São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007

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Mundial expõe nova geografia do judô

Sem medalhas desde 2003, São Paulo, tradicional centro, vê campeões longe

Sogipa e Minas Tênis, clubes dos medalhistas de ouro, adotam estratégias opostas para conduzir seus atletas ao sucesso internacional

Vanderlei Almeida/France Presse
Tiago Camilo e o troféu de melhor judoca do Mundial


LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

São Paulo está para o judô brasileiro assim como o Japão está para o internacional. E, tal qual o país inventor da modalidade, que conseguiu títulos do Campeonato Mundial apenas no último dia e só ficou à frente no quadro de medalhas graças ao desempenho em categorias não-olímpicas, os atletas que treinam em SP acabaram ofuscados no certame do Rio.
Os quatro medalhistas do time masculino e as duas judocas consideradas pela comissão técnica os destaques entre as mulheres treinam fora do Estado que tem o maior número de praticantes no país e de onde saíram 11 das 12 medalhas olímpicas obtidas pelo Brasil.
O caso mais emblemático é de Tiago Camilo, 25, campeão mundial do meio-médio (até 81 kg) e eleito o melhor judoca do torneio, que ressurgiu na modalidade ao trocar SP -que não tem medalhistas em Mundiais desde 2003- por Porto Alegre.
"Não sei se o Tiago estava meio largado lá em São Paulo. Mas, certamente, a chegada dele à Sogipa foi muito boa, tanto para mim quanto para ele", afirmou, após conquistar o ouro no Rio, o bicampeão mundial João Derly (até 66 kg), que, em fevereiro de 2006, recebeu a companhia de Camilo no clube.
Além dos dois, a equipe conta com a leve (até 70 kg) Mayra Aguiar, 16. A vice-campeã do Pan era a sparring de Derly até a chegada de Camilo e seu irmão ao clube. No Mundial do Rio, mais uma vez, a atleta que ainda é faixa marrom foi bastante elogiada pelos técnicos.
O outro centro que brilhou neste Mundial foi o Minas Tênis, onde treinam o campeão mundial meio-pesado (até 100 kg) Luciano Corrêa e a meio-leve (até 52 kg) Érika Miranda, 20, única representante feminina já confirmada como titular na Olimpíada de Pequim, pelo quinto lugar no Mundial.
Sogipa e Minas adotaram métodos quase opostos para atingir o sucesso. Enquanto os gaúchos conduzem o departamento de judô em função dos atletas da seleção, os mineiros adotam um programa -quase uma concentração permanente- para o time competitivo.
"Já fui criticado por isso no clube, mas nunca escondi que os treinos são definidos e orientados de acordo com o cronograma dos judocas da seleção. Acho que tem dado certo. A Mayra mostra que os outros podem ir longe também nesse sistema", conta Antônio Carlos Pereira, técnico da Sogipa.
Floriano Almeida, do Minas, tem visão oposta. "Acho que, se o Minas tivesse esse modelo, o Luciano [Corrêa] não teria sido campeão mundial. Ele melhorou muito tecnicamente desde sua chegada ao clube [em 2000]. Isso não teria ocorrido se o foco do trabalho estivesse em outros atletas."
Ex-técnico da seleção feminina, Almeida atribui o êxito dos atletas do clube no Mundial ao fato de os integrantes da equipe de judô conviverem juntos -e sob o olhar do estafe do clube- até em horas de lazer.
Enquanto ele consegue dar dois treinos diariamente com os judocas, em São Paulo, há atletas que lutam por um clube mas só conseguem treinar lá duas vezes por semana, por morarem longe. "Aí dificulta. Como dizem em BH, cachorro que tem dois donos morre de fome", argumenta Almeida.


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