São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SONINHA

Feio e bonito

Defender-se bem não é, necessariamente, sinônimo de jogo feio. Aliás, para mim, feio é defender-se mal

UM AMIGO meu, desses rabugentos divertidos, resmunga toda vez que o narrador de uma partida começa a enumerar dados históricos do confronto -o inevitável ""retrospecto".
"Pra que serve isso? É só pra encher o tempo. Duvido que alguém se interesse", reclama ele.
De fato, às vezes damos uma importância tremenda a números completamente inúteis.
"Há cinqüenta anos o visitante não vence neste estádio!".
Como o Antero Grecco gosta de observar, a esse período correspondem, às vezes, não mais do que quatro partidas... Se bobear, somando três empates e uma derrota!
Sem falar que, exceto pelo possível efeito psicológico sobre os jogadores -nem sempre desprezível, é verdade- os que estão em campo agora não têm nadica a ver com a goleada sofrida em 1958, ou a desclassificação na semifinal de 1974.
Mas alguns números, antigos ou recentes, têm sua utilidade.
Ajudam a entender melhor uma situação ou, no mínimo, dão material para reflexão. Durante a transmissão de São Paulo x Santos, Milton Leite lembrou que o líder havia disputado a partida mais faltosa do campeonato até ali -o empate sem gols contra o Atlético Mineiro. E também a menos faltosa (quando fez 6 x 0 no Paraná).
Se ele desse apenas uma dessas informações, concluiríamos que ""o São Paulo chegou a essa posição porque bate muito", ou o contrário -""isso é que é sistema defensivo inteligente!". De posse das duas, fica mais fácil perceber que o São Paulo teve bons e maus momentos no quesito lealdade.
Quando marca muito bem, começando pelo combate dos homens de frente, passando pela perseguição implacável no meio campo e terminando com a cobertura precisa na zaga (nem cheguei ao Rogério Ceni!), não precisa bater, não (se é que alguém realmente ""precisa"). Apertado, desarmado, com os espaços fechados e seus movimentos antecipados, o adversário não consegue ficar com a bola. E o São Paulo, que sabe o que fazer sem ela, sabe como lhe dar um bom destino. Ora com velocidade, ora com paciência. Com força e categoria, confiança e esforço.
Mas também há dias em que se defende feio, especialmente quando encontra um destaque individual, um jogador mais habilidoso e inspirado -o coitado apanha.
É por causa de partidas assim que os analistas lamentam: ""Esse é o melhor do futebol brasileiro no momento? Tsc, tsc". E criticam a preferência da defesa sobre o ataque, o anti-jogo, o diabo. Com razão na queixa -mas não na generalização.
O líder se destaca pela eficácia na defesa, jogando bonito ou jogando feio. E às vezes nem faz gol, como no primeiro tempo de sábado, e dá espetáculo. Atacando em blitz, a máquina são-paulina parou o Santos, que, atarantado, no máximo anotou a placa.
Ainda no terreno dos números -o América, um dos piores times dos últimos tempos, lidera em cartões amarelos. Mesmo descontando possíveis erros de arbitragem, fica evidente que descer a ripa não é solução (há quem creia nisso!).
Aliás, tanto cartão é sinal de desacerto e só piora a situação - uma rima pobre para um futebol idem.


soninha.folha@uol.com.br

Texto Anterior: São Paulo: Rivalidade com algoz motiva jogadores na Sul-Americana
Próximo Texto: Mundial expõe nova geografia do judô
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.