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FUTEBOL
Jogo político
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Hoje, prefiro assistir à Olimpíada, que não tem monopólio de nenhuma televisão, ao
jogo da seleção no Haiti. Já entendo as regras e detalhes técnicos de
muitos esportes, até de badminton. Nada mais claro, didático e
objetivo do que os comentários
sobre basquete do Wlamir Marques, na ESPN Brasil.
A partida no Haiti tem muito
mais interesse político do que humanitário e esportivo. Dizer que o
jogo tem a finalidade de contribuir para a paz e que o futebol
une povos, raças e credos são apenas lugares-comuns.
Em todas as épocas, os governos
de todos os países utilizam os esportes, os esportistas e as celebridades para fins políticos. O jogo
servirá também para estreitar as
relações entre a CBF e o governo.
Pelo jeito, nada vai mudar no futebol brasileiro.
Lula, Ricardo Teixeira e Agnelo
Queiroz, que estava em Atenas,
devem assistir ao jogo. O ministro
de Esportes não perde uma festa.
Comparação
Após a primeira convocação dos
18 jogadores para o amistoso no
Haiti, ficou evidente que Adriano
é o primeiro reserva dos dois Ronaldinhos e do Kaká. Nesse caso,
Ronaldinho Gaúcho faria a função do Kaká, e Adriano formaria
a dupla com Ronaldo.
Não entendi bem a preferência
do Parreira na última convocação de cinco jogadores. Foi uma
escolha técnica ou uma conveniência burocrática por causa dos
jogos do Campeonato Brasileiro?
Será que o técnico prefere Pedrinho e Nilmar, dois bons jogadores, a Robinho? Tudo é possível.
Parreira gosta demais do Edu.
O técnico disse que Edu joga um
futebol simples e me comparou,
nessa característica, com o jogador do Arsenal. Parreira confunde simplicidade com burocracia.
Edu é um bom volante, mas joga
um futebol mais burocrático do
que simples.
Eu tinha vários defeitos, mas
com certeza não era um jogador
burocrático. Agradeço a boa intenção, porém dispenso a comparação.
É proibido elogiar
Há leitores que só gostam de ler
críticas. Se alguém elogia um jogador, técnico ou dirigente, suspeitam de outras intenções. Essa
desconfiança é compreensível,
pois a troca de agrados e favores é
uma prática comum no Brasil.
Mas não me coloquem nessa turma.
Recebi críticas por ter elogiado o
Zagallo. Elogiei o técnico e o jogador. Não tenho nenhuma admiração especial nem antipatia pelo
cidadão Zagallo. Imagino que ele
tenha virtudes e defeitos, como a
maioria das pessoas.
Zagallo não é apenas um personagem folclórico e engraçado, como alguns querem rotular. Ele teve participação importante em
quatro títulos mundiais. Fico incomodado com a injustiça quando dizem que a seleção de 70, por
ter vários craques, não precisava
de técnico e que o Zagallo foi uma
figura decorativa.
Zagallo cometeu também vários erros na sua carreira. Porém,
na média, foi um excelente técnico. Na Olimpíada de 1996, contra
a Nigéria, ele escalou três volantes
para os laterais atacarem. Não
podia dar certo, já que a Nigéria
tinha dois pontas velozes e habilidosos. Os laterais não avançaram, e os três volantes ficaram
muito atrás, sem função. O Brasil
foi eliminado.
Antes da Copa de 98, acompanhei de perto durante dois anos os
jogos e treinos da seleção e critiquei várias vezes o Zagallo por repetir os mesmos treinos do Mundial de 70. Ele, que tinha sido um
inovador, parecia ultrapassado.
Imagino que o Zagallo se atualizara, mas confiava muito mais
no que estava na sua memória do
que nos novos conhecimentos. Isso é freqüente em todas as atividades. Mesmo bons profissionais
se iludem com o fato de as experiências pessoais possam sempre
ser repetidas com sucesso. Esquecem que outros, na mesma situação, tiveram experiências totalmente diferentes e que também
deram certo.
A verdade é relativa. Após uma
grave crise de depressão e humildade, o filósofo grego Sócrates disse: ""Só sei que nada sei".
Dança dos técnicos
Desespero no futebol carioca:
Paulo César Gusmão foi pressionado para pedir demissão, e Ricardo Gomes e Mauro Galvão foram dispensados. Não faz diferença. Apesar de o Fluminense ser
o melhor time do Rio e fazer uma
campanha superior à que se esperava, Ricardo Gomes foi demitido. É sempre assim.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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