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FUTEBOL
Os técnicos: Aristóteles
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Filosofastro leitor, peripatética leitora, talvez vocês
nunca tenham ouvido falar em
Aristóteles Brás. Um erro imperdoável! Aristóteles Brás é um dos
mais famosos técnicos que já passaram pela gloriosa cidade de
Torre de Pedra.
Conduzido à direção do Esportivo Torrense, seu primeiro ato foi
reunir os jogadores em torno do
campo para explicar sua filosofia
de trabalho:
"Ganha o jogo aquele time que
faz mais gols. Nós queremos ganhar os jogos. Logo, temos que fazer mais gols que o adversário".
Os jogadores olharam uns para
os outros. Nunca haviam escutado uma preleção tão simples.
Aquele treinador colocava suas
idéias de um modo rigorosamente lógico, e aquela lógica lhes
transmitia uma sensação de ordem, segurança e estabilidade.
Sim, Aristóteles era um mestre
nos silogismos. E eles também faziam sucesso nas conversas individuais que o treinador tinha
com os jogadores.
Querem exemplos? Eis um.
Certa vez o atacante Alexandrão estava deprimido por vir
perdendo vários gols. Aristóteles
chamou-o de lado no intervalo de
um amistoso e afirmou o seguinte: "Atacantes fazem gols. Alexandrão é um atacante. Logo,
Alexandrão fará gols".
Alexandrão arregalou os olhos,
admirado diante daquela maneira tão cristalina de se enunciar
uma verdade. Recuperou sua
confiança e, voltando para o segundo tempo, marcou dois tentos,
sendo um de letra e outro de bicicleta.
A mesma regra foi aplicada
com o guarda-metas Felipe.
"Goleiros não podem tomar
frangos. Felipe é um goleiro. Logo,
Felipe não pode tomar frangos."
E com o grupo em geral.
"Times audaciosos ganham taças. Nosso time é um time audacioso. Logo, nosso time ganhará a
Taça Castelo."
Verdade ou não, o fato é que a
Taça Castelo testemunhou um
histórico desempenho do Esportivo Torrense. O Bofete, primeiro
adversário, foi surrado por 8 a 0.
Por placares dilatados, também
caíram o Cesário Lange, o Pardinho e o Porangaba. Na semifinal,
contra o Real Sarapuí, outra goleada: 4 a 1.
A decisão foi disputada contra o
Olimpique de Tatuí, time que fizera uma campanha marcada
por empates e vitórias magras.
O povo de Torre de Pedra esperava outra goleada e lotou o estádio municipal. Porém, bem postado na defesa, o esquadrão tatuiano segurou o 0 e 0 e levou a partida para os pênaltis. Cada equipe
acertou seus quatro primeiros
chutes. Mas aí, na última série,
Alexandrão acertou a trave, e Felipe engoliu um frango inacreditável.
Aristóteles era um lógico, mas o
futebol não tem muito a ver com
a lógica.
Nos vestiários, ele ainda teve de
suportar uma derradeira humilhação. O presidente do clube subiu numa cadeira e, com o dedo
em riste, bradou: "Técnicos que
não ganham títulos são demitidos. O senhor não ganhou o título. Logo, está demitido".
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