São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

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FUTEBOL

Jogo político

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Hoje, prefiro assistir à Olimpíada, que não tem monopólio de nenhuma televisão, ao jogo da seleção no Haiti. Já entendo as regras e detalhes técnicos de muitos esportes, até de badminton. Nada mais claro, didático e objetivo do que os comentários sobre basquete do Wlamir Marques, na ESPN Brasil.
A partida no Haiti tem muito mais interesse político do que humanitário e esportivo. Dizer que o jogo tem a finalidade de contribuir para a paz e que o futebol une povos, raças e credos são apenas lugares-comuns.
Em todas as épocas, os governos de todos os países utilizam os esportes, os esportistas e as celebridades para fins políticos. O jogo servirá também para estreitar as relações entre a CBF e o governo. Pelo jeito, nada vai mudar no futebol brasileiro.
Lula, Ricardo Teixeira e Agnelo Queiroz, que estava em Atenas, devem assistir ao jogo. O ministro de Esportes não perde uma festa.

Comparação
Após a primeira convocação dos 18 jogadores para o amistoso no Haiti, ficou evidente que Adriano é o primeiro reserva dos dois Ronaldinhos e do Kaká. Nesse caso, Ronaldinho Gaúcho faria a função do Kaká, e Adriano formaria a dupla com Ronaldo.
Não entendi bem a preferência do Parreira na última convocação de cinco jogadores. Foi uma escolha técnica ou uma conveniência burocrática por causa dos jogos do Campeonato Brasileiro? Será que o técnico prefere Pedrinho e Nilmar, dois bons jogadores, a Robinho? Tudo é possível.
Parreira gosta demais do Edu. O técnico disse que Edu joga um futebol simples e me comparou, nessa característica, com o jogador do Arsenal. Parreira confunde simplicidade com burocracia. Edu é um bom volante, mas joga um futebol mais burocrático do que simples.
Eu tinha vários defeitos, mas com certeza não era um jogador burocrático. Agradeço a boa intenção, porém dispenso a comparação.

É proibido elogiar
Há leitores que só gostam de ler críticas. Se alguém elogia um jogador, técnico ou dirigente, suspeitam de outras intenções. Essa desconfiança é compreensível, pois a troca de agrados e favores é uma prática comum no Brasil. Mas não me coloquem nessa turma.
Recebi críticas por ter elogiado o Zagallo. Elogiei o técnico e o jogador. Não tenho nenhuma admiração especial nem antipatia pelo cidadão Zagallo. Imagino que ele tenha virtudes e defeitos, como a maioria das pessoas.
Zagallo não é apenas um personagem folclórico e engraçado, como alguns querem rotular. Ele teve participação importante em quatro títulos mundiais. Fico incomodado com a injustiça quando dizem que a seleção de 70, por ter vários craques, não precisava de técnico e que o Zagallo foi uma figura decorativa.
Zagallo cometeu também vários erros na sua carreira. Porém, na média, foi um excelente técnico. Na Olimpíada de 1996, contra a Nigéria, ele escalou três volantes para os laterais atacarem. Não podia dar certo, já que a Nigéria tinha dois pontas velozes e habilidosos. Os laterais não avançaram, e os três volantes ficaram muito atrás, sem função. O Brasil foi eliminado.
Antes da Copa de 98, acompanhei de perto durante dois anos os jogos e treinos da seleção e critiquei várias vezes o Zagallo por repetir os mesmos treinos do Mundial de 70. Ele, que tinha sido um inovador, parecia ultrapassado.
Imagino que o Zagallo se atualizara, mas confiava muito mais no que estava na sua memória do que nos novos conhecimentos. Isso é freqüente em todas as atividades. Mesmo bons profissionais se iludem com o fato de as experiências pessoais possam sempre ser repetidas com sucesso. Esquecem que outros, na mesma situação, tiveram experiências totalmente diferentes e que também deram certo.
A verdade é relativa. Após uma grave crise de depressão e humildade, o filósofo grego Sócrates disse: ""Só sei que nada sei".

Dança dos técnicos
Desespero no futebol carioca: Paulo César Gusmão foi pressionado para pedir demissão, e Ricardo Gomes e Mauro Galvão foram dispensados. Não faz diferença. Apesar de o Fluminense ser o melhor time do Rio e fazer uma campanha superior à que se esperava, Ricardo Gomes foi demitido. É sempre assim.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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