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CARLOS HEITOR CONY
COLUNISTA DA FOLHA
Desafios do Pan
Sensação de descrença que dominou a cidade nos preparativos virou euforia diante do espetáculo de abertura
É cedo, ainda, para cantar
vitória e atribuir sucesso integral à organização do Pan-Americano Rio 2007. Os desafios são grandes, manter centenas de atletas e equipes
de apoio em seus alojamentos, providenciar deslocamentos nas horas certas, alimentação, segurança, criar
condições ideais para a performance técnica de cada
modalidade esportiva, toda
uma infra-estrutura terá de
ser mantida nos cascos até
que a pira seja apagada.
Contudo, o sentimento de
descrença que dominou a cidade durante os preparativos, mídia e grande parte da
população achando que o
Rio não ofereceria cenário
condizente a um espetáculo
de nível internacional, esse
sentimento transformou-se
em euforia diante da realidade do espetáculo de abertura, na semana passada.
À margem dos resultados
técnicos, dos recordes que
serão superados e das novas
estrelas que surgirão no cenário esportivo das três
Américas, uma prova parece
que já foi dada e vencida pela
cidade, que por sinal atravessa um período deprimente
em sua história.
O carioca andava de cabeça baixa, astral em frangalhos, nem mesmo a eleição
do Cristo Redentor como
maravilha do mundo atenuou seu medo pelas balas
perdidas, sua intranqüilidade pessoal, sua depressão pela má qualidade de sua vida
urbana.
De repente, a festa. O Maracanã transformado em
palco, o único incidente resumido a uma quebra do
protocolo que deixou o presidente da República mudo,
mas foi salvo por Carlos Arthur Nuzman, que evitou
uma vaia maior e vexatória.
São muitos os que, dentro
e fora do país, não acreditam
na capacidade do Rio em sediar uma Olimpíada. Não faz
muito, chegamos a ser finalistas na escolha decisiva,
uma comissão de técnicos
internacionais examinou
nossas possibilidades.
Um grupo de ambientalistas japoneses deu um passeio pela baía da Guanabara,
verificou o estado de poluição em que se encontrava (e
ainda se encontra), deu um
parecer arrasador: "Um povo que não sabe cuidar de um
bem da natureza do porte da
Guanabara não merece ser
escolhido para sediar uma
Olimpíada".
O espinho está encravado
na carne do carioca. A realização do Pan mostrou sua
capacidade para dar a volta
por cima. Com a ajuda dos
órgãos federais e o apoio da
opinião pública nacional, poderemos sanear não só a baía
mas outros pontos que estrangulam a nossa paisagem
e a estrutura operacional de
uma cidade que apresenta
tantos pontos negativos.
Se tudo correr bem até o final, poderemos encarar o
Pan como ensaio geral para
uma festa maior e definitiva.
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