São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002

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Políticos pró e contra as comissões retomam disputa devido às eleições

Parlamentares da "bancada da bola" já travam novo duelo com desafetos para conseguir votos em outubro

CPIs do futebol agora sobem no palanque

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
MARCELO SAKATE

DA REPORTAGEM LOCAL

Em 16 de junho de 1950, quando o Maracanã foi aberto ao público, Getúlio Vargas era indicado pelo PTB candidato à Presidência.
Logo depois, aproveitando o clima de euforia gerado pela estréia vitoriosa da seleção no Mundial daquele ano, o primeiro e único até hoje abrigado pelo Brasil, foi a vez de Cristiano Machado, do PSD, e de Eduardo Gomes, da UDN, fazerem o mesmo.
Não é de hoje, portanto, que futebol e política mantêm ligação. Em tempos eleitorais, como já era de se esperar, ela se estreita ainda mais. Em tempos eleitorais pós-CPIs da bola, então, nem se fala.
Quem foi contra os trabalhos das comissões de inquérito no Congresso e quem foi a favor das investigações das irregularidades no futebol colocaram as manguinhas de fora e estão se aproveitando delas para tentar a reeleição.
É o típico caso de Álvaro Dias (PDT-PR), que presidiu a CPI do Futebol no Senado e concorre ao governo do Paraná. Apesar de dizer que ""na campanha [sua participação nas investigações" não será utilizada, porque a opinião pública já irá creditá-la a mim", ele explora o assunto na página de abertura de seu site na internet.
E justifica: ""A CPI do Senado só existiu por iniciativa minha, afinal, eu pedi sua instalação. Minha participação e condução dos trabalhos foram fundamentais, por isso merecem atenção especial".
Também é o caso do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que concorre ao governo de Mato Grosso e chegou a pedir a renúncia de Ricardo Teixeira da presidência da CBF.
""Pretendo abordar [na campanha" duas questões principais de minha gestão no Senado. A participação na comissão de ética [que votou a favor do parecer de Saturnino Braga, pedindo a cassação dos mandatos de Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda" e na CPI do Futebol", avisou.
Explicou que acha fundamental ressaltar sua atuação na CPI ""não por ter sido excepcional, mas pelo lado ético, de ter sido digna das tradições do Senado". Em seguida, porém, disse que não quer ser inconsequente ""e usar a camisa da seleção brasileira para ganhar a eleição". ""Não preciso disso."
E nem poderia, acham aqueles que combateram o trabalho das CPIs. Eduardo Viana, presidente da Federação do Rio e um dos investigados que apóiam mais uma candidatura do vascaíno Eurico Miranda à Câmara dos Deputados, diz que as investigações não levaram a nada e só serviram para jogar o dinheiro público no lixo.
"Depois que o Brasil foi penta, eles ficaram com cara de tacho. Apostaram no fracasso da seleção para aparecer como salvadores da pátria e deram com os burros n'água. Se, com o que chamam de desorganização, fomos penta, por que pregar uma pretensa organização?", perguntou.
O deputado Luciano Bivar (PSL-PE), que concorre como suplente ao Senado na chapa de Carlos Wilson, concorda com Viana. Ex-presidente do Sport e atual presidente da Liga do Nordeste, ele acha que, com o penta, a ""bancada da bola", como ficou conhecido o grupo parlamentar de apoio a Ricardo Teixeira, provou que estava com a razão.
"A repercussão internacional da conquista [no Japão" foi muito maior e mais importante do que o trabalho daqueles que quiseram aparecer em cima de quem presta um serviço sério ao futebol brasileiro", afirmou, por intermédio de sua assessoria.
Independentemente da disputa entre os membros da "bancada da bola" e os que defendem o trabalho das CPIs, não serão todos que usarão o futebol para se eleger.
Responsável pelo relatório do Senado, Geraldo Althoff (PFL-SC) não será candidato e diz que vai descansar a partir de janeiro.


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