São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

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Rei da América, Inter quer regar raízes

Após primeiro título internacional, clube gaúcho visa o domínio da torcida na região Sul, rejeitando expansão pelo país

Conquista da Libertadores impulsiona projeto colorado para superar a torcida do Grêmio até 2009, ano em que o Inter faz cem anos


MÁRVIO DOS ANJOS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

No Beira-Rio, antes da decisão da Libertadores entre São Paulo e Internacional, o hino do Rio Grande do Sul foi cantado três vezes. O hino do Brasil foi entoado uma vez.
Simbólica, a predileção sinaliza também a prioridade do novo campeão da América. Na contramão das equipes do eixo Rio-São Paulo, o Inter não pensa na nacionalização. Ao contrário, quer fidelizar seu público regional e, principalmente, ultrapassar o rival Grêmio como a massa mais numerosa.
"Queremos crescer no Sul, regionalizados. O produto futebol vende bem com a emoção, com torcedores próximos", conta o vice-presidente Mário Sérgio Martins Silva. "Os torcedores do Sul são mais consumidores do que os do Nordeste."
Pela pesquisa Datafolha, de maio de 2006, Grêmio e Inter têm empate técnico em torcidas, no Sul e no país. Mas as oscilações mostram tendência de predomínio dos gremistas.
O Grêmio tem 4% na última enquete, contra 3% dos colorados. No Sul, o Inter tem 19%, contra 21% dos rivais.
Esse retrato explica-se pelo jejum de 13 anos de títulos nacionais e internacionais dos colorados. No período, os gremistas ganharam a Libertadores e o Nacional. Em relação ao rival, ainda falta ao Inter um Mundial, que jogará no final do ano.
"Queremos alterar a gangorra, o que fatalmente vai acontecer com mais conquistas. Nosso projeto é virar até 2009, ano do centenário", diz Silva, que prevê crescimento em Santa Catarina e no Paraná.
A diretoria gremista atribui o aumento de sua torcida aos títulos dos anos 80 e 90. Mas não vê efeito do título colorado na Libertadores a curto prazo.
"Acho que isso só pode acontecer a longo prazo", afirma o presidente do Conselho Diretor do Grêmio, Túlio Macedo. Nas finanças, o Inter supera o rival e projeta alavancar mais suas receitas, com a torcida.
O Internacional já atingiu a marca de 42 mil sócios, que não pagam ingressos e geram R$ 1,2 milhão por mês. Dirigentes estudam mudar a fórmula atual.
Há duas opções: a mensalidade vai dobrar ou os sócios terão de pagar uma quantia, com desconto, pelos ingressos. Renovar os contratos de patrocínio, com reajuste de 30%, é outra idéia. "Pretendemos fidelizar mais os sócios", diz o gerente de marketing do time, Edu Pesce Filho.
Neste ano, com o título e a negociação de atletas, a receita do Inter já vai saltar para até R$ 70 milhões, contra uma previsão inicial de R$ 48 milhões.
São números que aproximam o clube das rendas do eixo Rio-SP, em 2005. Dividido por Inter e Grêmio, o Sul é a única região em que Flamengo e Corinthians não dominam.
E, agora, o Inter quer justificar a frase escrita em seu estádio: maior torcida do Sul.
A estratégia colorada contrasta com os planos de várias outras agremiações. Em 2005, o São Paulo lançou projeto para se tornar a maior torcida no Brasil. Ao chegar, Kia Joorabchian, da MSI, dizia que o Corinthians tinha que ser o número 1 do mundo. E o Flamengo sempre enfatizou o caráter nacional de sua torcida.


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