São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

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Como Bala, Nilo cai por último e assegura a vitória

Nadador mineiro, a exemplo de Edvaldo Valério, supera rivais no sprint final do revezamento, agora no 4 x 200 m

Atleta diz que atuação de colega lhe deu motivação e recebe elogio do medalhista olímpico, que almeja 2008 mas ameaça deixar piscinas

DA SUCURSAL DO RIO
E DO ENVIADO AO RIO

Nicolas César de Oliveira, 19, o Nilo, chegou ainda desconhecido ao Pan. Estudante de comércio exterior e marketing na Universidade do Arizona (EUA), o nadador mineiro tem como sonho comprar uma casa para o pai, em Natal.
Tenta ser bem-sucedido graças ao esporte. "Fui para os EUA para conciliar os treinos com o estudo", disse Nilo.
Ele foi decisivo para o primeiro ouro brasileiro na história do Pan no revezamento 4 x 200 m livre. Caiu na água 21 centésimos atrás do norte-americano Robert Margalis.
Nilo -que fechou a prova, após Thiago Pereira, Rodrigo Castro e Lucas Salatta- assegurou a vitória em 7min12s27, novo recorde do Pan e sul-americano. Os Estados Unidos acabaram com 7min15s00.
"Ele [Nilo] sempre fechou bem o revezamento do Minas [clube do nadador]. Sob pressão, ele sempre deu resultado", afirmou Thiago Pereira.
O novato repete, sete anos depois, a trajetória de outro negro, Edvaldo Valério, que brilhou na Olimpíada de Sydney-2000. Nome menos badalado do 4 x 100 m livre, que tinha Gustavo Borges, Fernando Scherer e Carlos Jayme, o baiano, na época com 22 anos, assegurou a medalha de bronze.
"O desempenho dele [Nilo] lembra o que aconteceu comigo em Sydney. Naquela ocasião, peguei o revezamento em quinto. Bate uma adrenalina muito grande", contou Valério, 29.
"Você pensa: "Agora vou nadar como nunca". Para quem está atrás, é mais fácil. O cara que tem vantagem começa a sentir quando vê que alguém se aproxima, descoordena o nado, sente a pressão, pois tem a obrigação de manter posição."
A bola da vez tem como meta a final olímpica que Valério já alcançou. Nilo garantiu vaga no Rio também nos 200 m livre, além do 4 x 100 m livre. No Arizona, ele treina com o sul-africano Ryk Neethling, campeão olímpico em Atenas-2004.
"Antes de cair na piscina, vi o Lucas pau a pau com o americano [Andy Grant] até os 150 m. Pensei: "Vai cair na minha mão". Nos últimos 50 m, Lucas cresceu demais. Aquilo me deu motivação", contou Nilo.
Em 2000, Valério, conhecido como Bala, surpreendeu. "Caí na água para fazer o meu melhor. Não me pus muita pressão", disse Valério. Um ano após a Olimpíada, o baiano perdeu seus patrocínios. De 2002 até 2006, ele não conseguiu bons resultados. Valério ficou fora de Atenas-04 e do Pan de 2003. Também não obteve classificação para o Rio-2007.
"Tive que correr atrás de apoio, deixava de treinar direito por isso. Fiquei desmotivado. Meu filho [Eduardo, 3] nasceu, e passei a me dedicar mais à família", disse Valério.
Desde 2006, ele defende o Grêmio Náutico União, de Porto Alegre. "Não tenho patrocínio, mas ganho o salário do clube." Passa a maior parte do ano na capital gaúcha. "Agora, só vou a Salvador no final do ano."
Pouco antes do Pan, no Troféu Maria Lenk, o Brasileiro de natação, ficou em segundo nos 50 m livre e em sexto nos 100 m livre. Os tempos não foram suficientes para o Pan.
"Fiz o meu melhor nas seletivas, mas foram as mais fortes dos últimos tempos. Estou dando tudo de mim para Pequim-2008. Se até o ano que vem não conseguir nada, eu devo encerrar a carreira."
O baiano diz não ser necessário dar conselhos a Nilo. "Ele está fazendo tudo certo até agora. Desde que foi para os EUA, teve uma melhora absurda."
Sete anos após o bronze, Valério mantém a rotina de treinos. E divide espaço em república com outros atletas de seu clube. (FABIO GRIJÓ E PAULO COBOS)


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