São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2010

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PAUL DOYLE

Capello e os adolescentes


Capello apostou em velocidade, força e disciplina. Mas a Inglaterra não é a única com essas qualidades


A MÉDIA de idade dos jogadores da Inglaterra é a segunda mais alta desta Copa (atrás do Brasil), mas, com frequência, eles ainda jogam como adolescentes.
Cheios de energia, mas desajeitados. Arrogantes, porém angustiados. E, sobretudo, buscam uma identidade que não seja a de seus antecessores. A raiva com que o time e a mídia ingleses reagiram às farpas de Franz Beckenbauer nesta semana, quando este disse que eles ainda formam um time de chutão e correria, comprova esse fato.
Mas Fabio Capello parece concordar com o alemão e não crê realmente que seus atletas possam superar sua tradição. Suas ideias preconcebidas sobre o potencial inglês, além de seu desejo totalitário de controlar cada detalhe dos jogos, agravam a previsibilidade do time. Um técnico mais otimista teria levado à África o jovem e dinâmico atacante Adam Johnson, do Manchester City, ou Ashley Young, do Aston Villa, ou teria posto o malandro Joe Cole contra os EUA. Mas, em lugar de imaginação e criatividade, Capello apostou em atributos industriais como força, velocidade e disciplina.
O problema é que a seleção inglesa não é a única que possui essas qualidades. E, diferentemente da Inglaterra de Capello, várias outras seleções têm outras qualidades também.
Existe uma área na qual faltam à seleção inglesa até mesmo esses atributos básicos: o centro da defesa.
As lesões sofridas por Rio Ferdinand e Ledley King privaram o time de velocidade. A lentidão de John Terry e Jamie Carragher é tão óbvia que, hoje, a Argélia vai mudar sua escalação para explorá-la. Mas, mesmo que Ledley King pudesse jogar e que Terry e Carragher fossem velozes, o centro da defesa -a base do jogo do time- seria fraco pelo fato de a Inglaterra não valorizar um aspecto de sua história pelo qual deveria prezar.
É uma das grandes ironias do futebol inglês o fato de o jogador mais aclamado após o único título do país na Copa -o capitão de 1966, Bobby Moore- ser aquele que menos esforço se faz para imitar. Nenhum outro desde Moore fez o papel duplo que ele cumpria -iniciar ataques e abortar os do time rival. Hoje, o espanhol Piqué faz isso melhor que qualquer outro jogador no mundo. Em qual time ele jogava antes do Barcelona? No Manchester United.
Mas jogava raramente, razão pela qual o deixou.


PAUL DOYLE é redator-chefe de futebol do jornal britânico "The Guardian"

Tradução de CLARA ALLAIN


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