram gente séria", responde com aqueles gestos largos bem italianos. É, portanto, mais um julgamento extracampo. E questionável. Gérson, um dos que Mazzola chama de atacante, fumava tanto ou mais que eu, até parar faz seis anos. Mas nem com um pulmão supostamente avariado, como é o de todo fumante, andava em campo tão lentamente como Ronaldo na terça-feira. Mas o meu bom fantasma faz também uma comparação puramente futebolística: "Os cinco de 70 tratavam a bola de você, não de senhor". Mazzola diz que Adriano, na Itália, jogou mal o ano inteiro. Critica a troca de Edmílson por Zé Roberto. "No Bayern, Zé Roberto jogava praticamente como um ponta. No Brasil, joga no meio, nem tão à frente como no Bayern nem tão atrás como Edmílson", reclama, adepto de uma teoria da simplicidade: saiu o goleiro, entra outro goleiro. Saiu o centroavante, entra outro e ponto final. "Eu saí, entrou o Pelé", compara imodestamente. A menos, é claro, que o quadrado mágico que ainda não foi mágico estivesse em forma. "Aí, você toma três gols, mas faz cinco." Ronaldo, então, deve sair? Responde com outra comparação: "O que é melhor: um professor morto ou um burro vivo?". Ah, do Palmeiras nem falamos: "Só torço para dois times na vida, a seleção brasileira e o Palmeiras. Mas falar do Palmeiras hoje me faz doer o coração".

@ - crossi uol.com.br


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